Entrevista

Ex-ministro da Defesa, Aldo Rebelo diz que atrito entre Senado e Forças Armadas não faz bem ao país e critica postura de Bolsonaro

Para Aldo, as Forças não possuem envolvimentos com mal feitos no Ministério da Saúde, assim como Omar Aziz não quis ofender a instituição

Cadastrado por

Cássio Oliveira

Publicado em 08/07/2021 às 11:01 | Atualizado em 08/07/2021 às 13:43
Aldo Rebelo foi ministro de Lula e de Dilma - Bobby Fabisak / JC Imagem

Ex-ministro da Defesa no Governo Dilma Rousseff (PT), Aldo Rebelo diz que o mal-estar entre Senado Federal e Forças Armadas só prejudica o Brasil. O político concedeu entrevista à Rádio Jornal, nesta quinta-feira (8), e comentou o entrevero envolvendo o presidente da CPI da Covid, senador Omar Aziz (PSD-AM). e os comandantes das Forças.

Nessa quarta-feira (7), Omar afirmou que os "bons" das Forças Armadas deviam estar "muito envergonhados" com alguns dos convocados à comissão, como o ex-ministro da Saúde general Eduardo Pazuello e o ex-secretário-executivo da pasta coronel Elcio Franco. Após a declaração, o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, e os comandantes das Forças Armadas emitiram nota conjunta com críticas a Aziz. Para eles, o presidente da CPI desrespeitou as Forças Armadas ao, supostamente, generalizar envolvimento de integrantes dessas instituições em esquemas de corrupção. "As Forças Armadas não aceitarão qualquer ataque leviano às instituições que defendem a democracia e a liberdade do povo brasileiro", diz trecho do texto.

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Para Aldo Rebelo, a origem do problema está na falta de uma distinção clara entre militar da ativa e da reserva. "O militar na reserva não tem vinculo, é quase civil, é subordinado à autoridade civil, mas o problema é que continua usando a patente, é general, capitão, coronel. Pazuello estava na ativa e há outros que não se sabe se estão ou não. Então, quando são acusados, a impressão é de envolvimento das Forças Armadas, o que não é verdade. As Forças Armadas nada têm nada a ver com mal feitos no Ministério da Saúde ou outros investigados, mas fica a referência da confusão", comentou.

Na visão do ex-ministro, Omar Aziz não teve a intenção de acusar as Forças Armadas como instituição. "O envolvimento de militares está sendo apontado pelos ouvidos na CPI. Então, o episodio só gera mais desgaste às instituições, não aproxima de uma solução da pandemia. A resposta via nota desencadeou outro movimento de crítica na imprensa, no Senado, na Câmara. É um festival de desentendimentos, nem as Forças estão envolvidas como nem o senador quis acusar a instituição", disse Aldo.

Jair Bolsonaro

A postura do presidente Jair Bolsonaro em relação às Forças Armadas também incomoda Aldo Rebelo. Na avaliação do ex-ministro, o problema não está na presença das Forças em governos, mas a tentativa de uso político da instituição. "Vejo a tentativa de uso dessas instituições, do prestígio da imagem positiva, por parte do presidente. Daí, a oposição acha que as Forças Armadas têm lado, que defendem posição política, a confusão não tem limites. Por isso, é importante o esforço em mostrar que as Forças não são partido politico, que possuem posição de Estado, que pode servir ao governo como instituição de estado e não segmento partidário. Mas, sei que não é fácil fazer, é fácil dizer como digo; gera desgaste", destacou.

Aldo lembra a determinação de Bolsonaro para mudar os comandos das Forças Armadas, em março passado. Para ele, os comandantes tentaram fazer a separação da imagem das Forças Armadas da política e, por isso, teriam sido retirados de seus postos. Na ocasião citada por Aldo, a demissão de Fernando Azevedo e Silva do Ministério da Defesa gerou desconforto no Exército, Marinha e Aeronáutica.

Os comandantes tinham uma preocupação: reforçar a mensagem pública de Azevedo e Silva do papel das Forças Armadas como instituições de Estado. Bolsonaro estaria insatisfeito com o então comandante do Exército, Edson Pujol, que sempre foi rígido na defesa de que o Exército não deve e não pode fazer declarações políticas, nem de apoio nem de críticas a governos. Pujol defendia também que militares da ativa não devem entrar na política – o que teria desagradado o presidente.

Alinhados a Pujol, o almirante de esquadra Ilques Barbosa, da Marinha, e o brigadeiro Antonio Carlos Bermudez, da Aeronáutica, decidiram entregar os cargos. Bolsonaro, então, decidiu se antecipar ao movimento e fez a substituição dos comandos.

Rodrigo Pacheco

Depois da nota das Forças Armadas, o senador Omar Aziz disse que o texto foi "desproporcional" e que tentou intimidar os parlamentares por conta da prisão do ex-diretor do Ministério da Saúde Roberto Dias. No Plenário do Senado, o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (DEM), tentou apaziguar, destacando a importância dos órgãos militares e da CPI.

"Quero externar aqui a mais absoluta expectativa, desejo e confiança de que a Comissão Parlamentar de Inquérito presidida pelo nobre colega senador Omar Aziz, com todos os membros que ali estão, possa se desincumbir do papel relevante de apuração de responsabilidades que constitui a agenda em si, a razão de ser de uma Comissão Parlamentar de Inquérito", disse o presidente do Senado. "Quero aqui deixar o registro de respeito às Forças Armadas do Brasil para que não paire a menor dúvida em relação ao que é o sentimento do Senado da República em relação às Forças Armadas", prosseguiu.

Aziz, em seguida, cobrou uma postura mais firme de Pacheco para defender os membros da Casa. "A nota é desproporcional, muito desproporcional. Vossa Excelência, como presidente do Senado, deveria dizer isso no seu discurso. Eu sou um membro dessa Casa. Eu não aceito que intimide um senador da república. Era isso que eu esperava da Vossa Excelência", disparou o presidente da CPI.

Na entrevista à Rádio Jornal, Aldo Rebelo também disse que a postura de Pacheco poderia ter sido outra. "O presidente tentou colocar panos quentes para aplacar a ira do Comando da Defesa, mas deveria dizer que: aqui ninguém ganha no grito, nem as Forças serão ofendias na sua honra, nem seus possíveis integrantes que cometem erros estão acima da lei", concluiu.

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