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A MULHER DA CASA ABANDONADA: O que Margarida Bonetti disse sobre as acusações de escravidão nos EUA? Veja a versão dela para a história

Margarida Bonetti fornece suas versões dos fatos relatados no podcast e se defende das acusações de escravizar uma mulher nos Estados Unidos

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Lívia Maria

Publicado em 20/07/2022 às 8:19 | Atualizado em 20/07/2022 às 8:35
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O último episódio do podcast 'A Mulher da Casa Abandonada' chegou às plataformas de áudio nesta quarta-feira (20). O desfecho da série traz a primeira entrevista de Margarida Bonetti, acusada de escravizar uma mulher nos Estados Unidos, sobre o caso.

Com quase uma hora de duração, o episódio traz a versão de Margarida Bonetti do ocorrido há 24 anos na casa onde morava com seu ex-marido Renê Bonetti. A mulher, que hoje em dia mora em um casarão abandonado em Higienópolis, São Paulo, insiste: ela é inocente de todas as acusações e nunca foi sequer citada pela investigação do FBI.

Chico Felitti, jornalista responsável pelo podcast, confronta Margarida em diversas ocasiões, trazendo os fatos apurados pela investigação do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos: Margarida sabia o que acontecia em sua casa e era ela a responsável por agressões físicas à vítima, que também teve atendimento médico negado e nunca recebeu salário pelo trabalho doméstico.

Para ela, o FBI está mentindo. Todas as provas colhidas pelos agentes federais fazem parte de uma conspiração das autoridades dos Estados Unidos para passar uma lei que beneficiaria as empregadas domésticas estrangeiras que trabalhavam no país.

O que diz Margarida Bonetti?

Margarida Bonetti inicia a conversa se defendendo das acusações e se distanciando de Renê, que foi condenado pelos crimes. Ela afirma que eles não são mais casados desde 2007, data que coincide com o fim da pena do ex-marido.

"Eu me divorciei desse homem por causa dessa porcariada toda. Dessa imundice toda, tá?", explica ela.

Margarida fala em diversas passagens da entrevista que não sabia o que ele fazia com a empregada do casal.

"Eles pensam que a pessoa que é casada com alguém que fez algumas coisas, que ela sabe do que ele está fazendo e tudo e eu não sabia de nada do que ele fazia, tá? Eu não sabia", afirma.

Em relação à conspiração das autoridades, ela é enfática: toda a história foi inventada por um grupo de advogados em concluo com o FBI para passar uma lei no Congresso americano.

"Eles criaram essa coisa toda, essa imundice, inventaram um monte de coisas e é por isso que eu faço questão de falar com você. Porque eu quero que você saiba o que foi inventado", completa Margarida.

A lei que Margarida Bonetti cita é um projeto que dava às empregadas estrangeiras o direito de ficar nos Estados Unidos depois de denunciar patrões por trabalho abusivo ou por agressões. A lei foi aprovada depois que o caso dos Bonetti veio a público.

"Existia, não sei se ainda existe, como se fosse uma máfia, organização de advogados que queriam ganhar dinheiro através do caso das empregadas que iam pros Estados Unidos e queriam se desvincular dos seus patrões", explica.

Ela diz ainda que a lei não beneficia as trabalhadoras domésticas, mas quer tirar dinheiro dos patrões.

"Eles precisavam que fosse aprovada uma lei para que isso fosse possível, para que elas pudessem se desvincular legalmente dos patrões sem ficar ilegais lá no país", completa.

Margarida Bonetti negou atendimento médico à vítima

Durante a entrevista, Felitti novamente fala que a vítima tinha sete tumores na barriga e que estava vomitando sangue quando chegou ao hospital. Neste ponto, Margarida Bonetti diz que o tumor é uma "coisa normal" que acontece em mulheres, "principalmente as negras".

"Esse tumor se alimenta pelos vasos sanguíneos e pelos hormônios da pessoa, entendeu? Então uma mulher, principalmente as negras, isso foi me dito, que as mulheres de raça negra têm maior tendência a ter esse negócio", fala.

Segundo ela, o tumor é algo "natural" que desenvolve no corpo da mulher e que desaparece depois da menopausa. Margarida continua a afirmar que a vítima foi atendida pelos médicos nos Estados Unidos, mas não há registros nos relatórios do FBI que a mulher tenha estado em uma clínica ou hospital em território americano depois de 1984.

"Ele [Renê Bonetti] deu todas as provas para o FBI. E o FBI pegou e fez isso, sumiu com tudo e depois disse que não existia. O que é uma grande mentira", reitera ela.

Margarida Bonetti nega agressões à vítima

O processo do FBI também cita que Margarida Bonetti era a responsável pelas agressões à vítima, mas ela nega.

Para ela, as duas eram amigas: "Ela era minha melhor amiga", fala em determinado momento da entrevista.

Apesar de considerar a mulher como sua amiga, Margarida afirma que não sabia mais detalhes sobre sua vida nos Estados Unidos: ela tinha total desconhecimento se a mulher recebia salário pelo trabalho.

Segundo ela, as denúncias de trabalho análogo à escravidão, que partiram da vizinha Vic Schneider, aconteceram porque esta tinha uma vingança contra os Bonetti.

"Eu nunca fiz nada", se defende novamente. "Eu não sou essa pessoa que inventaram. Eles in-ven-ta-ram uma pessoa, porque essa Vic Schneider, por vingança, ela começou a fazer as coisas de raiva da gente, e depois porque ela queria a amiga dela pertinho dela. Ela é uma pessoa voluntariosa, essa Vic Schneider", explica.

Para ela, Vic Schneider denunciou o casal porque eles compraram uma casa que a amiga dela queria comprar.

"Nós compramos a tal da casa, ela não queria porque ela queria a amiga dela lá. Passamos na frente dela fazendo uma coisa que ela não queria, e ela nos castigou", completa.

VÍDEO: Amiga revela o que a Mulher da Casa Abandonada falava sobre empregados

Como Margarida Bonetti fugiu para o Brasil?

Outro ponto importante para entender a história de Margarida Bonetti é saber como ela fugiu para o Brasil durante a investigação do caso. Segundo ela, ela já estava no país quando tudo aconteceu.

Na versão de Margarida, seu ex-marido voltou aos Estados Unidos e não encontrou mais a empregada dentro de casa. Ela diz ainda que a mulher deixou a casa bagunçada e cheia de restos de comida.

Depois que Renê Bonetti foi citado na investigação do FBI, Margarida, que ainda estava no Brasil, disse que ligou para eles, justificou sua ausência por motivos de saúde e pediu para que eles adiassem o inquérito.

Felitti questiona por que ela não voltou aos Estados Unidos depois da melhora de saúde e ela é evasiva: responde que sua mãe, Maria de Lourdes, foi testemunhar no julgamento do ex-marido.

"Eu tenho a saúde, tinha e continuo tendo, a saúde delicada", justifica.

Por fim, Margarida reitera que não sabia do que era acertado entre Renê Bonetti e a empregada, já que ela foi para os Estados Unidos sob a condição de não cuidar de nada relacionada à mulher devido sua saúde frágil.

"Eu falei: 'Olha aqui, eu não quero ir para os Estados Unidos. Eu não tenho condição de fazer coisa nenhuma e eu não vou. Não tenho condições! Não quero'", explica, alegando que foi para o país contra sua vontade e que passava cerca de oito meses no Brasil todos os anos.

Ela reafirmar: a mulher era livre.

"Eu dava muita liberdade pra ela. Além de eu ficar de seis a oito meses no Brasil e ela sozinha, portanto, eu jamais poderia ter mantido ela como escrava, análoga à escrava, porque eu estava aqui. E ela estava lá. Com a chave da casa, entendeu?", diz.

Ainda na teoria da conspiração, Margarida Bonetti finaliza a entrevista afirmando: o FBI montou um caso contra ela e seu então marido como em filmes de ação.

"Muitos desses filmes de ação mostram muito bem o FBI, que eles fazem acordos com pessoas, porque eles têm interesse deles e das pessoas de conseguirem alguma coisa, que no caso era a tal da lei que realmente eles conseguiram passar. Eles conseguiram o que eles queriam, eles tinham esse interesse de acordo, o FBI. O FBI não é um pessoal, ai maravilhoso, super honesto, não é", pontua.

Apesar de ter contado toda a sua versão dos fatos, Margarida ainda pede que o podcast não seja publicado. Ela tenta dissuadir Chico Felitti de abandonar o trabalho e "buscar dinheiro em outra coisa".

O jornalista não o faz. O caso é de extrema importância para entender as manobras da elite brasileira que, ainda hoje, escravizam pessoas negras e pobres. O caso dos Bonetti não é o primeiro do tipo e, infelizmente, não é o último.

VÍDEO: Renê Bonetti foi condenado nos Estados Unidos por escravizar brasileira

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