Eleições 2022

Em busca de espaço entre religiosos, pré-candidatos de oposição em Pernambuco intensificam agendas com líderes de várias igrejas

No início de uma nova fase da pré-campanha, principais postulantes a governador do Estado têm tentado estreitar laços com o segmento religioso, importante parcela do eleitorado pernambucano

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 08/04/2022 às 15:43
MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
LEGISLATIVO Hoje, 23 partidos estão representados na Câmara; número chegou a 30, entre os eleitos em 2018 - FOTO: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL
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Cargos entregues por prefeitos que desejam ir às urnas, fichas de filiação assinadas por quem optou por mudar de partido, e um novo momento da pré-campanha ao Governo de Pernambuco começou nesta semana. Na oposição, parte dos postulantes ao Palácio do Campo das Princesas escolheu marcar o início dessa fase ao lado de uma importante fatia do eleitorado brasileiro, a religiosa, e compartilhou absolutamente cada parte desses encontros com os seus seguidores nas redes sociais.

Entre domingo e segunda-feira, o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil), por exemplo, esteve em Caruaru e participou de um culto na Primeira Igreja Batista da cidade, e de uma reunião com o bispo Dom José Ruy Gonçalves. Também no início da semana, Raquel Lyra (PSDB) esteve na Igreja Assembleia de Deus acompanhada da deputada estadual Priscila Krause (Cidadania) - cotada para fazer parte da chapa majoritária da postulante a governadora - e da prefeita de Igarassu, Professora Elcione Ramos (PTB).

“Começando a semana com a fé renovada! Hoje, tive a alegria de participar de um culto na Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco, ao lado da deputada estadual Priscila Krause e da prefeita de Igarassu, Elcione. Agradeço a prefeita pelo convite e ao presidente e pastor Ailton José Alves e ao vice-presidente e pastor Samuel pela recepção. Foi uma noite de muita adoração e bênçãos de Deus”, escreveu a tucana, no Instagram.

 
 
 
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Uma publicação compartilhada por Raquel Lyra (@raquellyraoficial)

Segundo o Censo de 2010, 86% da população brasileira se classifica como cristã. Naquele momento, 64% dos entrevistados para o levantamento afirmaram ser católicos, enquanto 22% se denominavam evangélicos. Em 2018, em uma campanha fortemente influenciada por pautas de costume, o presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu no segundo turno mais de 11 milhões de votos de eleitores evangélicos, número superior aos 10,7 milhões que, na soma geral, garantiram a vitória dele frente a Fernando Haddad (PT).

Na visão do cientista político Antônio Lucena, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), eleitoralmente os pré-candidatos a governador de Pernambuco acertam em dar atenção aos religiosos do Estado, uma vez que a aprovação ou reprovação desse segmento pode ser determinante para o resultado que eles podem obter nas urnas.

“Praticamente em todas as regiões do Brasil o segmento evangélico cresceu muito nas últimas décadas. No início do século passado, o Brasil era um país majoritariamente católico, mas de lá para cá a gente teve uma alteração significativa desse quadro, principalmente entre os anos 1990 e 2000, quando houve um grande aumento no número de evangélicos no País. Por conta disso, os candidatos têm que incluir esse grupo no cálculo eleitoral, justamente para maximizar as chances de vitória nas urnas. E isso, obviamente, pode ter um impacto nas propostas. Por exemplo, alguns temas muito caros a essas pessoas devem ser evitados, deve haver um discurso mais equilibrado, para não ferir valores conservadores. Nós já vimos tudo isso em 2018 e vamos ver novamente em 2022. Determinados temas progressistas deverão ser evitados nesse momento, justamente para garantir que parte desses evangélicos deem voto a estes candidatos”, observou Lucena.

No âmbito nacional, aparentemente o ex-presidente Lula (PT) não tem tido muita cautela com esse tipo de situação. Nesta semana, o petista afirmou em uma live que o aborto “deveria ser transformado numa questão de saúde pública” e membros da equipe de campanha de Bolsonaro já estão trabalhando a mil para atrelar à imagem do PT a ideia de que se Lula for eleito ele vai apoiar propostas com alta rejeição junto ao eleitor conservador. Em recente entrevista ao programa “Em Foco”, da Globonews, Gabriel Chalita, um dos coordenadores da campanha de Lula, afirmou que se o petista subestimar a pauta de costumes, “perde a eleição”.

Em 2020, no Recife, estratégia semelhante a que os bolsonaristas usam agora foi direcionada contra a deputada federal Marília Arraes, então candidata a prefeita e hoje pré-candidata a governadora pelo Solidariedade. Às vésperas do segundo turno, panfletos apócrifos com informações de que a parlamentar teria tentado proibir a leitura da Bíblia na Câmara de Vereadores, de que seria favorável ao aborto, entre outras coisas, foram distribuídos na frente de igrejas da capital, e artes contendo as mesmas acusações foram compartilhadas em páginas de diversas redes sociais.

Na época, a candidatura de Marília procurou a Justiça Eleitoral para impedir a circulação dos panfletos. A juíza da 7ª Zona Eleitoral de Recife, Virgínia Gondim Dantas, deferiu liminar favorável à ex-petista proibindo a distribuição do material. João Campos (PSB), adversário direto de Marília naquele momento, sempre negou envolvimento com a confecção das peças.

Nesta fase da postulação para a chefia do Executivo estadual, Marília também tem feito questão de expor sua presença entre religiosos. Há cerca de uma semana, ela esteve ao lado do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, na inauguração da unidade feminina da Fazenda Esperança, no município de Primavera. A instituição é vinculada à Obra Social Nossa Senhora da Glória.

"Destinamos, através de emenda parlamentar, R$ 400 mil a partir de uma demanda apresentada pelo arcebispo de Olinda e Recife, Dom Fernando Saburido, e pelo bispo-auxiliar, Dom Limacêdo. A Fazenda da Esperança acolhe pessoas entre 18 e 59 anos. No caso de mães com filhos menores, o acolhimento é feito de forma integral, garantindo a que as crianças permaneçam ao lado da mãe durante o tratamento", escreveu Marília nas suas redes sociais, ao lado de fotos em que aparece abraçada com Saburido, recebendo uma hóstia e ao lado de outros sacerdotes.

BOLSONARISTAS

Pré-candidato a governador apoiado por Bolsonaro em Pernambuco, Anderson Ferreira (PL) é membro de uma das famílias evangélicas com maior influência do estado, possuindo, hoje, um deputado federal, um deputado estadual e um vereador no Recife. Na tentativa de chamar para a sua campanha o eleitorado conservador que apoia o presidente, o ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes e seus aliados têm reforçado em suas aparições públicas a defesa de pautas que em geral são bastante caras a uma parcela desse segmento.

“O presidente Bolsonaro tem um candidato a governador em Pernambuco, que é o Anderson Ferreira. Não existe outro. E não foi agora que ele conheceu Bolsonaro. Anderson foi o responsável pelo Estatuto da Família (quando era deputado federal). Ele retirou das escolas coisas horríveis relacionadas à pedofilia e aboliu o kit gay”, afirmou o ex-ministro do Turismo Gilson Machado, pré-candidato a senador na chapa de Anderson, em entrevista à Rádio Litoral, nesta semana.

Apesar de estar completamente inserido no meio evangélico, Anderson pode não ser o candidato natural desses eleitores, avalia o cientista político Vanuccio Pimentel, da Asces/Unita. De acordo com o docente, além se não se tratar de um segmento homogêneo, o desempenho dos candidatos entre o grupo vai depender também de como as lideranças de cada denominação vai se comportar durante a campanha.

“O jeito que o eleitor religioso pernambucano vai se comportar nessa eleição vai depender de algumas variáveis, e não haveria problema nem seria novidade ou estranho se ele se dividir em candidatos diferentes. Entre outras coisas, isso vai depender do interesse das lideranças religiosas e da capacidade que essas lideranças terão para arregimentar apoio político. O fiador desse eleitor religioso sempre é o líder religioso, nunca o candidato. Por isso que a gente viu Miguel fazendo esses movimentos, Raquel também. Esse eleitor está em disputa, não é porque há alguém ligado a uma igreja concorrendo, que ele tem vantagem”, explicou Pimentel.

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