PRISÃO

Veja quem é Rodrigo Pilha, militante preso em ato contra Bolsonaro que iniciou greve de fome

Ativista foi detido em março durante protesto em Brasília por levantar uma faixa em que chamava o presidente Jair Bolsonaro de "genocida"

Cadastrado por

Katarina Moraes

Publicado em 10/07/2021 às 10:22
Rodrigo Pilha, como é conhecido Rodrigo Grassi - DIVULGAÇÃO

O militante Rodrigo Pilha, preso desde de março, decidiu entrar em greve de fome às 18h30 dessa sexta-feira (9) "sem data para acabar". Segundo ele, o ato é de protesto contra o "autoritarismo policial e judicial". Ele foi detido durante um protesto em Brasília por levantar uma faixa em que chamava o presidente Jair Bolsonaro de "genocida".

“Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar ,conceder entrevistas, e agora me mantém preso, mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF,por conta do autoritarismo policial e judicial”, afirma Pilha em carta aberta.

Na última terça-feira (6), o ativista teve pedido de progressão de pena ao regime aberto concedido pelo juiz Bruno Aielo Macacar. Com a decisão, era esperado que Pilha fosse solto ainda nas horas seguintes, o que não aconteceu.

Segundo informações do UOL, Rodrigo Pilha, como é conhecido Rodrigo Grassi, é filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT). Na Praça dos Três Poderes, ele e mais quatro pessoas levantaram uma faixa com os dizeres: Bolsonaro Genocida. O grupo foi detido pela Polícia Federal com base na Lei de Segurança Nacional (LSN) e solto no mesmo dia, após 6 horas na delegacia - menos Pilha. 

Por causa de uma condenação em um processo de 2014 por desacato, no dia seguinte ao protesto, em 19 de março, ele foi levado ao Complexo Penitenciário da Papuda, onde se encontra no Centro de Detenção Provisória II (CDP II). De acordo com o portal, a Polícia o teria procurado para intimação, mas não o encontrou no endereço na ocasião, pois ele tinha se mudado.

Desde então, políticos, entidades e pessoas públicas se pronunciam pedindo pela sua soltura. 

Segunda feira vou visitar o Rodrigo Pilha na prisão. Uma prisão arbitrária.

— Paulo Teixeira (@pauloteixeira13) July 10, 2021

Leia a íntegra da carta

Brasília, 9 de julho de 2021

Queridos familiares e amigos, após refletir bastante na última madrugada de cárcere, decidi que inicio a partir de hoje uma greve de fome sem data para acabar.

Tendo em vista que o Judiciário segue me proibindo de falar ,conceder entrevistas, e agora me mantém preso, mesmo eu tendo conquistado o direito ao regime aberto, optei por usar meu corpo e a resistência pacífica para protestar contra estes e diversos outros absurdos que seguem ocorrendo no sistema penitenciário do DF, por conta do autoritarismo policial e judicial.

Bem mais que não desejar comer aquela lavagem que chamam de comida, entregue aos apenados, lá naquela espécie de campo de concentração contemporâneo chamado de “Galpão” , minha greve de fome tem o intuito de denunciar e chamar a atenção da sociedade para os maus-tratos, as péssimas condições de cumprimento de pena e toda a sorte de violações de direitos humanos que continuam a ocorrer dentro do sistema prisional do DF, sob a vista grossa de um Judiciário que muitas vezes lava as mãos, passa o pano e acaba sendo conivente com tais atrocidades.

Ameaças de castigo e agressão, xingamentos e maus tratos por parte de policiais penais, seguem ocorrendo, e inquirições de apenados SEM a presença da defesa (fato que só comigo , já ocorreu em três oportunidades),são práticas corriqueiras.

As celas e alas seguem hiper lotadas, com pessoas dormindo por cima das outras, e até no chão sujo em meio a baratas e escorpiões.

O banheiro mais parece uma pocilga e os banhos de sol são de meia hora apenas.

Castigos excessivos e por razões banais, com o mero intuito de causar a regressão penal dos presos, acabam por institucionalizar a tortura psicológica por parte do estado no cotidiano dos presídios.

A diretoria penitenciária de operações especiais (DPOE) é acusada de espancamentos gratuitos , mutilações e até de ser responsável pela morte de presos após a prática do procedimento chamado de “extração” ou “guindar” apenados.

Por fim, sei dos riscos que corro, mas estou convicto de que minha greve de fome é o mais acertado a se fazer neste momento, para trazer luz ao terror existente nos presídios do DF, e , lhes garanto que as mazelas do sistema prisional são bem mais radicais e maléficas à vida das pessoas do que a atitude que hoje adoto como forma de protesto.

Ante ao exposto e já que não me deixam falar, peço que FALEM POR MIM e divulguem ao máximo esta carta-denúncia,afim de que o maior número de pessoas saibam da barbárie que hoje impera no sistema prisional do DF.
“… podem me prender, podem me bater,podem até me deixar sem comer, que eu não mudo de opinião…”

Com os versos de protesto do sambista idealizador da “Voz do morro”, Zé Keti, me despeço agradecendo a todas e todos por todo apoio e carinho recebidos até aqui.

Um forte abraço e hasta la Victoria siempre!!!

Com carinho,
Rodrigo Pilha

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