ACPI da Covid vai colher dois depoimentos nesta quinta-feira, 7. O primeiro a ser ouvido será Tadeu Frederico Andrade, cliente da Prevent Senior. O pedido para ouvir o advogado, na condição de testemunha, partiu do senador Humberto Costa (PT-PE).
Em seu requerimento, o parlamentar relata que Tadeu Frederico de Andrade contou ter sido infectado pela Covid-19 no Natal e, por telemedicina na Prevent Senior, foi-lhe receitado o "kit covid". Seguindo a prescrição, Andrade tomou a medicação, mas seu quadro clínico se agravou, necessitando de internação em unidade de tratamento intensivo (UTI).
Em reportagem publicada pela BBC Brasil News Brasil, o ex-paciente disse que seus primeiros sintomas de Covid-19 apareceram em 24 de dezembro passado, segundo ele. No dia seguinte, fez uma teleconsulta pela Prevent Senior, plano do qual é cliente há cerca de oito anos.
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"Essa teleconsulta durou uns 10 minutos. Eu falei o que tinha e a médica disse que iria me mandar um protocolo preventivo. E depois eu recebi o 'kit covid' por um motoboy", diz o advogado ao portal. No "kit Covid", segundo ele, havia medicamentos como hidroxicloroquina e ivermectina, todos sem eficácia comprovada contra a doença, além de vitaminas e proteínas.
"Me receitaram esses remédios mesmo sem diagnóstico preciso. Fiz o exame e tive resultado positivo para a Covid-19 quando eu já estava tomando esses remédios", disse Tadeu.
Após um mês na UTI, a equipe da Prevent, segundo alegado pelo beneficiário, queria tirá-lo da internação para economizar custos, colocando-o sob cuidados paliativos. A família se recusou a aceitar tal mudança terapêutica. Por fim, Andrade se recuperou, mas denunciou a Prevent Senior à Comissão Parlamentar de Inquérito e ao Ministério Público de São Paulo.
O advogado conta que chegou a ser tratado com flutamida, medicamento usado no tratamento do câncer de próstata e que não tem eficácia contra a Covid-19, e diz que quiseram encaminhá-lo para cuidados paliativos, destinados a pacientes em estado terminal, enquanto estava com capacidade para se recuperar.
Em entrevista à BBC News Brasil, Tadeu disse que vai detalhar na CPI o que passou enquanto esteve internado em uma unidade da Prevent Senior. "Sou um sobrevivente dessa trama macabra. Isso é uma coisa horrível", afirmou.
Em sua defesa, a Prevent Senior afirmou, em nota à BBC News Brasil, que não pode comentar especificamente sobre o atendimento prestado a Tadeu "por razões legais". Contudo, a empresa alega que "todas as condutas médicas foram e continuam sendo tratadas com o paciente ou a família" e que "jamais o paciente foi submetido a qualquer tratamento para evitar custos".
O paciente e o ex-médico da Prevent Senior, Walter Correa de Souza Netto, que também é ouvido nesta quinta, serão as duas últimas pessoas a serem ouvidas pela comissão parlamentar de inquérito, que fará sua 64ª reunião nesta quinta-feira.
A semana do feriado de 12 de outubro deve ser usada pelo relator, Renan Calheiros (MDB-AL), para concluir seu relatório. O senador já avisou que deve apresentar o documento no dia 19 de outubro, para ser votado no dia seguinte.