ELEIÇÕES 2022

Briga por dinheiro, candidatura à presidência, traições: bastidores do racha do PSDB, partido de João Doria e Eduardo Leite

O tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, e o presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, protagonizaram um novo capítulo na crise interna tucana após a decisão de Eduardo Leite de continuar na legenda e se apresentar como uma opção para a disputa pelo Planalto - apesar de ter perdido as prévias partidárias para Doria

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Amanda Azevedo

Publicado em 06/04/2022 às 7:10
Eduardo Leite e Doria quando ocupavam os cargos de governador do RS e governador de SP, respectivamente - GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO

Por Pedro Venceslau, da Estadão Conteúdo

O tesoureiro nacional do PSDB, César Gontijo, e o presidente nacional da sigla, Bruno Araújo, protagonizaram nesta terça-feira (5) um novo capítulo na crise interna tucana após a decisão do ex-governador do Rio Grande do Sul Eduardo Leite de continuar na legenda e se apresentar como uma opção para a disputa pelo Palácio do Planalto - apesar de ter perdido as prévias partidárias no ano passado para João Doria.

Em entrevista ao Estadão publicada ontem, Leite declarou que a convenção do PSDB, marcada para julho, será a "formalização" de um entendimento político que pode reverter a escolha do ex-governador de São Paulo como pré-candidato do partido à Presidência da República, e sinalizou que conta com apoio financeiro da sigla para iniciar uma agenda paralela de articulações na chamada terceira via.

Aliado de Doria, Gontijo reagiu e disse ontem que o ex-governador do Rio Grande do Sul não vai receber recursos partidários para bancar qualquer tipo de despesa. "Como tesoureiro, eu administro recursos públicos e, por isso, dentro das regras do jogo. Leite não terá nenhuma verba do partido. Ele recebeu R$ 1,5 milhão nas prévias, mas perdeu", afirmou o tesoureiro.

Ainda segundo Gontijo, as declarações de Leite na entrevista concedida ao Estadão revelam uma postura de "delírio político" e "total desrespeito" à vontade dos filiados na sua própria base. Nas prévias realizadas em novembro do ano passado, cerca de 30 mil filiados votaram. Doria obteve 53,99% dos votos, ante 44,66% conquistados por Leite e 1,35% registrado pelo ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio.

‘Soberana’

"Eduardo Leite se submeteu às eleições prévias, mas não conseguiu aceitar o resultado da eleição no voto, em um descabido exercício de antidemocracia. Qualquer tentativa fora do que foi decidido nas eleições prévias do PSDB - que é uma decisão soberana - trata-se de um golpe", afirmou o tesoureiro.

Gontijo prosseguiu e afirmou que sua obrigação enquanto tesoureiro do PSDB é aplicar o dinheiro público "da forma correta e legal". "Jamais serei negligente no uso do recurso que foi gasto nas prévias eleitorais. Temos que prestar conta sobre cada centavo e não há nenhuma chance, digo nenhuma, de o partido ter bancado todo o processo de prévias e simplesmente desprezar esse investimento por vaidade, capricho político ou interesses inconfessáveis de quem não aceita a derrota." As prévias custaram R$ 10,8 milhões, e cada postulante recebeu R$ 1,5 milhão para a campanha.

‘Improdutiva’

Bruno Araújo, que também é coordenador da pré-campanha de Doria, porém, desautorizou a fala do correligionário. Disse que o tesoureiro não responde pelo partido e classificou a discussão como "improdutiva". "César Gontijo é um importante quadro do PSDB e meu amigo. Tem relevante papel na máquina partidária e em funções administrativas e até políticas. Mas o tesoureiro não é porta-voz da instituição", afirmou o dirigente tucano.

Ainda segundo Araújo, nem Leite nem Arthur Virgílio, outro concorrente derrotado nas prévias de novembro passado, demandaram recursos fora do escopo da disputa interna. Já o ex-governador João Doria, de acordo com o presidente da legenda, tem recursos garantidos como pré-candidato vencedor das prévias.

Fora do governo desde a última quinta-feira, quando se desincompatibilizou para concorrer às eleições de outubro, Doria está despachando agora em um comitê de pré-campanha na Avenida Brasil, na capital paulista, e mantém uma estrutura de assessoria e marketing. O pré-candidato pretende começar pela Bahia uma série de viagens pelo País, a partir da semana que vem

O PSDB vai pagar os custos da pré-campanha, mas o valor repassado para São Paulo ainda não foi revelado. Segundo aliados de Leite, o diretório do partido no Rio Grande do Sul pode receber e repassar ao ex-governador doações de pessoas físicas, que não entram no radar do diretório nacional.

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