Principal elo do governo federal com os evangélicos do Congresso, o advogado-geral da União, Jorge Messias, tem sido beneficiado pela função em meio à expectativa pela escolha do nome que será indicado pelo presidente Lula (PT) ao Supremo Tribunal Federal (STF).
Na última sexta-feira (22), o AGU foi recebido com pompas em um evento promovido pela Frente Parlamentar Evangélica na Câmara Legislativa de Brasília.
Majoritariamente bolsonarista, a bancada evangélica abriu espaço para o AGU de Lula palestrar e falar sobre as ações do governo e pedir orações pelas autoridades brasileiras.
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"Creio que cada deputado que está aqui hoje foi levantado por Deus a seu cargo e, por isso, oro por cada um dos senhores. Por isso também peço para que vocês orem por cada autoridade constituída nesse país, para que tenham sabedoria em suas decisões", disse Messias.
Sem citar nomes, ele criticou atos de autoritarismo e reforçou que é a Constituição que garante a liberdade religiosa, através da qual os evangélicos também podem se manifestar.
"Hoje, se nós estamos aqui falando do Evangelho, é porque a nossa Constituição nos garante liberdade religiosa. Esse é um princípio que deve ser defendido permanentemente. Não podemos baixar a guarda, porque o autoritarismo espreita sempre à porta, e a primeira vítima do autoritarismo é a verdade", comentou o ministro, citando um versículo bíblico.
APOIO EVANGÉLICO PARA O STF
As declarações de Jorge Messias levaram os presentes a aplaudirem o AGU ao fim de sua fala. Mesmo antes de terminar o discurso, um deputado evangélico disse ao ministro André Mendonça, do STF, que também participou do encontro, que Messias teria as crendenciais para chegar ao Supremo.
"Ele tem tudo para ladear o senhor, ministro", disse o deputado que é do partido do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Mendonça apenas sorriu.
Um outro parlamentar, que palestrou no evento, chegou a afirmar que a bancada evangélica pode até votar com o governo se Messias for indicado ao STF.
"Se o governo quiser nosso apoio, precisa acenar para a bancada. Indicar o ministro Messias seria uma ótima sinalização. Pode não levar 100% dos votos, mas garante boa parte", pontuou o deputado, lembrando que o AGU tem sido um aliado importante, inclusive para frear pautas consideradas caras pelos evangélicos.
A aproximação do AGU com a bancada evangélica vem sendo construída ao longo do ano. Na tradicional Marcha Para Jesus, realizada no dia 8 de junho, o ministro-chefe da Advocacia-Geral da União (AGU) foi escalado pelo Planalto para uma aproximação com o segmento.
UNIÃO DE PT E EVANGÉLICOS
Com apoio vindo da bancada evangélica, Messias consegue unir petistas graúdos e religiosos na defesa do seu nome.
Atualmente, o AGU tem o apoio de aliados de Lula como a ex-presidente Dilma Rousseff, Gleisi Hoffmann, Aloizio Mercadante e Jaques Wagner para ser o próximo indicado ao STF.
A declaração dele sobre combate ao autoristarismo e em defesa da liberdade religiosa foi o toque que faltava para selar o apoio dos dois grupos, que temem um excesso de poderes concedidos ao ministro do Supremo Alexandre de Moraes.
Tido como inimigo primaz do bolsonarismo, Moraes nunca foi próximo do PT. Por isso, integrantes da legenda acreditam que o magistrado não pensaria duas para aplicar contra aliados de Lula a mesma mão pesada que tem adotado contra os bolsonaristas.
O primeiro atrito entre Moraes e o PT surgiu na última semana, quando a presidente da sigla, Gleisi Hoffmann (PR), afirmou que o Brasil é um dos únicos lugares que tem Justiça Eleitoral no mundo, e que isso seria "um absurdo".
Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes divulgou uma nota afirmando que manifestações como a de Gleisi são "errôneas e falsas" e que a Justiça Eleitoral continuará a combater "forças que não acreditam no Estado democrático de Direito".
Por isso seria importante colocar no cargo alguém capaz de funcionar como um polo de poder alternativo a Moraes e alinhado ao petismo e evangélicos.
E se mesmo com os apoios Messias não for indicado, líderes evangélicos e dirigentes petistas preferem bancar o presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Bruno Dantas, a apoiar o ministro da Justiça, Flávio Dino (PSB), tido como favorito para a vaga que se abrirá com a aposentadoria de Rosa Weber.
Na visão de parte do PT e da totalidade da bancada evangélica, Flávio Dino é próximo de Moraes e tenderia a reforçar a liderança do ministro no Supremo.