Atualizada às 17h07
Com a indicação pelo governador Paulo Câmara (PSB) para assumir a Secretaria de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco, o prefeito do Recife Geraldo Julio (PSB) terá um importante cargo em uma pasta responsável por muitas entregas e com capilaridade em todos os municípios pernambucanos. A sua ida para a gestão estadual possibilita um maior diálogo tanto com os prefeitos com o conjunto do seu partido, o que pode alavancar um eventual projeto para 2022, já que ele é apontado como principal nome para disputar a sucessão de Paulo nas próximas eleições.
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Os socialistas negam uma relação direta entre a nomeação e uma candidatura a governador. "Hoje ele já é alguém que é um dos nomes considerados a ser o nosso candidato a governador, não lhe faltam atributos para isso. Se a passagem para a secretaria fortalece essa possibilidade, isso não é o objetivo nem do governador nem dele. Acho que a gente tem que viver os momentos eleitorais, como vivemos agora há pouco com intensidade, a energia própria do momento, mas nem tudo é eleição nem projeto eleitoral", afirmou o deputado federal Tadeu Alencar (PSB).
O líder da bancada de governo na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), Isaltino Nascimento (PSB) não fala em candidatura, mas coloca o futuro cargo como necessário para a articulação política do PSB no estado nos próximos anos. "O trabalho da gestão do grupo político capitaneado pelo PSB a partir de 2007 se mostrou eficiente e eficaz nas suas propostas e nos resultados, tanto na gestão do recife, nas gestões das alianças municipais como nas entregas. O trabalho de Geraldo Julio será importante nesse processo de aliança e cumprimento dos acordos não só internos do partido como partidos aliados e segmentos com relação política com o PSB", projetou Isaltino.
Os aliados são só elogios à nomeação de Geraldo e o classificam como competente para o cargo devido a sua experiência na gestão e a sua contribuição para o projeto político do PSB. Ele já foi secretário da mesma pasta de Desenvolvimento Econômico e também de Planejamento no governo de Eduardo Campos. Formado em administração e servidor do Tribunal de Contas de Pernambuco (TCE-PE), ele concluiu agora oito anos à frente da Prefeitura do Recife.
Para Tadeu Alencar, o fato de Geraldo ter sido testado em diversas funções públicas o credenciam para continuar participando das gestões do PSB no estado. "Seria um desperdício alguém com o seu talento administrativo, capacidade de gestão, experiência não poder continuar contribuindo. É uma consequência natural da sua vida pública. O governador faz muito bem em integrar ao seu secretariado alguém que tem capacidade técnica e identidade com o projeto politico que governa o estado desde 2007 e só posso ver com alegria Geraldo continuar ajudando a Pernambuco", disse Tadeu.
"Geraldo é um quadro valoroso, competente, fez uma excelente gestão como prefeito, fez um trabalho magnifico como secretario da gestão Eduardo campos e certamente vai aprimorar o trabalho feito por Bruno Schwambach", afirma Isaltino Nascimento.
Mas da oposição, vem as críticas. Oposicionistas dizem ver com estranheza a saída imediata da prefeitura e entrada em uma secretaria estadual. Geraldo deve tomar posse como secretário em janeiro.
A deputada estadual Priscila Krause (DEM) fez uma postagem nas redes sociais em que diz que a nomeação de Geraldo "parece uma operação emergencial" para não deixar o prefeito sem cargo.
"Chama o Bessias! Nem 1 minuto sem cargo público. Parecendo operação emergencial, Geraldo Julio desce às 23h59 do 9º andar da Prefeitura e assume imediatamente, às 0h desta sexta, o cargo de secretário de Estado. É 'pegado no serviço' que eles chamam, né? Aviso aos navegantes: tb (sic) seguimos trabalhando e fiscalizando", afirmou Priscila.
Priscila Krause faz referência a Jorge Bessias, apontado pela então presidente Dilma Roussef (PT) - em telefonema interceptado pela Operação Lava Jato entre ela e o ex-presidente Lula (PT) - como portador do termo de posse de ministro da Casa Civil para ser utilizado pelo petista "em caso de necessidade".
Lula chegou a ser anunciado como ministro da Casa Civil do governo Dilma em 2016, mas a nomeação foi vetada pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na liminar concedida pelo ministro Gilmar Mendes, ele alegou que o ex-presidente teria intenção de fraudar investigações da Lava Jato sobre ele. Caso se tornasse ministro, ele passaria a ter foro privilegiado, e todas os processos contra ele seguiriam para o STF.
No ano de 2020, a Prefeitura do Recife foi alvo de sete operações da Polícia Federal que investigam supostas irregularidades na compra de equipamentos e insumos para o combate a pandemia da covid-19.
O ex-ministro da Educação Mendonça Filho (DEM) também fez uma crítica nesta linha. Ele diz que a nomeação traz estranheza pela "conveniência" em não ficar sem cargo público. "Além do projeto de perpetuação no poder, fica a pergunta: será que Geraldo quer se manter com foro privilegiado? É bom não esquecer as sete operações da Polícia Federal na Prefeitura do Recife durante gestão Geraldo Júlio/PSB para apurar denúncias de corrupção com dinheiro da saúde", disse Mendonça.
A saída de Geraldo Júlio da Prefeitura do Recife direto para uma secretaria estadual causa estranheza pela "conveniência" em não ficar um dia sem cargo público. Além do projeto de perpetuação no poder, fica a pergunta: será que Geraldo quer se manter com foro privilegiado?
— Mendonça Filho (@mendoncafilho) December 31, 2020
Ele lembra que o campo político da esquerda vai completar 24 anos no comando da Prefeitura do Recife, somando-se as gestões petistas de João Paulo (PCdoB; prefeito pelo PT) e João da Costa (PT) e socialistas de Geraldo Julio e contando também com o primeiro mandato de João Campos (PSB), que só deve se encerrar em 2024. "No Governo do Estado serão 16 anos. Um projeto de domínio do Estado por um grupo político a serviço de uma família. Continuamos vigilantes defendendo os interesses do Recife e de Pernambuco", completou Mendonça.
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Acomodação
O anúncio veio no último dia de Geraldo na Prefeitura do Recife. Antes disso, chegou a ser cogitada a sua ida para a Secretaria de Educação - o atual secretário, Fred Amâncio, assumiu a pasta da Prefeitura do Recife - Casa Civil, Planejamento e até mesmo para a presidência estadual do PSB. O cálculo seria para encontrar um cargo que ao mesmo tempo mantivesse Geraldo em evidência, mas que não desgastasse a sua imagem.
O comando da Casa Civil, responsável pela articulação política do governo, com os prefeitos, lideranças e em especial com os deputados estaduais, traz para si o ônus de ter que negar muitos pedidos desses atores políticos, pelas limitações impostas à gestão. No caso da pasta de Educação, apesar de administrar muitos recursos, o empecilho seriam comparações que poderiam ser feitas entre as entregas de Geraldo - com pouco tempo para mostrar trabalho - e do antecessor na pasta, Fred Amâncio, que tem papel reconhecido no governo, diz um governista em reserva. A Secretaria de Desenvolvimento Econômico seria, portanto, a melhor acomodação para Geraldo.
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