A pesquisa “Como vota o eleitorado no Norte e Nordeste”, lançada pela iniciativa Enegrecer a Política, mostra o comportamento do eleitorado nas disputas municipais de 2022 de três cidades: Belém (PA), Fortaleza (CE) e Recife (PE).
O Enegrecer a Política tem como principal foco de atuação, promover a discussão sobre a baixa representatividade negra nas esferas públicas, espaços de poder e decisão, além de estimular a criação de estratégias que visam fortalecer essa presença.
O estudo divulgado nessa quinta-feira (30), na sede da Ação Comunitária Caranguejo Uçá, mostra que em Fortaleza, 60% dos entrevistados afirmaram que já votaram em candidaturas representadas por pessoas negras. Em Belém, foram 49%, e no Recife, esse quantitativo atingiu 69%.
Quando questionados sobre os motivos que levaram a votar em candidatos ou candidatas negras, 39% dos fortalezenses e 33% dos recifenses responderam que a escolha foi feita pela confiança. Já 44% dos belenenses afirmaram que o alinhamento com as pautas políticas em defesa dos Direitos Humanos, motivaram o voto nestes candidatos.
Segundo Marília Gomes, um dos grandes achados neste levantamento é romper a ideia de que pessoas negras não votam em pessoas negras. Das três cidades, Recife é o território que mais vota em pessoas negras e o que mais vota em mulheres negras. Dos entrevistados da capital pernambucana, 56% afirmam já ter votado em candidatas negras, sendo que 35% não votaram e 9% não se lembram.
No entanto, o desconhecimento das candidaturas mais uma vez se destaca entre as motivações para o não voto. No Recife, 16% da amostra declaram que desconheciam as candidaturas; 2% não acredita na política; 2% afirmou que é a primeira eleição que participa; 1% não vota por cor e 1% não gosta
de negro.
"Buscamos conhecer esse eleitorado para tentar romper essa outra barreira que era esse desconhecimento dessas candidaturas negras. E também refletir sobre o fato que de não basta ter um candidato ou candidata negra. A gente quer mais pessoas negras, mas que se preocupam e defendem a pauta dos Direitos Humanos", afirmou a coordenadora da pesquisa.
Ainda segundo Marília, são as candidaturas que atuam no campo político mais progressista e de esquerda, que acabam tendo mais dificuldades e sendo mais invisíveis nos pleitos. "Nosso foco foi no eleitorado, e como os candidatos e candidatas a partir destes dados podem reformular suas campanhas, reformular como pensam a comunicação, cobrar o repasse do fundo eleitoral", completou.
Com relação aos ambientes em que as pessoas negras são mais votadas, em Fortaleza elas são mais votadas para a Câmara de Vereadores, com 41%, e para Assembleia Legislativa, 15%. Em Belém, esse cenário corresponde a 44% para Câmara Municipal, e 12% para Assembleia Legislativa.
No Recife, 32% das candidaturas negras são votadas para ocuparem espaços na Câmara de Vereadores, e 28% para uma cadeira na Assembleia Legislativa. Já para as outras instâncias de poder, as candidaturas negras são quase inexistentes.
Esse é o terceiro dossiê realizado pelo Enegrecer a Política - os outros dois foram realizados em 2020 e 2021, analisando as eleições de 2016 e 2020, do ponto de vista das candidaturas negras.
“Compreendemos com os outros dossiês, que não é que haviam poucas candidaturas negras, elas já vem crescendo ao longo dos anos, mas essas pessoas negras não conseguem ultrapassar as barreiras para serem eleitas”, disse Marília Gomes.
Agora, a nova pesquisa apresentada teve como pretensão central compreender a participação da população nos processos de escolha dos seus representantes, nas regiões norte e nordeste do Brasil, bem como, as motivações, os argumentos e as causas que lhe direcionam a tomar determinadas decisões políticas.
A coleta e análise dos dados ocorreram entre os meses de julho e setembro de 2022. E foram aplicados 300 questionários e 31 entrevistas a partir de grupos focais, nas 3 cidades do Norte-Nordeste mencionadas.
Os critérios de abordagem, se localizaram a partir da representação de gênero, raça e idade, sendo eles: homens negros, mulheres negras, homens brancos e mulheres brancas, jovens, adultos e idosos, com o pré-requisito de que estivessem aptos a votar.
No que tange o perfil socioeconômico desejado: donas de casa; desempregados; estudantes; universitários; professores; trabalhadores assalariados; feirantes; ambulantes;
comerciantes; empresários; funcionários públicos; trabalhadores públicos; trabalhadores da construção civil e profissionais liberais.
O Enegrecer a Política a é coordenado por 6 organizações da sociedade civil: Bigu Comunicativismo, Blogueiras Negras, Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade (MMCC), Mulheres Negras Decidem (MND), Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa) e Observatório Feminista do Nordeste (OFNE).