Análise

Em Pernambuco, violência é pauta garantida no debate eleitoral de 2018

Deficiências no Pacto pela Vida prejudicam o PSB e viram prato cheio para a oposição, mas debate ainda precisa ganhar profundidade

Renata Monteiro
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Renata Monteiro
Publicado em 23/09/2017 às 14:40
Foto: Aluisio Moreira/SEI
Deficiências no Pacto pela Vida prejudicam o PSB e viram prato cheio para a oposição, mas debate ainda precisa ganhar profundidade - FOTO: Foto: Aluisio Moreira/SEI
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Depois do apogeu do programa Pacto pela Vida (PPV), criado em 2007 pelo ex-governador Eduardo Campos (PSB), Pernambuco assiste, ano a ano, ao crescimento dos índices de criminalidade do Estado. Entre janeiro e agosto de 2017, 3.735 pessoas foram assassinadas do Litoral ao Sertão, número superior ao registrado em todo o ano de 2014 (3.434), por exemplo. Assaltos a ônibus, estupros e crimes ligados ao tráfico de drogas se multiplicam. Nesse cenário, a violência tornou-se a protagonista das discussões acerca do futuro político pernambucano e um obstáculo de peso nos projetos de reeleição do governador Paulo Câmara (PSB).

“Há alguns anos, todas as pesquisas indicavam o problema da saúde pública como a principal demanda e o principal elemento de desgaste dos governos. Hoje, seguramente, a saúde passa a ter uma posição secundária, pois as pessoas podem ou não adoecer, mas a insegurança gera um temor imediato”, pontua o sociólogo José Arlindo Soares.

De acordo com a cientista política Priscila Lapa, por afetar diretamente o dia a dia da população, é provável que a segurança pública dite os rumos do debate eleitoral de 2018. “Muitos acreditam que a pauta da ficha limpa vai tomar o cenário eleitoral. É possível que isso tudo venha à tona, mas acredito que esse não seja um tema dominante, pois, historicamente, pautas de cunho moral não costumam dominar o debate em eleições municipais e estaduais. Nessas esferas, políticas públicas que têm impacto direto na vida das pessoas costumam ter mais presença nas campanhas”, afirma.

OPOSIÇÃO

Os recorrentes casos de violência e a tímida ofensiva do PPV viraram um prato cheio para os ataques da oposição ao governo Paulo. “Infelizmente o governo está perdendo a guerra para a criminalidade”, declarou o deputado estadual Silvio Costa Filho (PRB), líder da oposição na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), na última semana. O deputado e outros cinco parlamentares solicitaram ao Palácio do Campo das Princesas que a Força Nacional de Segurança seja acionada para auxiliar no enfrentamento à insegurança no Estado, gesto que Paulo classificou como “eleitoreiro”.

Sempre que é questionada sobre os números da violência em Pernambuco, a equipe do governador tem indicado as ações que a gestão vem adotando para reduzi-los e afasta as discussões políticas que cercam o tema. Procurado pela reportagem, o presidente do comitê gestor do PPV, o secretário de Planejamento e Gestão do Estado, Márcio Stefanni, afirmou que não atua na esfera política e que é um “mero técnico” no conselho. Questionado se falaria sobre dados do programa, disse que preferia não participar da matéria.

Na visão do cientista político Clóvis Miyachi, é necessário, tanto ao governo quanto aos seus opositores, o interesse no diálogo para transpor o desafio da insegurança no Estado. “Falta à situação e à oposição o respeito às suas inteligências. O momento é de unir forças, de ouvir especialistas, pois temos capacidade de equacionar o problema da insegurança”, comenta o estudioso.

RESPONSABILIDADE NO DEBATE

A seriedade no trato com o tema, ressaltam os especialistas, será cobrada pelo eleitorado em 2018. Para Priscila Lapa, por exemplo, a população exigirá dos candidatos sugestões embasadas, seguras, para a resolução do problema, deixando de considerar críticas vazias e defesas inconsistentes.

“Os partidos terão que apresentar propostas concretas no período pré-eleitoral. O próprio discurso do governo está começando a ganhar um tom de concretude, procurando mostrar com números, com dados, quais as ações que têm sido feitas. A oposição também vai ter que ter essa inteligência, de saber compartilhar a dor do eleitor, mas dizendo o que vai fazer e como vai fazer”, afirma.

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