Neste Dia da Felicidade (20 de março), o JC convidou Bruno Severo Gomes, doutor em medicina, psicanalista e professor da disciplina ‘Felicidade’, lecionada na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), para dar dicas de como enfrentar o isolamento e a quarentena provocados pela pandemia do novo coronavírus sem perder a alegria e a saúde emocional.
» A Felicidade nos tempos do coronavírus
Há pouco mais de três semanas, o coronavírus chegou ao Brasil. De lá para cá, tivemos casos confirmados pelo país, universidades e escolas, privadas e públicas, já cancelaram as aulas, empresas estão liberando o trabalho em casa, shows, apresentações culturais, eventos adiados, TVs mudando a programação, igrejas suspendendo missas, reuniões e cultos para evitar que as pessoas saiam de casa.
Antes de tudo, precisamos que cada um faça a sua parte seguindo as recomendações do Ministério da Saúde, tão faladas e comentadas, como evitar aglomerações, lavar bem as mãos com água e sabão e, quando não for possível, utilizar o álcool gel para a higienização. Uso de máscaras apenas quando na presença de sintomas como tosse, espirros ou dificuldade de respirar, para evitar o contágio a pessoas próximas.
O estresse nesse período de quarentena em casa pode promover medo e preocupação com nossa saúde e com a saúde de nossos familiares e amigos, mudança no período e qualidade do sono, ingestão alimentar, capacidade de concentração, agravamento de doenças crônicas, aumento do consumo de álcool, tabaco e outras drogas.
A modificação de uma rotina, claro que tem impacto em nossas vidas. Não ir trabalhar, ou não poder fazer as atividades diárias, como ir para academia, frequentar teatro, escola, igreja, ir para a universidade, pode trazer repercussão em nossa saúde emocional. É muito importante entender que, ao contrário de outros cenários de pandemia, nessa não temos medicamento específico contra o vírus, nem vacina. Logo, o único método que pode mudar o curso da pandemia é o isolamento social.
Somos seres essencialmente afetivos e sociais, e neste momento de quarentena, precisamos ressignificar o nosso espaço, nossos hábitos e nossa forma de ver a realidade. Os seres humanos são animais sociais, onde ligar-se à uma sociedade nos oferece uma vantagem evolucionária num mundo repleto de ameaças. Quando nos relacionamos e sentimos afeto, carinho, compaixão e sentimentos de proximidade e de companheirismo, ocorre a liberação de hormônios como oxitocina, dopamina e endorfina, que induzem o relaxamento e geram sensações de prazer.
Vivemos um momento não apenas de pandemia, mas de “Infodemia”, termo que podemos representar a epidemia de informações muitas vezes falsas que podem abalar quem as recebe. O que fazer, por exemplo, quando estamos ligados no Twitter, no Facebook e nos grupos de Whatsapp e as notificações só tem um único tema: coronavírus? O constante estresse causado por esse momento pode provocar; além de casos de ansiedade e depressão, já causadas pelo isolamento social.
Então devemos tentar filtrar as informações, notícias falsas e rumores que podem promover a ansiedade. Devemos procurar informações por meio de fontes confiáveis e não acreditar em tudo que nos chega pelo celular, por exemplo.
Devemos também promover as nossas emoções positivas, aproveitar o lado bom das coisas. Uma dica muito boa é criar um ritual de autocuidado, como fazer atividades que você gosta de fazer e faz bem, a partir daí você tem um ponto forte para potencializar as emoções positivas. Leia livros, escute música, veja filmes, faça atividades manuais como artesanato e pintura, organize sua casa, aprenda receitas novas, entre outras atividades.
Para quem estiver trabalhando em casa, tente fazer um planejamento de horários, pausas e refeições. Ressignifique o momento presente, pois nesse período em casa, você não gastará tempo de deslocamento ou enfrentará engarrafamento para ir trabalhar, oportunidade para viver um ritmo de vida diferente, que pode, entre outras coisas, promover o autoconhecimento e colocar as coisas em dia.
Procure ter momentos do dia para interagir com sua família, brinque com seus filhos, com seu cachorro, façam as refeições juntos, falem de planos para o futuro, cuide das plantas, ligue ou envie mensagem para familiares e amigos que estão distantes. Compartilhem seus sentimentos e emoções positivas. Se você não estiver trabalhando ou estudando, procure fazer atividades que lhe agrade. É um bom momento também, se você não morar sozinho, de se reconectar com as pessoas que já moram com você.
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A empatia é a capacidade de sentir a dor, ou a alegria de outra pessoa. Uma das melhores maneiras de desenvolver empatia é buscar oportunidades de oferecer amor, compreensão e compaixão. Oferecer algo sem conhecer a outra pessoa pode ser ainda mais gratificante. Esse modo de dar significa não esperar nada em troca, é o verdadeiro significado de altruísmo. Oferecer de coração nos conecta com a espécie humana, expande e preenche aquele você em você (o que alguns chamam de alma) e aumenta os níveis de serotonina.
Vamos aguardar essa “tempestade” passar e voltaremos à nossa programação normal, com abraços arrochados, beijos sem mungangas, juntando mão com mão, na ciranda da vida! É importante hoje mantermos a distância dos corpos e a proximidade dos corações. Que cada um hoje possa tocar na alma do outro, com suas preces, orações, emoções positivas, ações de solidariedade, compaixão e promoção do bem.