Bolsonaro admite conversas com major investigado por trama golpista

Em depoimento segunda, Bolsonaro disse que mantinha conversas "esporádicas" com Barros, preso no início do mês na Operação Venire
Estadão Conteúdo
Publicado em 17/05/2023 às 23:12
Bolsonaro foi confrontado com mensagens enviadas pelo major a um contato identificado como "PR 01" Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil


O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) admitiu à Polícia Federal que conversava diretamente com o major da reserva do Exército Ailton Barros, que está no centro da investigação sobre "tratativas para a execução de um golpe de Estado".

Em depoimento segunda, Bolsonaro disse que mantinha conversas "esporádicas" com Barros, preso no início do mês na Operação Venire - que apura fraude em cartões de vacinação.

Bolsonaro foi confrontado com mensagens enviadas pelo major a um contato identificado como "PR 01". Os diálogos colocaram Barros na mira do inquérito dos atos golpistas de 8 de janeiro, e podem implicar ainda mais Bolsonaro nessa apuração, na qual ele é investigado por incitação.

As mensagens foram obtidas pela PF a partir da quebra de sigilo do ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.

Ele é implicado em diferentes investigações no Supremo Tribunal Federal: sobre atos antidemocráticos, das milícias digitais e é figura central na apuração sobre pagamentos de contas da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Cid está preso desde o início do mês por suspeita de liderar um esquema de fraudes na carteira de vacinação de Bolsonaro.

Em uma das mensagens usadas pela Polícia Federal para questionar Bolsonaro, o major cita a mobilização de grupos que, segundo ele, "organizaram" atos antidemocráticos em 7 setembro de 2021.

Em seguida, ele menciona a intenção dos grupos em "acampar em Brasília", em 31 março de 2022 - data em que aliados do ex-presidente comemoram o golpe militar de 1964 - "até os 11 ministros do STF saírem de suas cadeiras".

Ao "PR 01", Barros diz que é possível operar nos grupos "para as pautas serem de seu interesse", sugerindo algumas delas, como ataques ao ministro Alexandre de Moraes, do STF, e a "questão das urnas eletrônicas".

As mensagens foram posteriormente apagadas por Barros, após ele dizer que "pegou orientação com Cidinho" - em referência a Mauro Cid.

À PF, o ex-presidente negou ter orientado "qualquer ato de insurreição ou subversão" contra o estado de direito".

Sobre a menção de Barros às "orientações" de Cid, Bolsonaro disse não conhecê-las e afirmou "duvidar" que seu ex-assessor teria "dado reforço para as referidas pautas". Ele também negou ter sido procurado diretamente por Barros para dar "orientações".

PF mostrou mensagens enviadas pelo militar

Em seguida, a PF mostrou mensagens enviadas pelo militar. Bolsonaro reafirmou que não teve conhecimento das pautas antidemocráticas citadas.

Ele admitiu conversas esporádicas com o major, mas negou manter "relacionamento pessoal" com ele. Bolsonaro disse que as aproximações de Barros "se davam principalmente em momentos eleitorais" - o major reformado se candidatou a cargos eletivos em 2006, 2020 e 2022, sem sucesso.

Na decisão que autorizou a fase ostensiva das apurações da Venire, Moraes apontou que a milícia digital sob suspeita "transbordou" para além da esfera virtual. O relator viu elemento de "união" na atuação do grupo, "seja nas redes sociais, seja na realização de inserções de dados falsos de vacinação contra a covid-19, ou no planejamento de um golpe de Estado".

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