Quem conhece ou vê uma foto da deputada estadual Dani Portela (PSOL) conclui que seria redundância falar que ela é mulher e negra. Mas Dani faz questão de juntar essas duas características à sua postura de pré-candidata a prefeita do Recife, lançada com vigor esta quarta-feira na presença de lideranças de esquerda da capital que começam a vê-la como representante do segmento, já que o palanque do prefeito João Campos (PSB), que está bem à frente em todas as pesquisas, cresceu tanto que reúne hoje do PT e PCdoB ao Republicanos do ministro Sílvio Costa Filho e aos políticos da família Coelho, de Petrolina. Sem contar com vereadores de todos os matizes.
“Sou a verdadeira representante da esquerda nessa eleição”, fala a deputada, com convicção, e acrescenta “o PSOL sempre foi oposição ao PSB, todo mundo político sabe disso, estivemos juntos na campanha de Lula em 2022, por decisão nacional, mas agora a história é outra. A eleição é municipal e nossa linha é de oposição ao PSB como sempre foi. Vamos mostrar um modelo de gestão de cidade diferente do deles. Queremos um Recife que não privatize praças e parques e que se pareça com o seu povo. Uma cidade inclusiva em todos os aspectos”.
Além dos cabelos soltos e encaracolados, Dani tem como marca pessoal uma rosa que mantém frequentemente na cabeça. A cor muda de acordo com a roupa que usa. Líder de oposição à governadora Raquel Lyra, na Assembléia, e mantendo um discurso afirmativo mas não pessoalmente radical, como acontece com o PSB e com os bolsonaristas mais afoitos do PL, ela já demonstrou que, apesar dos números desfavoráveis nas pesquisas de intenção de voto, disposição é o que não lhe falta para enfrentar as intempéries. Aos 49 anos, enfrentou uma gravidez de risco e celebrou a chegada há poucos meses do seu segundo filho Jorge, que ainda amamenta. A primeira filha, Cecilia, tem 12 anos. A esses ela acrescenta Aline de 21 anos e Antonio, de 14, filhos do seu atual marido, Jesualdo Campos. Advogada, historiadora, ela fala com propriedade das causas que abraça.
Este ano seu tema principal de campanha ao lado do programa de Governo que vai elaborar “ através de plenárias com os movimentos sociais da capital”, é a desigualdade social do Recife. Seu lema é “Promover direitos e reduzir desigualdades”. Ela diz que o fato do Recife ser hoje a segunda capital mais desigual do Brasil não é à-toa : “ a cidade precisa mudar de mãos. Está há muito tempo, com raras exceções, nas mãos das mesmas famílias que se alternam no poder e não representam a maioria de nossa população.”
Segundo ela, “a maioria do povo do Recife é constituída de “mulheres, negros, desempregados que não se vêm representados pela classe política que temos. Fala-se em casa do povo mas onde o povo se vê nesse retrato?”- indaga, afirmando que a maior alegria que teve como política “ foi a observação que ouvi de uma criança a quem entreguei um panfleto no sinal de trânsito. Ela olhou para a foto, olhou pra mim e disse: a senhora parece com minha mãe. Outros me falam que pareço com uma tia, uma cunhada. Poucos políticos podem ouvir isso. O povo está distante desse poder”.
Dani acredita que o fato de Pernambuco ter eleito duas mulheres, Priscila e Raquel, para governar o estado em 2022 e a senadora Teresa Leitão são um sinal de que as coisas começam a mudar. ”Pelo menos na questão de gênero, mas a capital até hoje não foi governada por uma mulher embora tenha a vice Isabella de Roldão, eleita em 2000. Se formos ver os prefeitos do estado como um todo são poucas as mulheres entre eles e, de negra, só tem a prefeita Judite Botafogo, de Lagoa do Carro”.
A deputada já foi testada nas urnas em três oportunidades. Em 2018 foi candidata a governadora e terminou o pleito com 188 mil votos. Em 2020 foi a vereadora mais votada do Recife com 14 mil votos. Em 2022 chegou à Assembléia Legislativa com 38 mil votos. Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alepe foi guindada a líder da Oposição, ganhando, de cara, uma projeção que outros psolistas não tiveram no estado. Apesar disso, o PSB não lhe garantiu assento na Comissão de Justiça, a mais importante da casa e na qual é muito elogiada pelo conhecimento jurídico que tem, sempre que fala representando a oposição. Mas sem direito a voto.
Ela espera os debates, quando todos os candidatos têm o mesmo tempo, para mostrar a que veio. “O PSOL só tem segundos na propaganda eleitoral mas mesmo assim tem conseguido avançar a cada eleição “. O partido tem dois vereadores na capital, entre eles, Ivan Moraes que se destaca no legislativo mas desistiu de concorrer este ano. Na campanha de 2022 por pouco o PSOL não elege uma deputada federal, a mulher trans Robeyoncé que teve expressivos 80 mil votos e ajudou a eleger o atual deputado Túlio Gadelha pela federação PSOL/REDE.
O mesmo Túlio que continua trabalhando para ocupar o lugar de Dani, sob o argumento de que a escolha é nacional e não local. Dani foi escolhida pela Federação Municipal e recebeu, segundo ela, o apoio da nacional à sua postulação. Diz que Túlio só está na Câmara porque juntou seus votos aos do PSOL e fala que a reciprocidade prevista na federação pressupõe que a cada nova eleição um partido tenha a preferência. Fora isso ela diz que o PSOL tem 70% dos votos da Executiva da Federação no Recife e a REDE só tem 30%.
A proposta da deputada é ter duas mulheres negras em sua chapa mas a vice ainda não foi escolhida.