O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) chamou uma jornalista da TV Aratu de "idiota" depois que ela fez uma pergunta sobre a foto que ele tirou segurando uma imagem escrita CPF cancelado, no fim de semana. Bolsonaro veio a Feira de Santana nesta segunda-feira (26) para inauguração de um trecho da BR-101.
"O senhor foi criticado sobre uma foto postada dizendo 'CPF cancelado' num momento que tantas pessoas morreram. O que senhor tem a dizer sobre isso?", questiona Driele Veiga. "Você não tem o que perguntar não? Deixa de ser idiota", rebate Bolsonaro. "O presidente agredindo a repórter verbalmente", diz a jornalista para o apresentador Casemiro Neto. "Acabou de me chamar inclusive de idiota por conta de uma pergunta a respeito de uma foto publicada por ele, que ele recebeu muitas críticas por conta do momento que a gente vive com mais de 300 mil pessoas mortas (por covid)".
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Em nota, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado da Bahia (Sinjorba) lamentou o comportamento do presidente, repudiando o fato dele chamar a repórter de idiota "somente por estar exercendo seu ofício que é entrevistar aquele investido em cargo público". Presidente da entidade, Moacy Neves afirmou que o xingamento revela uma faceta imatura e autoritária de Bolsonaro, que teria dificuldade em convier com a crítica e o contraditório.
“É comum que pessoas imaturas e políticos autoritários ajam com grosseria, falta de educação e violência quando confrontados com seus erros e irresponsabilidades, aumentando o grau de irracionalidade quando se tratar de um homem e do outro lado estiverem as mulheres”, diz ele. “A maior autoridade do país não pode incentivar desrespeito aos direitos humanos e nem agir com grosseria com a imprensa, que é os olhos e a forma de comunicação entre os poderes e a sociedade”, acrescenta.
A jornalista usou as redes sociais para se manifestar. "Uma mulher em pleno exercício da função ser chamada de idiota por um presidente da república, é um fato a se lamentar. Como disse o filósofo Nietzsche “O poder embrutece”. A autoridade representou no xingamento uma sociedade com uma estrutura ainda sexista e patriarcal em que homens acham que vão conseguir intimidar uma mulher com agressão verbal e/ou atitude desrespeitosa. A mim o xingamento não ofendeu. Só mostrou que estava no caminho certo. Sou jornalista e estou aqui para perguntar, por mais que a indagação incomode. Se fosse para agradar o entrevistado eu não seria jornalista e sim publicitária", escreveu.
Ex-prefeito de Salvador e presidente nacional do Democratas, ACM Neto, também criticou a postura de Bolsonaro. "Quero me solidarizar com a jornalista Driele Veiga, a quem conheço bem e sei da seriedade, competência e educação. É fundamental que, em uma democracia, o presidente da República compreenda e respeite o papel da imprensa", disse Neto.
O governador Rui Costa foi outro a criticar Bolsonaro. "Ao invés de trabalhar, ele ataca governadores, ameaça as instituições, provoca aglomerações, despreza as vacinas. E continua agredindo jornalista. Lamentável. Minha solidariedade a Driele Veiga e a todos os jornalistas que têm convivido com essa rotina de ofensas do presidente", escreveu, nas redes sociais.
A Associação Baiana de Imprensa (ABI) divulgou nota dizendo que a mera esquiva à pergunta já seria "incompatível com o exercício da Presidência da República". "Agrava a conduta inconciliável com o decoro que se espera de quem tenha a honra de ser escolhido pela maioria do povo brasileiro, a assediosa agressão verbal contra a jornalista".
CPF cancelado
Bolsonaro posou para fotos exibindo um cartaz com a mensagem "CPF cancelado" na sexta-feira (23), em Manaus, ao lado de várias pessoas, incluindo o apresentador Sikêra Júnior, que tornou a expressão popular. A frase geralmente é usada para se referir a suspeitos mortos pela polícia.
Na ocasião, Bolsonaro foi criticado pela falta de sensibilidade de tirar uma foto com essa imagem em um momento com tantas mortes no país. A própria expressão também é alvo de críticas.