Sabe aquela sensação de que as escolhas feitas durante o ano não foram as certas e tudo conspira contra, como castigo, mesmo você procurando fazer, naquele instante, o seu melhor? O Santa Cruz vive uma temporada assim. A derrota para o Paysandu, ontem, por 2x1, no Arruda, pela Série C, foi um claro exemplo de que o festival de erros cometidos pela diretoria nesta temporada ainda ressoa dentro de campo. Eram 20 minutos de jogo. Partida ainda sendo estudada pelos atletas em campo. Tudo equilibrado, nada definido. Foi quando o zagueiro Júnior Sergipano, de forma inesperada, deu uma bola na caixa dos peitos de Nicolas. O atacante, que há tempos não sabia o que era marcar um gol, agradeceu e balançou as redes de Jordan. Abriu o placar e abriu as feridas do Santa Cruz. São seis jogos sem vitória na Terceirona. Por mais que faltem 12 rodadas para acabar a competição, o risco de queda à Série D assusta e muito a torcida. Até porque o desempenho do Tricolor na temporada é pífio.
Em toda temporada, o Santa Cruz realizou 32 partidas, válidas pelo Campeonato Pernambucano, Copa do Brasil, Nordestão e, agora, Campeonato Brasileiro da Série C. Ou seja, entrou em campo para disputar 96 pontos. Mas só conquistou 31. O aproveitamento é de 32,2%. Fruto de uma campanha lastimável até aqui: 7 vitórias, 10 empates e 15 derrotas. Marcou 32 gols, média de um por jogo. E viu sua rede balançar mais vezes: 36. O Tricolor está acumulando a indigesta sequência de nove jogos sem vitórias. A última ocorreu no dia 28 de abril, quando superou o Retrô, por 3x2, pelo Campeonato Pernambucano. Na Série C, segura a lanterna com muita força. Como se não fosse entregar para ninguém. São três pontos conquistados. Aproveitamento de 16%. Em seis jogos, fez apenas 3 gols. A diferença de pontos para o quarto colocado, que garante vaga na próxima fase da competição, é de seis pontos. O Tricolor precisa mudar a sua campanha da água para o vinho. Nos jogos que faltam precisa, no mínimo, ter 50%. Mas como acreditar que isso seja possível diante de tudo que já aconteceu no Arruda?
Não vamos voltar muito no tempo e lembrar o processo eleitoral. Acusações, farpas, brigas, reuniões, adiamento de eleições... Enfim, um verdadeiro caldeirão fervendo que só causou desgaste. A eleição aconteceu, Joaquim Bezerra venceu, assumiu o clube e começaram as mudanças que simplesmente desmantelou tudo. Foram quatro treinadores contratados. Um deles, Alexandre Gallo, comandou a equipe apenas três vezes, não gostou e pediu o boné. Havia sido contratado para o lugar de João Brigatti, que durante o tempo em que esteve no Arruda, não mostrava convicção no trabalho implantado. A equipe não tinha alma. O Santa Cruz também tentou Bolívar, que chegou na reta final do Estadual. Após o pernambucano, teve dez dias de treinos intensivos. Quando a Série C começou, o Santa Cruz não jogou o que se esperada, os resultados não apareceram e o treinador perdeu o emprego. Até que chegou Roberto Fernandes para tentar apagar o incêndio que, a essa altura, já toma conta do Santa Cruz no campeonato.
Mas Roberto precisa ser mágico para fazer o Tricolor ter identidade e padrão de jogo diante de tantas contratações. Até agora, foram 34 jogadores que aportaram no Arruda. Todo dia, sem exagero, o clube anuncia um reforço. E ainda vem mais. O treinador coral declarou que precisa de mais uma peça para o lugar do meia Chiquinho, que trocou o Arruda pelo futebol do exterior. As constantes saídas e chegadas de atletas me fizeram lembrar a declaração do presidente Joaquim Bezerra ao justificar as dispensas de Paulinho e Didira, no início da temporada. "Quem não render, vai embora". Até agora, poucos no clube renderam um bom futebol. Talvez isso justifique o Santa Cruz ir de encontro à máxima no futebol de que, numa Série C tão difícil financeiramente, menos é mais. Agora, numa situação tão complicada na tabela de classificação, os tricolores se agarram à fé para, pelo menos, escapar do rebaixamento à famigerada Série D.