A investigação sobre um suposto esquema de venda e recompra de joias dadas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por autoridades estrangeiras impede o general Mauro Lourena Cid visitar o filho, o tenente-coronel Mauro Cid, na prisão.
Como são investigados, eles estão proibidos de manter contato.
A decisão que impede as visitas é do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), relator do inquérito.
É comum que investigados sejam obrigados por ordem judicial a cortar contato para evitar uma eventual tentativa de combinar versões ou obstruir o trabalho de investigação.
Em entrevista ao Estadão, o advogado do tenente-coronel - que foi ajudante de ordens de Jair Bolsonaro - disse que seu cliente fará de tudo para livrar o pai de uma eventual prisão e condenação, mesmo que isso atinja o ex-presidente.
Mauro Cid foi preso preventivamente em uma outra investigação, sobre a falsificação de dados de vacinação da covid-19, por isso não havia impedimento para as visitas do pai.
O cenário mudou quando o general foi implicado no novo inquérito, sobre a negociação ilegal de presentes diplomáticos. Os dois são investigados inclusive por organização criminosa.
JOIAS E RELÓGIOS
A Polícia Federal afirma que o tenente-coronel negociou joias e relógios nos Estados Unidos com a ajuda do pai.
As contas do general teriam sido usadas para repassar o dinheiro que entrou com a venda dos presentes.
"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que era melhor fazer com esse dinheiro, levar em 'cash' aí´. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente. (...) E aí ele poderia levar. (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor, né?", diz Mauro Cid em uma das mensagens obtidas pela PF.
O pai do ex-ajudante de ordens também aparece no reflexo da caixa de escultura enquanto fazia foto para anunciar o objeto. Ele teria visitado pessoalmente lojas especializadas no comércio e leilão de artigos em luxo em Miami, indicadas por Mauro Cid.
DITADOR DA TOGA
Em discurso inflamado na Marcha para Jesus do Rio de Janeiro, no sábado, o pastor Silas Malafaia atacou Moraes, o governo federal, a imprensa e senadores.
O principal alvo da fala foi o ministro do Supremo, a quem o religioso chamou de ditador e acusou de estar em "conluio" com a gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Ao final, Malafaia disse "profetizar" que a "casa" do ministro do STF iria "cair" pelas mãos de Deus, do povo, ou do Senado. Ele discursou aos gritos para milhares de pessoas na Praça da Apoteose, no Centro do Rio.
"Senhor ditador da toga Alexandre de Moraes, a sua casa ainda vai cair! E eu vou dar as hipóteses. Ou vai cair pela mão de Deus, ou vai cair porque o Senado vai tomar vergonha na cara, ou vai cair porque o povo é o supremo poder dessa nação. E o povo quando faz pressão ninguém aguenta", afirmou Malafaia.
Também no sábado, um dos filhos do ex-presidente, o vereador do Rio Carlos Bolsonaro (Republicanos) reclamou, em uma rede social, dos que andam falando em risco de prisão de seu pai.