Cabo de guerra entre Danilo Cabral e Marília Arraes pelo apoio de Lula só beneficia o petista

Em um ambiente nacionalizado, Danilo Cabral e Marília Arraes colam na imagem do ex-presidente Lula para despontarem nestas eleições
Mirella Araújo
Publicado em 13/04/2022 às 19:15
Lula disse que virá a Pernambuco fazer uma ''caminhada da vitória'' com Danilo Cabral Foto: REPRODUÇÃO


O duelo travado pelo uso da imagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no pleito de Pernambuco, acaba por beneficiar apenas o líder petista a nível nacional. Afinal, seriam dois palanques pedindo votos para sua campanha. Mas, quando essa questão é analisada sob o ponto de vista das alianças no âmbito local, essa disputa poderá evidenciar as fragilidades da aliança entre o PT e o PSB, segundo especialistas ouvidos pelo JC.

O pré-candidato a governador Danilo Cabral (PSB), tem feito questão de frisar que tem o apoio “incondicional” do ex-presidente da República. As declarações, inclusive, são acompanhadas de várias fotos ao lado de Lula para reforçar que o único palanque em Pernambuco será o da Frente Popular de Pernambuco.

Por outro lado, a pré-candidata a governadora de Pernambuco, Marília Arraes (SD), responde no mesmo tom afirmando que “Lula não tem dono”. Desde que deixou o PT para se filiar ao Solidariedade e disputar a sucessão estadual, sua imagem segue firmemente colada com a de Lula.

“Quando você conversa com as pessoas na rua, a primeira coisa que elas querem saber é se você é lulista ou bolsonarista. A partir dessa macro referência nacional, é que os eleitores vão nortear seu voto local”, explica a cientista política e professora da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho), Priscila Lapa. “A pessoa que optou por votar em Lula, ela não vai deixar de votar nele por causa de Danilo Cabral e Marília Arraes. Mas, esse eleitor que vai votar em Lula, vai escolher se votará em Marília ou Danilo”, complementa.

 

A condição local entre o PT e o PSB permanece como algo nebuloso para o eleitor, porque as mudanças do ciclo eleitoral ocorrem em um curto espaço de tempo. Em 2020, petistas e socialistas disputaram o comando da Prefeitura do Recife, que ficou nacionalmente conhecida por uma das campanhas mais agressivas das eleições - resultando na vitória de João Campos para prefeito do Recife, no segundo turno.

Para a cientista política Priscila Lapa, a saída de Marília Arraes foi um ingrediente que traz à tona o discurso da coerência de posicionamentos, quando há dois anos adotava-se o discurso do antipetismo ajudou os socialistas a vencerem as eleições municipais, e agora em 2022 eles indicam o ex-governador Geraldo Alckmin (PSB) para compor a vice na chapa de Lula.

Fatalmente essas questões e outros pontos de convergência entre as duas siglas serão exploradas pelos candidatos de oposição. Além disso, o imbróglio sobre a vaga do Senado, poderá deixar o eleitor ainda mais desconfiado sobre essa aliança. “O eleitor tende a compreender que as alianças fazem parte do jogo democrático, mas quando isso soa como incoerência, ele se sente agredido e até traído”, comenta a docente.

SENADO

O imbróglio em torno da vaga do Senado na chapa da Frente Popular de Pernambuco também respinga sobre a situação de fortalecimento da candidatura do PSB junto ao PT. O processo está se afunilando e hoje o impasse esbarra nos nomes do deputado federal Carlos Veras, que possui uma preferência majoritária dentro do partido, e da deputada estadual Teresa Leitão, que também é cotada para ser indicada a vice, ambos do PT, além da vice-governadora Luciana Santos (PCdoB) e do deputado federal André de Paula (PSD)

“A vaga do Senado é importante por ser majoritária, e serve para criar o vínculo do PT com a Frente Popular. Não me parece razoável abrir mão dela para não ter nenhum papel na chapa, porque essa questão ajudaria a vincular mais o PT e Lula ao palanque de Danilo. Não que isso seja determinante, mas seria importante”, declara o cientista político e professor da Asces-Unita, Vanuccio Pimentel.

A eventual escolha por André de Paula tem encontrado dificuldade por causa do seu histórico de votações na Câmara dos Deputados, nas pautas defendidas pelo governo Bolsonaro. Atrelado a isso, assim como Danilo Cabral, o parlamentar também votou pelo impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Para dar ainda mais argumentos a quem veta o nome de André como candidato a senador, na última sexta-feira (8), ele esteve em Nova Jerusalém e publicou nas suas redes sociais uma foto com o pré-candidato ao Senado na chapa de Anderson Ferreira (PL), o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto.

Na publicação também agradeceu a atenção do ex-ministro de Bolsonaro dada a sua filha, a secretária de Turismo do Recife, Cacau de Paula, e deixou clara a sua relação de amizade com o pré-candidato. A postagem não foi bem recebida pelos socialistas, sendo classificada como “desnecessária” neste momento em que o PSB tenta convencer o PT a abrir vão do Senado, e ficar com a vice.

O fato é que existe um entendimento por todos que não dá para ter uma chapa sem a presença do PT, mas também não dá para deixar de ter uma representação do campo político de centro. A exemplo da aliança entre Alckmin e Lula. 

CAMPANHA

O cientista político Vanuccio Pimentel acredita que no período de campanha, essa questão sobre em qual palanque Lula estará e quem tem legitimidade de usar o seu nome , vai ficar mais claro.

“A disputa não é sobre quem terá o maior benefício, mas quem consegue se apropriar com mais legitimidade de Lula. O palanque vai ficar claro, que Lula apoia Danilo, até porque em algum momento o próprio Lula vai dizer isso diretamente e não para os outros”, explica Pimentel.

“Ele vai aparecer no guia, deverá aparecer em algum evento político no Estado, pedindo votos para Danilo. Então a própria campanha vai colocar isso em evidência, sem deixar dúvidas sobre quem Lula apoia”, complementa.

 

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