Em depoimento, senador reafirma plano de golpe e contradiz Bolsonaro

Em novo depoimento à Polícia Federal, anteontem, o senador Marcos do Val (Podemos-ES) voltou a afirmar que o ex-deputado Daniel Silveira se reuniu com ele e com o então presidente Jair Bolsonaro para tratar sobre a possível gravação de Alexandre de Moraes - presidente do Tribunal Superior Eleitoral e ministro do Supremo Tribunal Federal - "com a finalidade de invalidar as eleições" de 2022.

A versão do parlamentar contradiz o depoimento de Bolsonaro. Ouvido na semana passada no inquérito que apura suposta trama golpista, o ex-presidente confirmou a reunião com Do Val e Silveira no dia 8 de dezembro do ano passado, no Palácio da Alvorada, mas negou que eles tenham falado sobre Moraes. "Não foi levantado nenhum plano sequer de gravar o ministro Alexandre de Moraes. Nada foi falado sobre o ministro."

DEPOIMENTO DE MARCOS DO VAL

Marcos do Val prestou esclarecimentos a três delegados federais que integram a Coordenação de Inquéritos dos Tribunais Superiores, unidade da PF que conduz investigações sensíveis envolvendo alvos com foro privilegiado.

Durante o depoimento, Do Val disse que Silveira falou sobre a proposta de gravar Moraes "na presença do ex-presidente Jair Bolsonaro", ainda que ele, segundo o senador, não tenha se manifestado durante a conversa.

Ao depor, Bolsonaro disse ainda não saber se a iniciativa da reunião foi de Do Val ou de Silveira e que "não teve contato anterior" com o senador. Do Val, no entanto, afirmou à PF que foi o próprio ex-presidente que realizou o convite para o encontro, por telefone, na presença de Silveira.

Reunião com Bolsonaro seria ‘cinco-estrelas’

O parlamentar do Podemos relatou também que os únicos participantes da reunião que supostamente trataria de uma trama golpista foram ele, Bolsonaro e Silveira. Acrescentou, contudo, que o ex-deputado pretendia envolver mais gente na "missão". O senador afirmou que Silveira não falou sobre isso durante a reunião, mas logo na sequência teria enviado mensagem por WhatsApp dizendo: "Irmão, essa missão está restrita a três pessoas e só irá ficar, provavelmente, com mais cinco após concluída. Cinco estrelas". Do Val declarou não saber o que o ex-deputado quis dizer com o termo.

A primeira declaração dada pelo senador sobre a suposta trama golpista ocorreu em fevereiro. Na ocasião, Do Val afirmou que a iniciativa partiu de Bolsonaro. Em seguida, o parlamentar mudou de versão e atribuiu a responsabilidade a Silveira - segundo ele, o ex-presidente participou da reunião, mas ficou em silêncio.