Superexposição?

Pequenos influenciadores: bebês de celebridades acumulam milhares de seguidores nas redes sociais

Desde antes de nascer, a vida dessas crianças são acompanhadas por milhares de pessoas nas redes sociais

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Agnes Vitoriano

Publicado em 13/11/2021 às 15:33
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Um dos maiores fenômenos das redes sociais, os perfis infantis, normalmente geridos pelos pais, criam pequenos influenciadores digitais e, entre eles, uma nova categoria emerge: os bebês de celebridades. Todos querem ver os rostinhos dos novos seres e se sentir perto da rotina daquela criança, que acaba se tornando um usuário do mundo digital.

Desde antes do seu nascimento, esses pequenos já influenciam milhares de pessoas em redes como Instagram e TikTok com a administração de seus pais, que já trabalham na área e veem nesse momento uma nova oportunidade de atrelar o registro do crescimento dos filhos a uma renda econômica.

 

Esse é o caso de Sammy Lee, mãe de Jake, que acumula mais de 2.3 milhões de seguidores no Instagram. O bebê é fruto do seu relacionamento com o ex-BBB Pyong Lee. Para ela, é interessante que bebês já nasçam em uma era digital, cheio de possibilidades e redes sociais. Porém, a influencer pensa no perfil de seu filho como uma herança de momentos e uma possibilidade de ascensão profissional no meio digital.

“É até curioso pensar que o Jake faz parte de uma geração completamente nova, os ‘bebês de Instagram’, onde não temos informação nenhuma sobre os efeitos das forte presença da internet, apenas navegamos neste oceano desconhecido, buscando sempre o melhor para nossos filhos," conta.

Sammy ainda conta que não pretende deixar o filho acessar as redes do qual é estrela como uma forma de preservação. "Por isso, não pretendo deixar o Jake acessar as redes sociais tão jovem, a infância foi feita para brincar. Penso no Instagram dele como uma herança, como mãe babona assumida, quero que ele realize todos seus sonhos, que alcance a lua. Milhões de seguidores vão ajudá-lo em qualquer carreira e direção profissional que ele venha a escolher, isso é um fato. E também serve como um registro pessoal das fotos dele, para nós, como família, e para os seguidores, que têm um carinho muito grande por ele”, esclarece.

Essa herança profissional relatada por Sammy atrai cada vez mais produtores de conteúdo para o ramo, o que tem acontecido cada vez mais cedo, como o perfil de Maria Alice, filha de Virginia com Zé Felipe. Antes mesmo de nascer, ela acumulava 2 milhões de seguidores no Instagram. 

Isso é o que pensa Isabela Soller, assessora especializada em influenciadores digitais. Para ela, quanto mais cedo for a criação desse perfil infantil já inserido em um núcleo de celebridades, melhor. “Hoje, seguidor e engajamento é dinheiro e profissão. Se os pais estiverem no gerenciamento dessa rede, eu não vejo problema nenhum, contanto que a exposição não seja exagerada. É como se fosse filho de cantor ou artista lá atrás, onde as crianças ingressaram na carreira artística desde cedo, sem necessariamente fazê-las trabalhar, mas apresentando esse mundo que eles já têm experiência. Se elas optarem por seguir o mesmo caminho dos pais, já tem um norte. Nos dias atuais, mais do que nunca, é necessário estar bem posicionado na nossa profissão”, ela explica.

Na ideia imediata, explica Issaaf Karhawi, pesquisadora em comunicação digital no CultPop e autora do livro "De blogueira a influenciadora", esse também é o momento para um posicionamento de marketing, em que outros públicos antes não atingidos pelos pais, podem ser almejados com a criação desse novo mundo. "Quando eles decidem criar perfis só para os filhos, existe também uma questão estratégia de posicionamento. Aquele perfil passa a ser um perfil voltado para um público específico, talvez diferente do público original do influenciador. Aquele perfil pode fazer outros tipos de publicidade, talvez relacionadas ao universo infantil ou para mães", explica.

Diário de Gravidez

A influenciadora Jade Seba, mãe do Zion, revela que começou a usar as redes sociais para o seu filho, que hoje acumula 145 mil seguidores, por meio de um diário de gravidez. Isso funcionou na sua transição de fase, sendo o perfil do seu filho, uma extensão de sua vida, com memórias compartilhadas em fotos e vídeos.

“Fiz de forma despretensiosa, apenas como um espaço onde eu pudesse compartilhar minha fase maternal. E confesso ser uma delícia ficar vendo fotos do Zion em uma linha do tempo direta e acompanhar seu crescimento, sem falar que toda nossa família consegue ter acesso a esse material tão especial. O instagram do Zion funcionou como uma ferramenta que me ajudou nessa transição de direcionamentos. Aos poucos fui introduzindo mais e mais desse universo gostoso de maternidade na minha própria rede e o perfil do Zion solidificou como uma espécie de bônus, uma extensão desse aspecto tão importante da minha vida”, ressalta Jade.

Como a geração de bebês influenciadores é totalmente nova, não se sabe de fato como essas plataformas irão se desempenhar ao longo da vida deles. Com grande experiência no marketing, Soller destaca algumas previsões em relação a essa questão, acreditando que 90% das crianças que têm perfis nas redes sociais irão usufruir dessa plataforma, como principal profissão ou como um apoio.

“As redes sociais se tornam uma vitrine da pessoa, em tudo que ela for fazer. Esses mini-influenciadores irão utilizar bastante das plataformas criadas pelos pais. Acredito que uma pequena parcela não vai querer usar, mais por conta de perfil e personalidade mesmo. Mesmo assim, quando a pessoa é de uma família famosa, como Enzo Celulari, utiliza seus milhões de seguidores para trabalhar. Mesmo não sendo sua profissão primária, ele trabalha bastante com sua imagem, por ser filho de duas celebridades. Já a Sophia Raia, irmã do Enzo, deixa as redes sociais fechadas, não gosta de exposição, não trabalha com isso, mas ela tem um monte de solicitação só por ser filha de quem é", detalha.

Hiperexposição e Segurança

Mesmo em uma plataforma com milhões de seguidores desde cedo, no futuro essas crianças pode usar ou não o perfil, tendo a opção de usufruir dele profissionalmente. Porém, a exposição tão cedo dificulte um pouco esse processo. 

No caso de celebridades, Isabela explica que criar uma rede social desde o nascimento é ótimo, no que se refere à carreira e vida financeira, mas alerta que a exposição seja moderada, e a conta seja gerenciada pelos responsáveis. E, em relação aos limites de exposição de um bebê nas redes sociais, ela explica que isso é responsabilidade dos pais, e sugere que eles tenham acesso ao perfil dos filhos até determinada idade, como sinônimo de segurança.

"Pai é quem cria, educa e dá suporte. Minha sugestão é que acessem as contas dos filhos, pelo menos até 15/16 anos, que eu acredito que seja a idade onde começamos a ficar mais tranquilos quanto a maturidade da criança. Em relação à exposição, tudo precisa ser bem dosado. Tem que ser de forma leve, natural, orgânica, e que os pais sempre estejam juntos e façam o trabalho grosso mesmo. Caso isso ajude na renda familiar ou futuro profissional, muito provavelmente eles vão agradecer. Mas vale frisar que o importante é não sobrecarregar nem a imagem e nem o dia-a-dia dessas crianças. Precisamos ir sentindo aos poucos também a personalidade de cada bebê ao longo do seu crescimento apenas por nascer em meio a um clã famoso, você vai ter essa ferramenta disponível, depende de cada um usar ou não a seu favor”, finaliza Isabela.

Essas consequências no futuro dos bebês influenciadores ainda são bastante difíceis de mapear devido ao grande mar de incertezas que a internet continua a gerar. Porém, algumas teorias podem ser analisadas. Para Issaaf, esse gigantesco número de postagens deixam rastros de cada detalhe da vida desses seres digitais, o que pode chegar a afetar a privacidade deles.

"O que a gente acaba ignorando são que essas postagens deixam rastros. Rastros de uma criança ainda em momento de gestação, passando por todas as etapas da vida, a primeira infância ou até o momento em que ela mesma começa a ter suas próprias redes sociais, o que tem sido cada vez mais cedo. Os rastros digitais vão se configurando como um volume muito significativo de informações sobre aquela pessoa. É como se uma criança de 2 anos tivesse todas as imagens da sua vida publicadas em uma rede social. Então, a longo prazo: será que a gente teria inteligência artificial que poderia ler essas imagens ou extrapolar ainda mais o limites da privacidade dos dados dessas crianças?", questiona.

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