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Queiroga procurou proteger Bolsonaro na CPI da Covid; não há autonomia no Ministério da Saúde, diz senador

O líder da Oposição no Senado e vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues, disse que o ministro da Saúde, ouvido pela segunda vez nesta terça-feira (8), utilizou-se de todos os meios para proteger o presidente

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Estadão Conteúdo, Agência Senado

Publicado em 08/06/2021 às 19:28 | Atualizado em 08/06/2021 às 19:38
O ministro foi ouvido novamente nesta terça-feira (8) - EVARISTO SA / AFP

O líder da Oposição no Senado e vice-presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), avalia que a participação do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, na comissão ocorreu sob "sério constrangimento" nesta terça-feira (8). Segundo o senador, Queiroga utilizou-se de todos os meios para proteger o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido). "Lamentavelmente não existe autonomia no Ministério da Saúde", completou.

Para Randolfe, o ministro, nesta terça-feira (8), esteve "sob maior pressão e mais irritado". "Rogo a Deus para que ele fique mais um tempo no Ministério da Saúde. Pelo menos ele não é negacionista, mas pela segunda vez que vi o ministro, mais convencido estou de que não existia um gabinete paralelo, mas sim existe um gabinete paralelo", afirmou o senador.

"Em alguns momentos esse constrangimento o faz incorrer em atos falhos, como foi o caso, ao ver as imagens dos atos antissanitários do presidente da República, de declarar que 'as imagens falam por si só'", afirmou Randolfe.

O ministro da Saúde afirmou que a meta é vacinar toda a população adulta do país, ou seja, 160 milhões de pessoas, até dezembro. Mas os senadores questionaram o ritmo da vacinação, lembrando que para isso seria necessário vacinar mais de um milhão de pessoas por dia a partir desta quarta-feira (9).

A meta, segundo Queiroga, será alcançada com aquisição de mais 100 milhões de doses da Pfizer, que permitirá ao país totalizar a compra de mais de 600 milhões de doses. Ainda segundo Queiroga, a expectativa é entregar 40 milhões de doses de vacinas contra covid-19 neste mês e antecipar parte das 38 milhões de doses do laboratório Janssen. Ele admitiu, contudo, que pode haver dificuldade na produção dos imunizantes em julho e agosto.

"A dificuldade de entrega se deve ao IFA originário da China. Isso é um problema mundial, não é só do Brasil. Nós conseguimos recuperar alguns atrasos do Covax Facility, mas, como temos uma compra de 200 milhões de doses da vacina Pfizer, e esse acordo entre a farmacêutica tem sido cumprido à risca, então já temos mais de 600 milhões de doses contratualizadas, temos a certeza de que, até o final do ano, a população brasileira acima de 18 anos será vacinada", disse Queiroga nesta terça-feira (8).

Randolfe Rodrigues e o relator, Renan Calheiros (MDB-AL), ponderaram que para alcançar a meta anunciada por Queiroga, de imunizar a população com 18 anos ou mais até o fim de 2021, seria necessário vacinar, em média, mais de 1 milhão de pessoas por dia. A média atual gira em torno de 500 mil a 600 mil imunizados em 24 horas. E para um Natal sem covid, a meta teria que ser cumprida até o final de outubro ou início de novembro, com uma a vacinação de 2,5 milhões de pessoas por dia.

Em resposta, Marcelo Queiroga afirmou que o país tem capacidade de vacinar esse número de pessoas, mas que depende da chegada e produção de vacinas.

"Depende do volume de doses que nós tivermos disponíveis. Inclusive atingimos a meta de um milhão por dia e isso caiu. Por que caiu? Primeiro porque se usaram todas as doses, sobretudo de CoronaVac, como D1 e depois houve problemas com o IFA oriundo da China e faltou D2. Estamos segurando a D2 para não faltar a D2 depois", disse.

Renan Calheiros observou que, sendo mantido o atual ritmo, a imunização de maiores de 18 anos somente seria completada em fevereiro de 2024.

Queiroga respondeu que há uma expectativa de um volume grande de vacinas no segundo semestre. Ele confirmou ainda um acordo com Moderna para o envio 100 milhões de doses em 2022 e disse que a produção pela Fiocruz vai acelerar, mas admitiu a Randolfe Rodrigues ainda não ter "estratégia tão clara" para vacinação no ano que vem. Segundo o ministro, "muito provavelmente" será necessário dar uma dose de reforço da vacina contra o coronavírus em 2022.

"Muito provavelmente vamos precisar vacinar. Qual é a estratégia? Eu pessoalmente ainda não tenho ela tão clara para mim, mas já autorizamos e já está na iminência de ser firmado com a Moderna 100 milhões. Além disso, nós vamos ter autonomia do nosso parque e da Fiocruz para produzir vacinas e não vai haver esse retardo do IFA. Com outras farmacêuticas nós podemos trabalhar, como o próprio Instituto Butantan. O ano que vem será um ano em que a própria indústria farmacêutica vai produzir mais", afirmou.

Diante do cronograma apresentado, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) apontou que as estimativas do Ministério da Saúde já foram alteradas várias vezes.

"Esse cronograma já foi frustrado um milhão de vezes, via de regra, exatamente por causa da falta de vacina", disse o senador, cobrando a compra, desde já, das 30 milhões de doses para vacinação da população nos próximos meses.

O presidente da CPI, senador Omar Aziz (PSD-AM), também ressaltou que o Brasil já poderia ter imunizado um número muito maior de brasileiros se o governo federal não tivesse recusado vacinas, como fez no ano passado.

"Em dezembro do ano passado, nós poderíamos ter 130 milhões de vacinas contratadas. Esta CPI já provou que o Governo não quis comprar a vacina. E a gente não pode chegar aqui e crucificar porque há uma mudança de pensamento no Ministério da Saúde da água para o vinho, mas uma coisa não mudou: a proteção de quem é negacionista. Todos que vêm aqui protegem o negacionismo", criticou.

Bulas das vacinas

Durante a reunião, Queiroga foi questionado pelo senador Otto Alencar (PSD-BA) sobre as bulas das vacinas que tiveram uso autorizado em território nacional. Queiroga admitiu não ter lido e Otto, que é também médico, disse que seria da responsabilidade de Queiroga ler as bulas por ser ele o gestor da saúde nacional. A afirmação gerou uma discussão entre os dois.

Como justificativa, Queiroga disse que "distribuiu 70 milhões de doses" no país e não aceitaria que isso fosse desqualificado. Para Otto, o ministro promove uma "pseudovacinação" por falta de conhecimento.

Ao responder à senadora Soraya Thronicke (PSL-MS), o ministro também fez um apelo para que os brasileiros não negligenciem a segunda dose da vacina. Isso porque, segundo dados do ministério, 4,4 milhões deixaram de tomar a 2ª dose.

Número de mortes por covid-19

Em resposta aos senadores Marcos Rogério (DEM-RO) e Randolfe Rodrigues, o ministro confirmou as mais de 474 mil mortes oficialmente registradas por covid-19, ao contrário do que disse o presidente da República, Jair Bolsonaro, segundo o qual “em torno de 50% dos óbitos por covid não foram de covid” com base em um relatório falso do Tribunal de Contas da União. O TCU desmentiu o presidente e afirmou que não há relatório apontando supernotificação de casos. Posteriormente, o presidente admitiu que errou ao citar o relatório.

Segundo Marcelo Queiroga, o aumento de mortes no Brasil no ano passado se deve principalmente à covid-19. Ele disse que está atento a possíveis casos de supernotificação.

"Do ano de 2019 para o ano de 2020, houve aumento de óbitos no Brasil, e a principal causa desse aumento de óbitos é, sem dúvida, a covid-19. Não tenho dúvida disso", declarou.


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