Na primeira viagem desde a retomada do turismo, o casal de empresários paulistas Rosa Silveira, 49 anos, e Marconi Andrade, 54, decidiram realizar um sonho antigo: visitar Porto de Galinhas. Chegaram na sexta-feira (30/10) para uma estada de sete dias no balneário. Na programação, estava previsto apenas um bate e volta à Praia de Carneiros, em Tamandaré. Do Cabo e da Ilha de Itamaracá, dizem "não saber muita coisa", enquanto Recife e Olinda "vão ficar para a próxima". Rosa e Marconi representam o principal perfil de turistas que visitam Pernambuco por via aérea: aqueles que desembarcam no Aeroporto Internacional do Recife e vão direto para Ipojuca ou seguem viagem para o Arquipélago de Fernando de Noronha.
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Apesar de ainda apresentarem deficiências, sobretudo de infraestrutura para as populações locais, esses destinos têm o mérito de terem conseguido se organizar e se projetar nacional e internacionalmente. Até por uma questão de limitação de capacidade, no entanto, não serão capazes sozinhos de sustentar o crescimento do turismo do Estado, que precisa ampliar horizontes, para sobreviver.
Dentro do Brasil, Pernambuco ocupa apenas o 11° lugar entre os Estados mais visitados, recebendo 3,2% do total de deslocamentos no País, atrás da Bahia, na terceira posição (8,7%), e do Ceará, na oitava (4,3%). Os dados do módulo Turismo da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) de 2019 apontam, portanto, degraus a conquistar.
No Recife, a aposta para descentralizar a atividade e atrair o visitante interessado em experiências inovadoras é no turismo criativo. A secretária da pasta, Ana Paula Vilaça, diz que metade das 52 ações previstas já foram executadas nas comunidades da Ilha de Deus, Bomba do Hemetério e Brasília Teimosa. A próxima etapa será na Várzea.
Para o Bairro do Recife, o plano de recuperação é mais complexo. Envolve diferentes secretarias, como as de Planejamento Urbano e Habitação, desafio de décadas e que até agora não se concretizou. De imediato, afirma Ana Paula, há a intenção de tornar a Rua do Bom Jesus exclusiva para pedestres, como foi feito com a Rio Branco.
Sobre o calçadão deteriorado na Zona Sul, a secretaria garante que, até o fim do ano, bancos e passeios serão recuperados. A revitalização dos quiosques de coco ficará a cargo de uma parceria com a iniciativa privada, a ser executada pela próxima gestão.
A requalificação da orla segue no lado de Jaboatão. O município conta com recursos de R$ 6 milhões do Programa de Financiamento à Infraestrutura e ao Saneamento (Finisa) para o projeto, que prevê ampliação da pista de cooper e interligação da ciclofaixa até Candeias, além da instalação de estações de ginástica e de novas quadras poliesportivas.
Ainda ao Sul, o Cabo ganhará o seu primeiro Centro de Atendimento do Turista (CAT) na Praça das Artes, em Gaibu, onde a avenida principal de acesso à praia (Laura Cavalcanti) será transformada em passeio apenas para pedestres e a orla será revitalizada, com investimento de R$ 7 milhões da prefeitura. Segundo o secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo, Moshe Caminha, também há investimentos privados previstos: serão dois receptivos turísticos nas Praias do Paiva e do Paraíso.
Em Ipojuca, várias obras estão sendo iniciadas dentro do programa TOP, que inclui pavimentação de ruas e instalação de novos equipamentos de lazer. De acordo com a secretária de Turismo, Carol Vasconcelos, uma iniciativa em parceria com empresários e moradores permitirá, ainda, a requalificação de alamedas. O saneamento, no entanto, cuja concessão pertence à Compesa, não está contemplado.
Na outra ponta do Litoral, a Ilha de Itamaracá iniciou o reordenamento da área das barracas de praia próximas ao Forte Orange e trabalha junto à Secretaria de Turismo do Estado e ao ICMBio para a reabertura do Projeto Peixe-Boi, um dos seus principais atrativos.
Já a vizinha Igarassu articula desde antes da pandemia um roteiro que envolve o patrimônio histórico, cultural e artístico, além da gastronomia e do turismo náutico de todos os seis municípios da região. Parte dos equipamentos está na Rota 14, na zona rural, em uma área ainda pouco conhecida até mesmo dos pernambucanos.
Formatar novas rotas fora do percurso tradicional do Sítio Histórico também é a estratégia de Olinda, que prevê ações no Quilombo de Xambá e na Casa da Rabeca, assim que for seguro do ponto de vista sanitário. Pedido recorrente do trade local, o calendário de apresentações culturais e eventos também deve ser reforçado, segundo o secretário de Patrimônio, Cultura, Turismo e Desenvolvimento Econômico, João Luiz da Silva Júnior.
Reinserido em 2019 no Mapa do Turismo Nacional, o município de Moreno aguarda ainda para este ano o término da obra de recuperação daquele que será o seu primeiro atrativo público bem estruturado: a antiga Estação Ferroviária abrigará museu, biblioteca, área de exposições e centro de atendimento a visitantes. Recursos de R$ 6,5 milhões conveniados com o governo federal permitirão também a melhoria das estradas rurais, facilitando o acesso aos 39 casarões históricos, engenhos e reservas ambientais da cidade.
Às vésperas das eleições municipais e diante das incertezas ainda decorrentes da pandemia, o desafio é fazer os projetos sobreviverem aos governos.