O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), emprega ao menos dez familiares e aliados em postos-chave da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), empresa pública de orçamento bilionário. Os cargos na "estatal do Lira", como a companhia tem sido chamada em Brasília, rendem R$ 128 mil só em salários ao grupo. Todo mês. Procurados, Arthur Lira e a CBTU não se manifestaram.
A "estatal do Lira" abriga a enteada em uma função de assistente executiva desde dezembro de 2019. Atualmente, o salário dela é de R$ 9.255,01. Ana Clara Lins Rocha é filha da ex-mulher de Lira, Jullyene Lins.
O presidente da Câmara, no entanto, tem uma relação de paternidade com a enteada frequentemente registrada nas redes sociais. Em 4 de março, o deputado publicou uma foto com os filhos e com Ana Clara. Na legenda, escreveu "Família: meu tudo". Nos comentários, a enteada retribuiu. "Te amo, pai! Vocês são tudo."
Além da enteada, três primos de Lira ocupam cargos na CBTU de Maceió. Kyvia Talline Rocha Melo de Lira e Valmir de Lira Paes são assistentes executivos no órgão regional, com salários de R$ 9.255,01 e R$ 5.933,59, respectivamente. Já Orleanes de Lira Paes Angelo atua como gerente da companhia e cuida das finanças da superintendência. Recebe R$ 13.313,10 por mês.
A superintendência do órgão na capital de Alagoas é chefiada por um aliado político de Lira desde setembro de 2019. Carlos Jorge Ferreira Cavalcante é comandante da CBTU alagoana e irmão do ex-assessor de Lira, Luciano Cavalcante - investigado pela Polícia Federal por supostas fraudes na aquisição de kits robótica por prefeituras de Alagoas. Segundo a PF, Luciano deu "apoio operacional" a entregadores de dinheiro que seriam participantes do esquema, em Maceió.
Na regional alagoana, Lira emplacou Glaucia Maria de Vasconcelos Cavalcante, mulher de Luciano. Ela foi nomeada para o cargo de gerente regional de Planejamento e Engenharia do órgão. Hoje, o salário é de R$ 13.313,10. O órgão regional também abriga André Marcelino Viana Silva, ex-funcionário de Lira na Câmara, na função de coordenador operacional de Planejamento. Todo mês, ele recebe R$ 11.532,14.
O diretor presidente da companhia, José Marques de Lima, está no cargo desde julho de 2016. Antes, ele havia sido superintendente da empresa em Maceió, Recife e Rio de Janeiro. A ida de Marques de Lima para o comando da companhia em Brasília se deu por iniciativa de Lira, de quem é aliado. Como chefe da CBTU, Lima recebe o maior salário: R$ 25.705,66.
A companhia em Alagoas abriga ainda dois integrantes do União Brasil de Alagoas, Divaldo Pereira Madeiro e Allan Teixeira Brandão. O partido também está sob controle político do presidente da Câmara.
A CBTU é responsável pela administração de trens urbanos em cinco capitais e tem um orçamento de R$ 1,3 bilhão. Com capilaridade no País e fora dos holofotes das principais empresas públicas, a companhia costuma ser usada por políticos para acomodar aliados e atender bases eleitorais. O presidente da Câmara, Arthur Lira, tinha o controle dos cargos na gestão de Jair Bolsonaro e continua tendo no governo de Luiz Inácio Lula da Silva.
Lira se reuniu recentemente com Lula, no contexto da cobiça do Centrão pelo Ministério da Saúde. O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, pediu aos ministros do governo mais rapidez na nomeação de cargos.