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Raniel, ex-Santa Cruz, relembra abuso de álcool, drogas e drama pessoal; veja

Cria da base do Santa Cruz, Raniel já passou pelo Cruzeiro, São Paulo, Santos e atualmente defende o Vasco

Cadastrado por

Davi Saboya

Publicado em 12/02/2022 às 1:12 | Atualizado em 26/03/2022 às 16:44
Raniel foi contratado pelo Vasco nesta temporada - RAFAEL RIBEIRO/VASCO

ESTADÃO CONTEÚDO



Raniel, atacante com passagens por Santa CruzSão Paulo e Santos, se abriu sobre seus dramas pessoais nesta sexta-feira.

O jogador, atualmente no Vasco, falou que teve de lidar, entre outras coisas, com a dependência química e ausência dos pais durante sua infância e adolescência.

Ainda muito cedo, com a morte de seu pai, sua mãe o deu para a vizinha, que já tinha outros três filhos. Dione, como é chamada, passou a criá-lo "sem mesmo questionar", como contou o atleta.

>> Raniel, artilheiro do Vasco, tatua data que mudou a sua vida; é de cortar o coração

"Não gosto de julgar os pais que abandonam seus filhos, porque não sei o que se passava naquele momento" comenta o atacante. 

"Eu sou pai também e, por mais que eu tente, nunca vou sentir a gravidade da situação como a minha mãe sentiu ao perder meu pai, o tamanho das dificuldades que ela enfrentava, as incertezas todas, pra ter chegado ao ponto de me abandonar", relatou Raniel.

Segundo o atacante, a casa de Dione não oferecia nenhum luxo e era difícil sustentar seus quatro filhos. Foi no futebol que Raniel, assim como muitos outros jovens, encontrou uma possibilidade de melhorar sua vida e ascender socialmente.

"O pessoal do clube dizia que eu tinha talento. Só precisava manter a cabeça no lugar. Não consegui", relatou em texto publicado no site The Players Tribune.

Com 14 anos, Raniel cedeu ao mundo das drogas. De usuário, passou até a comercializar e traficar. No Santa Cruz, seu primeiro time como profissional, e já com 17 anos, foi pego no exame antidoping para cocaína. O sentimento nesse momento foi de "medo, vergonha e desemprego."

"Eu estava com a minha avó quando a TV deu a notícia da minha suspensão. Ela ficou tão mal, tão arrasada. Achei que eu fosse perder ela também. Isso me machucou mais do que a própria punição. Ver ela ali chorando na frente da televisão acabou comigo", contou.

Eu me senti caindo de vez mais no abismo e que ele não tinha fundo, que eu desceria pra sempre até morrer. Mas o Santa Cruz estendeu a mão e me resgatou. O clube me manteve no elenco mesmo eu não podendo jogar", completou Raniel.

BONS E MAUS MOMENTOS

No Cruzeiro, Raniel conta ter vivido uns dos melhores momentos e chegou a largar o álcool por um período. "Eles viam que eu estava querendo superar o meu passado e me ajudaram ao máximo."

Mas na sequência, os pesadelos de sua vida voltaram a atormentá-lo. Após deixar Belo Horizonte, em direção ao futebol paulista, Raniel teve de lidar com duas hospitalizações: sua e de seu filho, que quase o fizeram se afundar de vez nas drogas.

Em 2020, Felipe, de apenas nove meses, teve de ser internado, por conta de uma parada cardíaca. Revezando na UTI com a sua esposa, o atacante se utilizou da bebida para tentar esquecer os problemas da vida.

"Bebia, bebia, bebia até cair e bebia mais um pouco deitado. Só parava depois de desmaiar. Eu queria me destruir. Eu via que a qualquer momento algo grave ia acontecer comigo. E eu desejava que acontecesse, porque aquele abismo em que eu caí depois do antidoping no Santa Cruz ficou rasinho perto desse."

Início de carreira de Raniel no Santa Cruz foi bastante difícil - TATO ROCHA/ACERVO JC IMAGEM

Com seu filho recuperado e sem sequelas, uma trombose quase fez com que o jogador perdesse sua carreira e corresse risco de vida "Uma provável complicação da covid", como relatou Raniel, fez com que ele tivesse de ser operado às pressas. Nessa hora, ele confessa que chegou até a questionar Deus.

"Fizeram a cirurgia. Me recuperei e tentei voltar a treinar, mas não dava. A trombose tinha criado uma fibrose enorme na minha perna, encurtado um tendão, e eu mal conseguia colocar o calcanhar no chão.

Sem poder fazer o que eu amo, que é jogar bola, e bebendo cada vez mais, eu percebi que podia perder não só a minha carreira, mas também meus filhos e a minha família."

VIRADA

Raniel conta que foi nesse momento que decidiu nunca mais se entregar à bebida, e carregar essa marca consigo.

A tatuagem, estampada em seu rosto (07-12-20) simboliza a data em que ele deixou de beber, a maior de suas conquistas, dentro e fora do esporte.

Contratado no início do ano pelo Vasco, o jogador ganhou uma nova oportunidade de fazer o que ama, após passar por todas as dificuldades em 2020 e 2021, e tem o objetivo de trazer o clube de volta à Série A.

Contratado principalmente por conta do técnico Zé Ricardo, Raniel está pronto para demonstrar o que dele se espera. "Estou pronto para viver o melhor ano da minha vida. Mas, não importa o que aconteça nem quantos gols eu marque na temporada, eu finalmente me sinto em paz. Você não precisa sentir pena de mim".

"Apenas me conhecer. Eu sou Raniel, camisa 9 do Vasco, tenho 25 anos, três filhos e uma esposa incrível. E desde 07-12-20, não boto uma gota de álcool na minha boca" relata Raniel. 

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