Como não se perder no tempo em meio à quarentena do coronavírus?

Organizar o tempo é, também, organizar a mente, diz psicólogo
Maria Lígia Barros
Publicado em 09/04/2020 às 11:57
A quebra de rotina causada pelas medidas de distanciamento social tem alterado a noção de tempo de muitos Foto: PIXABAY


Eram 9h da manhã quando a jornalista Marília Gouveia, de 24 anos, desejou boa tarde a uma vizinha no elevador do prédio. “Estou completamente perdida no horário, dormindo tarde, acordando tarde. Se não fosse o trabalho, eu não ia saber que hoje é quinta-feira (9)”, falou.

Já o empresário Abraão Pacheco, 32, só lembrou nesta manhã que o feriado de Semana Santa é nesta sexta-feira (10). “Só soube agora, quando minha cunhada voltou da peixaria e disse que estava lotada”, contou. “A pessoa fica perdida no tempo. Você vai fazendo seus afazeres diários, mas perde a noção. Esse fim de semana passou e eu achei que fossem dias normais. Minha rotina de sábado e domingo diante da quarentena foi a mesma rotina de toda a semana”, disse.

Se identificou? Pois é, a quebra da rotina causada pelas medidas de distanciamento social para conter o coronavírus tem alterado a noção de tempo de muita gente. O psicanalista Miguel Gomes relaciona essa tendência com a sensação que se tem quando se está de férias. “Você perde a rotina do trabalho, do colégio, e fica sem saber direito se é segunda-feira, terça-feira”, comentou. “É essa falta de uma rotina já estabelecida que se impõe a você. Isso, de certa forma, é um marco no dia a dia que ajuda a gente a organizar o tempo.”

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E essa relação é, sim, importante. "Um exemplo disso são os presidiários que vão marcando a passagem do tempo nas paredes", completou. "Quando a gente organiza o tempo, ajuda a organizar também a cabeça. E não é só para ele passar mais rápido durante quarentena, mas é uma coisa estruturante." 

Para o psicólogo, essa sensação pode chegar a ser prejudicial, a depender do perfil de cada um. “Não tem uma receita. Mas, em geral, quando é um período longo, tende a atrapalhar. Pessoas que já não têm uma vida muito organizada, que são mais dispersas, tendem a ficar mais alheias e a não cumprir as atividades que têm que cumprir”, disse. "Quem é mais suscetível começa a ficar mais alheio ao mundo."

A boa notícia é que é possível evitar esse problema. A sugestão de Gomes é que se faça uma mínima organização do tempo. "Não é uma receita para todo mundo, mas, no geral, você manter alguma estrutura no dia ajuda a você a não só a se organizar no tempo, mas a lidar melhor com esse período que tem que ficar em casa", afirmou.

"Por exemplo, criar uma rotina em que de manhã você cuidar da casa. De tarde ver um filme e à noite falar com seus amigos, ver uma live interessante", citou. “Você determina certos dias e horários para fazer coisas. Não é que você tenha que ficar escravo disso. Você inscreve como sendo seu roteiro e tenta a fazer dentro dele”, orientou.

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