Marília Arraes (Solidariedade) estava na casa do avô, Miguel Arraes, quando desatou a contar como Fidel Castro conseguiu derrubar o 'perverso rei Batista', da Ilha de Cuba. Abismado, o avô perguntou aos pais da menina como ela conhecia a história da Revolução Cubana. Na época, a neta tinha apenas 4 anos.
Aqueles ensinamentos eram coisa de Dona Sônia Rocha, mãe de Marília. Psicóloga, ela costumava ensinar à filha brincando e contando histórias.
"Como eu queria que ela tivesse contato com os clássicos da literatura, eu contava as histórias em linguagem infantil. Fazia a mesma coisa com personagens da política, como Fidel Castro, Pinochet e outros. Expliquei isso ao avô dela, que ficou maravilhado", relembra.
Até hoje, Marília Arraes brinca que apesar de ter um avô político, a mãe foi uma das responsáveis por lhe 'empurrar' para a política. Dona Sônia recorda que, além de conhecer as histórias, desde muito cedo ela já participa de atos de campanha.
"Quando tinha dois anos, eu levava ela na minha cacunda para assistir aos comícios de Arraes. Marília Arraes foi uma criança precoce. Andou com oito meses e dessa idade já foi daminha no casamento do meu irmão. Com dois anos e meio falava tudo e ao final dos quatro anos já sabia ler. Além disso, é muito decidida, corajosa e tem um forte senso de justiça", conta.
Na infância, Marília Arraes queria ter um cachorro. Dona Sônia até chegou a trazer um poodle para casa, mas como tinha medo do animal, acabou doando.
"O jeito que arrumei foi trazer um coelho branco pra ela e outro marrom para o primo Daniel, que brincavam muito juntos. Depois, o coelho Romeu foi parar no quintal do meu consultório. Ela também ganhou um pinto, que cresceu e se transformou em um galo gigante. Para que eu não visse, ela e as funcionárias da casa escondiam o bicho na dependência da empregada, mas eu acabei descobrindo", recorda.
Nascida no Recife, em 1984, Marília Arraes é filha de Sônia Rocha e Marcos Arraes (quinto dos dez filhos de Miguel Arraes). A candidata à governadora de Pernambuco tem dois irmãos: Arthur e Maria Arraes, filhos do segundo casamento do pai.
Casada com André Cacau, é mãe de Maria Isabel, 7 anos (do primeiro casamento) e de Maria Bárbara, 9 meses. Grávida, aguarda a chegada de Maria Magdalena para o primeiro bimestre de 2023.
Religiosa, ela conta que a escolha de Maria antes dos nomes das três filhas é uma reverência à Virgem Maria. Diz que são primeiro filhas dela antes de serem suas.
Devota de Nossa Senhora da Conceição e de São José, Marília Arraes anda sempre com um terço de madeira, como uma espécie de amuleto. Presente do Padre Cosmo, a peça lhe acompanha nos debates e em outras aparições públicas. No pescoço, traz um crucifixo dourado.
As lições de fé e religiosidade foram aprendidas com a avó materna Vilma, hoje com 91 anos.
"Eu ensinei Marília a rezar quando era pequenininha e levava muito ela para a igreja. Ela ficava comigo enquanto os pais saiam para trabalhar. Era uma criança que não dava trabalho. Marília sabe que é muito mais do que uma neta pra mim. Ela tem uma coisa de me levar para votar com ela nas eleições. Eu tenho fé que vai dar tudo certo", afirma a avó, em referência ao resultado das eleições.
Gestante de seis meses, Marília Arraes consegue manter a elegância em macacões e terninhos de alfaiataria muito bem cortados. Usa sempre uma roupa vermelha, alternada na peça interna ou externa do look.
A família toda trabalha na campanha de alguma forma. No debate da TV Jornal, na terça-feira (25), o marido André Cacau estava com ela, sempre carinhoso. Até a filha Maria Isabel, 7, participou este ano, narrando um vídeo para as redes sociais.
No material, ela apresenta a família, explica que a mãe é política e advogada e destaca sua preocupação com o povo de Pernambuco. O vídeo foi, sem dúvida, uma das peças mais emocionantes da campanha. Dona Sônia conta que, vez por outra, toma conhecimento que Maria Isabel banca a cabo eleitoral por onde passa.
"A gente fica sabendo que ela pede votos para a mãe e a tia, Maria Arraes (quando estava concorrendo para deputada federal). Fui eu quem treinei o texto do vídeo com a minha neta e ela ficou muito feliz com o resultado. Quando ficou pronto assistiu incontáveis vezes", diz.
Depois de conviver com a política dentro da casa do avô Miguel Arraes e de acompanhar os pais nas ações de campanha na infância, Marília Arraes começou a participar ativamente da política na adolescência. Apesar do interesse, o pai, Marcos Arraes, diz que não imaginava a filha disputando um cargo público.
"Quando Marília tinha entre 15 e 16 anos começou a acompanhar o avô em tudo quanto era ato. Ela tinha uma admiração grande por ele. Minha filha foi a única neta mulher por parte da família materna e a primeira neta mulher do meu pai. Quando Arraes ficou sem mandato, ela ia sempre ficar com ele no escritório. Ela também conheceu o presidente Lula na casa do avô. Quando venceu as primeiras eleições para presidente, a primeira visita que Lula fez foi à casa de Miguel Arraes", recorda.
Marília Arraes começou na militância estudantil, quando estudava direito na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Depois foi para a França e para a Inglaterra estudar línguas. Elegeu-se para dois mandatos consecutivos como vereadora do Recife, atuou como Secretária de Juventude e Qualificação Profissional do Recife.
Em 2019, foi a única mulher eleita para ocupar a bancada do Estado na Câmara dos Deputados, em Brasília. Em 2020, disputou a Prefeitura do Recife com o primo João Campos (PSB) e perdeu por uma pequena diferença de votos.
Na disputa pelo governo de Pernambuco deste ano, venceu o primeiro turno das eleições com 23,83% dos votos válidos, contra a ex-prefeita de Caruaru Raquel Lyra (PSDB).
Em entrevista para este perfil do JC, depois de participar do debate da TV Jornal na terça-feira (25), Marília Arraes diz que quer ser governadora para promover uma mudança profunda no Estado.
Veja o debate entre Marília Arraes e Raquel Lyra na TV Jornal
"Eu quero ser governadora porque Pernambuco precisa de uma mudança focada nos que mais precisam. De uma mudança alinhada ao que o presidente Lula quer fazer no Brasil. E essa mudança precisa ser executada por alguém que exerça uma liderança com foco no diálogo e que conheça Pernambuco. Ao longo dos últimos anos, eu tenho consciência de que consegui adquirir a capacidade de unir quem pensa diferente, de unir divergentes em cidades e partidos, mas que querem um Pernambuco melhor. Também precisamos defender o Brasil de tantos ataques às instituições e à democracia", diz a postulante.
Primeira candidata grávida a disputar um cargo público no Brasil, Marília Arraes lamenta o preconceito e os comentários negativos sobre a gestação. Eleita para seu primeiro mandato como deputada federal, a irmã Maria Arraes, conta que a família forma uma grande rede de apoio e que a candidata não se intimida nem reclama da sua condição.
"Marília não reclamava de cansaço, não queria parar e estava sempre animando a tropa e colocando todo mundo pra cima. Nem no início da gravidez, quando Maria Bárbara estava com seus 3 a 4 meses ela se queixava", afirma.
Para Marília Arraes, o governo de uma mulher será o primeiro de muitos passos para alcançar a igualdade e conquistar uma sociedade mais justa, em que homens e mulheres sejam tratados da mesma maneira.
"A presença da mulher em espaços de decisão, em espaços de liderança provoca mudanças. A presença da mulher na política muda a política. Quando uma mulher entra na política, muda a vida dessa mulher, mas quando várias mulheres entram na política a gente consegue mudar a política, mudar as realizações que são feitas na sociedade. Quem disse isso foi a ex-presidenta do Chile, Michelle Bachelet. Sem dúvida, ter uma mulher governadora vai impactar nas políticas públicas como serão pensadas e vão ser executadas", diz.
Quem vê Marília Arraes em uma postura firme, impetuosa e quase belicosa nos debates das eleições para governadora, nem imagina que um dos passatempos dela é algo que exige muita paciência.
Interessada em trabalhos manuais, ela manuseia agulhas de crochê com habilidade, transformando linhas em tapetinhos e outras peças. Assim como surpreendia o avô com sua inteligência precoce na infância, continua sendo uma caixinha de surpresas.