PF aponta ‘atuação direta e relevante’ de Bolsonaro em fake news sobre urnas eletrônicas
Delegada enviou relatório ao STF e alega que 'live' de Bolsonaro com ataques às urnas teve 'nítido propósito de desinformar'
Relatório enviado pela Polícia Federal ao Supremo Tribunal Federal (STF) afirma que o presidente da República, Jair Bolsonaro (PL), teve uma atuação "direta e relevante" para gerar desinformação sobre o sistema eleitoral. O relatório foi enviado ao Supremo no dia 13 de setembro e faz parte do inquérito que apura fake news contra as urnas eletrônicas.
De acordo com a delegada da PF Denisse Ribeiro, Bolsonaro teria aderido "a um padrão de atuação já empregado por integrantes de governos de outros países".
- Bolsonaro quer CPI sobre urnas, mas diz que pode não ter adesões no Congresso
- Bolsonaro não apresenta provas de fraude e volta a questionar segurança das urnas
- Aras informa ao STF que abriu investigação preliminar sobre ataques de Bolsonaro às urnas eletrônicas
- Horas depois de nota de recuo, Bolsonaro diz que palavras de Barroso sobre urnas eletrônicas não convencem
- Barroso reafirma segurança de urnas eletrônicas durante testes no RJ
- Cármen Lúcia cobra da PGR como está apuração preliminar de ataques de Bolsonaro às urnas
"Nesse aspecto específico, este inquérito permitiu identificar a atuação direta e relevante do Exmo. Sr. Presidente da República Jair Messias Bolsonaro na promoção da ação de desinformação, aderindo a um padrão de atuação já empregado por integrantes de governos de outros países", diz a chefe do inquérito.
Em agosto, Bolsonaro chamou a imprensa ao Palácio da Alvorada para dizer que apresentaria provas das supostas falhas nas urnas mas, em vez disso, repercutiu notícias falsas e vídeos já desmentidos. Assim, Alexandre de Moraes decidiu incluir essa conduta no inquérito sobre fake news que já tramita no STF.
A PF sugere que o presidente seja investigado no inquérito das milícias digitais - o mesmo que pegou o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos e o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB). Ao fim da apuração, a PF deve enviar o caso à Procuradoria-Geral da República (PGR), que decidirá se denuncia os investigados formalmente à Justiça.
"Em resumo, a live presidencial foi realizada com o nítido propósito de desinformar e de levar parcelas da população a erro quanto à lisura do sistema de votação, questionando a correção dos atos dos agentes públicos envolvidos no processo eleitoral (preparação, organização, eleição, apuração e divulgação do resultado), ao mesmo tempo em que, ao promover a desinformação, alimenta teorias que promovem fortalecimento dos laços que unem seguidores de determinada ideologia dita conservado".
Depoimentos
Segundo a PF, os depoimentos tomados "permitiram verificar que o processo de preparação e realização da live foi feita de maneira enviesada, isto é, procedeu-se a uma busca consciente por dados que reforçassem um discurso previamente tendente a apontar vulnerabilidades e/ou possíveis fraudes no sistema eleitoral, ignorando deliberadamente a existência de dados que se contrapunham a narrativa desejada, quase todos disponíveis em fontes abertas ou de domínio de órgãos públicos".
A PF diz que foram identificadas diversas inconsistências em pontos relevantes das declarações. Foram ouvidos os ministros da Justiça, Anderson Torres, da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, o diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
A delegada disse ainda que "convergem em apontar que houve vontade livre e consciente dos envolvidos em promover, apoiar ou subsidiar o processo de construção da narrativa baseada em premissas falsas ou em dados desconstextualizados, divulgada na live do dia 29 de julho de 2021" .
A PF aponta que essa investigação se dá num contexto de outras investigações que apontam que que canais bolsonaristas nas redes sociais atuam com o objetivo de diminuir a fronteira entre o que é verdade e o que é mentira. E usam como estratégia ataques aos veículos tradicionais de informação.