Desacreditada pelos críticos e em baixa com a torcida. Essa era a situação da seleção brasileira às vésperas da Copa do Mundo de 2002. Após classificação suada nas Eliminatórias Sul-Americanas, conquistada apenas na última rodada com a vitória por 3x0 contra a Venezuela, a seleção carimbou o passaporte para a competição na Coreia do Sul e no Japão. Primeira edição de um Mundial no continente asiático e com sede dividida por dois países, a Copa trouxe a inovação como um dos principais cartões de visita. Exemplo disso foram os estádios altamente tecnológicos, como o Oita Big Eye, com teto retrátil e o Sapporo Domo, em que a grama era mantida do lado de fora e antes da partida era colocada na parte interna. Nos gramados, um dos maiores destaques foram as zebras, como a chegada até as semifinais dos anfitriões coreanos e dos turcos.
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Sorteado para uma chave sem equipes tradicionais, o Brasil encarou Turquia, China e Costa Rica pelo Grupo C. Logo na primeira partida, um susto. No fim do primeiro tempo, o atacante Hasan Sas abriu o placar para os turcos. Na segunda etapa, aos cinco, Ronaldo se esticou e escorou para dentro o bom cruzamento feito por Rivaldo e igualou o marcador. Após um tento de Rivaldo ser anulado, o empate parecia ser o resultado, até que um erro do árbitro Kim Young-Joo deu novo rumo ao jogo. Aos 41, o atacante Luizão foi derrubado fora da área, mas o juiz marcou pênalti. Na cobrança, Rivaldo deixou o dele e deu os três pontos para a Canarinho.
Na partida seguinte, diante dos chineses, um verdadeiro chocolate. A goleada foi comemorada ao som dos 4 erres daquela geração: Roberto Carlos, Rivaldo, Ronaldinho Gaúcho e Ronaldo. O lateral-esquerdo marcou de falta com um forte chute no canto do goleiro. Em seguida, Ronaldinho lançou para o pernambucano balançar as redes. O gaúcho fez de pênalti e o Fenômeno deram os números finais da partida. Já garantida na fase seguinte, a seleção entrou em campo com apenas parte dos titulares no confronto diante da Costa Rica. A opção do técnico Felipão não afetou o rendimento do time, que aplicou mais um placar elástico, 5x2. Além da dobradinha do camisa 9 e de mais um gol de Rivaldo, o zagueiro Edmílson e o lateral-esquerdo Júnior anotaram uma vez cada.
O confronto contra a Bélgica marcava a chegada ao mata-mata e com ele a tranquilidade da fase de grupos se despedia. Nas oitavas, um dos jogos mais complicados para a seleção, com destaque para o goleiro Marcos, que justificou o apelido de São Marcos recebido pela torcida palmeirense na época. Após um primeiro tempo acirrado e poucas chances na frente, a partida foi para o intervalo em 0x0. Mas, um toque pernambucano deu a vantagem ao Brasil. Não apenas um toque, mas um belo chute do meia Rivaldo para colocar o time na frente. O meia dominou no peito, ajeitou com a perna esquerda e arrematou sem chances para De Vlieger.
Na sequência, um duelo que costuma trazer sorte para o time Canarinho. Oponentes nos títulos de 1958, 1962 e 1970, os ingleses reapareciam na jornada brasileira, nas quartas de final, assim como na conquista do bicampeonato. Se naquele ano o personagem da partida foi Garrincha, em 2002 foi a vez de outro habilidoso jogador ser o protagonista: Ronaldinho Gaúcho. Antes dele se destacar, o zagueiro Lúcio falhou diante de Michael Owen, que abriu o marcador aos 22 da primeira etapa. Perto do intervalo, Rivaldo recebeu passe do camisa 11 e empatou. Na volta para o segundo tempo, um gol antológico mostrou a genialidade do gaúcho. De fora da área, ele cobrou com efeito no ângulo do adiantado David Seaman, que saía para evitar o lançamento e nada pôde fazer quando viu a bola entrar. Paradoxalmente, o autor de uma pintura foi o responsável por um lance de mau gosto poucos minutos depois ao entrar com a parte de baixo do pé na canela do lateral-direito Walker. A infração lhe rendeu o vermelho e, consequentemente, a suspensão para a semifinal.
O jogo contra a Turquia marcou o reencontro entre as duas seleções e os europeus seguiam em busca da vingança. A participação de Marcos na meta verde e amarela foi fundamental para assegurar o placar no primeiro tempo, marcado por boas chances dos turcos. Após o perigo sentido pela defesa da equipe Canarinho, foi a vez do ataque brilhar. As boas chances criadas nos pés de Ronaldo e Rivaldo indicavam que o gol estava próximo e, aos cinco minutos da segunda etapa, ele chegou. Em bela trama pelo lado esquerdo do campo, o Fenômeno arrancou entre a marcação adversária, entrou na área e deslocou o goleiro Rüstü em um toque com a ponta da chuteira. O tento decretou não só o resultado da partida como a chegada do Brasil a mais uma decisão, a terceira consecutiva.
A FINAL
Diante da força do esquadrão Canarinho, dono do melhor ataque do torneio com 16 gols antes da decisão, a Alemanha crescia como a melhor defesa, com apenas um tento sofrido ainda na fase de grupos para a Irlanda. Oliver Kahn, goleiro dos germânicos, e Ronaldo, artilheiro do Brasil, retratavam este duelo de titãs. Em campo, o jovem volante Kléberson assustava com boas investidas, como uma bola no travessão. Mas, o melhor ficou guardado para a segunda etapa. Aos 22, Ronaldo insistiu após perder a bola, retomou a posse e tocou para Rivaldo chutar, no rebote, o camisa 9 não perdoou a falha do arqueiro adversário. Aos 33, o atacante recebeu de Kléberson para marcar o segundo e sepultar as chances alemães de recuperação. O resultado coroou a atuação de um time colaborativo, garantiu o penta fez o mundo voltar a vestir verde e amarelo depois de oito anos.