Da AFP
O número de cidadãos registrados para possuir armas no Brasil cresceu 474% entre 2018 e 2022, período em que o governo de Jair Bolsonaro flexibilizou as regras e fomentou o acesso às armas, segundo dados divulgados por uma ONG nesta terça-feira (28).
Em 2018, ano da eleição de Bolsonaro, havia 117.467 pessoas registradas como CACs (Colecionador, Atirador Desportivo e Caçador), um número que saltou para 673.818 em junho de 2022, segundo dados do Exército Brasileiro reunidos pela ONG Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), um aumento de 474%.
"Houve um crescimento muito grande no número de armas de fogo em circulação no país a partir do governo Bolsonaro", disse à AFP o pesquisador Renato Sérgio de Lima, presidente do FBSP.
A ONG calcula que existem cerca de 4,4 milhões de armas em mãos de particulares no Brasil, com base nos dados do Exército e da Polícia Federal, órgãos que avaliam e autorizam o uso de armas para civis.
Além das armas dos CACs, esse número inclui outras categorias autorizadas a solicitar um registro, como determinados funcionários públicos e empresários, e as armas de uso particular de membros da polícia, das Forças Armadas e outros agentes de segurança fora de seu serviço.
"O problema é que cerca de um terço delas [1,5 milhão] estão em situação irregular, com registro vencido", advertiu Lima.
Isso não permite saber se as armas continuam com seus proprietários legais ou se foram desviadas para o crime, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Ex-capitão do Exército, Bolsonaro é favorável ao armamento da população e, vez ou outra, repete que "um povo armado jamais será escravizado".
Desde que chegou ao poder em 2019, o presidente flexibilizou através de decretos os requisitos de acesso às armas, assim como o número permitido de artefatos e munições por pessoa.
Algumas dessas mudanças estão sendo questionadas na Justiça.
Homicídios em queda
Em seu Anuário de Segurança Pública divulgado nesta terça-feira, o FBSP informou que o Brasil registrou um total de 47.503 homicídios em 2021, uma redução de 6,5% em relação a 2020.
"Mas essa boa notícia esconde uma realidade extremamente perversa: o Brasil respondeu por uma de cada cinco mortes violentas intencionais no planeta em 2020, segundo dados da ONU", apesar de ter apenas 2,7% da população mundial, com 213 milhões de habitantes.
Enquanto os homicídios caíram em todas as demais regiões do país, na região Norte eles aumentaram em 7,9% e a Amazônia Legal concentra 13 das 30 cidades com maiores índices de assassinatos do país.