Se no primeiro turno das eleições deste ano as pesquisas de intenção de voto apontavam que a candidata Marília Arraes (Solidariedade) largava na frente dos demais postulantes na disputa pernambucana, o resultado da votação e as alianças que vêm se costurando mostram que a deputada federal e Raquel Lyra (PSDB) chegam à segunda fase da campanha com força equivalente.
Encerrada a votação, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostrou que Marília conquistou 23,97% dos votos válidos, enquanto Raquel alcançou a preferência de 20,58% dos eleitores. A candidata do Solidariedade, que após esse resultado já recebeu a adesão de partidos como PT, União Brasil, PDT, Republicanos e PCdoB, por exemplo, foi a escolhida de 1,7 milhão de pernambucanos.
Já a tucana recebeu pouco mais de 1 milhão de votos e fechou parcerias com lideranças como o senador Jarbas Vasconcelos (MDB), o grupo político do senador Fernando Bezerra Coelho (MDB) e o deputado federal eleito Mendonça Filho (União Brasil).
Área detentora do maior número de eleitores do Estado, quase 3 milhões de pessoas, a Região Metropolitana do Recife - composta por 14 municípios - parte dividida para o segundo turno. Em sete cidades o desempenho de Marília foi superior ao de Raquel, e nas demais a ex-prefeita de Caruaru passou a adversária. No Recife, que tem 1,2 milhão de eleitores, Raquel foi a candidata mais votada e Marília ficou apenas com a terceira colocação, atrás de Anderson Ferreira (PL).
O ex-prefeito de Jaboatão dos Guararapes, que foi apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) no primeiro turno, inclusive ainda não decidiu se terá um posicionamento neutro no segundo turno ou apoiará Raquel Lyra, visto que Marília Arraes já abriu mão de qualquer aproximação com ele por sua aproximação com o bolsonarismo.
O caminho que Anderson adotará neste momento é relevante porque ele foi o terceiro candidato mais votado de Pernambuco no dia 2 de outubro, registrando quase 900 mil votos, e é uma importante liderança conservadora do Estado.
“A RMR é a região onde o eleitor poderá trazer de fato a expressividade da nacionalização da eleição. Uma das coisas que explicam isso é a votação expressiva que Anderson Ferreira teve no Recife. Na RMR, a polarização nacional ficou mais demarcada do que no interior do Estado”, explicou a cientista política Priscila Lapa, da Faculdade de Ciências Humanas de Olinda (Facho).
Outro fato interessante da distribuição de votos nessa área é que Raquel saiu na frente de Marília não apenas no Recife, mas em todos os maiores colégios eleitorais: Jaboatão, Olinda, Paulista e Camaragibe. A postulante do Solidariedade, por sua vez, se sobressaiu em municípios como Ipojuca, Moreno, São Lourenço da Mata e Itapissuma, por exemplo.
Para reverter o quadro desfavorável na região, Marília vai tentar colar a imagem de Raquel à de Bolsonaro e apostar na ligação que possui com o ex-presidente Lula (PT), com o PT de Pernambuco e lideranças do PSB que já declararam apoio ao seu projeto. No Recife, o líder petista conquistou 54% dos votos válidos, ante 39,22% de Bolsonaro.
Na visão de Priscila Lapa, contudo, é possível que a candidata do Solidariedade encontre dificuldades para reverter para si os votos do petista, não apenas no Recife, mas em todo o Estado. “A votação de Lula tende a favorecer Marília, mas não necessariamente quem vota em Lula, apoia Marília, e isso é um desafio para ela”, observou a docente.
Como o tempo de campanha eleitoral no segundo turno é menor, apenas 28 dias, por consequência as candidatas terão menos tempo para fazer um giro pelo Estado. O que não quer dizer que as regiões localizadas no interior de Pernambuco devem receber menos atenção.
Neste sentido, a costura em busca do apoio de lideranças e partidos se tornam uma peça fundamental para atração do voto, que ainda está na fase de reorganização. Por se tratar de uma eleição bastante geográfica, onde o desempenho em determinadas cidades estratégicas pode ser um trunfo na reta final, a nacionalização do debate tende a não ser suficiente para obter êxito.
Em Caruaru, no Agreste, onde administrou a prefeitura de 2016 até 2020, Raquel Lyra obteve 51,42% dos votos válidos, enquanto Marília Arraes teve 10,84%. Além disso, o prefeito do município, Rodrigo Pinheiro (PSDB), apoia Raquel, de quem foi vice até ela se desincompatibilizar da prefeitura para concorrer para o Estado.
Já no município de Petrolina, mesmo com Marília Arraes tendo tido mais votos que Raquel Lyra - foram 10,81% da candidata do Solidariedade contra 2,85% da postulante do PSDB -, a ex-prefeita recebeu de imediato o apoio de Miguel Coelho, neste segundo turno.
Então candidato a governador pelo União Brasil, que acabou em quinto lugar da disputa majoritária, Miguel obteve 73,41% dos votos, liderando com folga o seu reduto eleitoral. Esse apoio poderá potencializar a votação de Raquel não só na cidade, mas nos municípios vizinhos.
O atual prefeito de Petrolina, Simão Dourado (UB), já declarou que também seguirá apoiando Raquel. Nesta sexta-feira (7), ela também recebeu a declaração de apoio de uma liderança importante e histórica na cidade, o deputado federal pelo PSB, Gonzaga Patriota.
Por outro lado, Marília Arraes é mais conhecida na região, e conta com o apoio da família Lossio, tendo o ex-prefeito Petrolina Julio Lossio, um dos coordenadores de sua campanha no Sertão.
A representatividade de Marília também pode ser avaliada pela votação que ela teve no município de Serra Talhada, reduto natural do seu candidato a vice, Sebastião Oliveira (Avante). No local, Marília recebeu 38,29% dos votos e Raquel 6,74%.
“Ela também foi candidata a prefeita do Recife, que é uma vitrine no estado todo, então ela é uma pessoa que tem maior capilaridade no Estado todo. Nesse caso de Raquel, eu acho que as alianças locais é que vão conduzir a próxima votação, porque ela é uma eleição bastante geográfica, em que os apoios nas regiões vão ser importantíssimos para quem vai ganhar”, comentou o cientista político Vanuccio Pimentel.
Ainda que neste segundo turno, a nacionalização do debate não seja suficiente para garantir a vitória nas urnas, ter os agentes públicos pedindo votos casados para governador e presidente, pode ser um diferencial que não deve ser subestimado.
Raquel Lyra, apesar de o PSDB ter liberado os diretórios e filiados a decidirem entre Lula e Bolsonaro, ainda não declarou para quem irá seu voto nesta segunda fase. Em contrapartida, Marília Arraes que sempre declarou apoio à Lula, recebeu um reforço de peso ao ter o PT de Pernambuco no seu palanque. Vale destacar que o líder petista teve 65,27% dos votos válidos em Pernambuco, contra 29,91% de Bolsonaro.
“A extensão do palanque das candidatas ao governo será feita pelos agentes públicos dessa região. O simbolismo é significativo e toda movimentação política é estratégica. Com a derrota da Frente Popular para o pleito deste ano, as forças políticas do Estado estão se realocando e buscando sua sobrevivência política”, avaliou o historiador e cientista político Alex Ribeiro.
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