Coronavírus: pesquisadores testam tratamento com anticorpos de pacientes curados

O grupo obteve aprovação do projeto esta semana pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e já está coletando o plasma dos doadores curados de covid-19
Gabriela Carvalho
Publicado em 13/04/2020 às 8:49
Segundo a agência, a prática traz risco de contaminação para as pessoas envolvidas e permite a transmissão de doenças infecciosas devido à manipulação inadequada do sangue Foto: Tião Siqueira/JC Imagem


A transfusão de anticorpos produzidos por pacientes curados da covid-19 pode se tornar um tratamento para casos moderados e graves da doença. Para testar a eficácia da estratégia, 45 pacientes do Hemocentro de Ribeirão Preto estão recebendo plasma sanguíneo com os anticorpos que combatem o novo coronavírus (SARS-CoV-2). A técnica, chamada de transferência passiva de imunidade, também está sendo testada em países como China, França, Itália e Estados Unidos.

>> Brasil totaliza 1.223 mortes e tem 22.169 casos confirmados de coronavírus, diz ministério

 “Ainda não temos vacinas ou medicamentos aprovados para a covid-19 e, por isso, é importante testar essa estratégia. Vamos verificar se a transferência de anticorpos é segura e se auxilia na neutralização do vírus e, portanto, na recuperação da doença”, diz Rodrigo Calado, coordenador do estudo e um dos pesquisadores principais do Centro de Terapia Celular (CTC) da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto – um Centro de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID) apoiado pela FAPESP.

>> Coronavírus infecta pelo menos 279 profissionais de saúde em Pernambuco; outros 483 estão em investigação

Infecções virais como a causada pelo SARS-CoV-2 tendem a ativar o sistema imunológico do paciente infectado. Ao reconhecer a presença do vírus, as células de defesa começam a produzir anticorpos (proteínas secretadas por linfócitos) que têm a função de neutralizar o patógeno. “Dependendo da pessoa, essa resposta pode levar entre sete e 20 dias até que seja produzida uma quantidade suficiente de anticorpos para eliminar o vírus”, diz.

>> Sob aplausos, idosa de 97 anos deixa hospital após se curar do coronavírus

Por isso, o estudo realizado no Hemocentro de Ribeirão Preto vai levar em conta o tempo da doença. Dessa forma, nos testes, a transfusão de plasma deve ocorrer no máximo até o sétimo dia da infecção, caso haja sinais de que o quadro irá se agravar. “A doença tem duas fases: uma de propagação do vírus e outra de muita inflamação. A transfusão do plasma tem de ser antes do agravamento da inflamação, para que os anticorpos doados possam atuar diretamente no vírus”, diz.

>> Mandetta: pessoas que descumprem isolamento serão as mesmas que vão se lamentar

O grupo do Hemocentro de Ribeirão Preto obteve aprovação do projeto esta semana pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e já está coletando o plasma dos doadores curados de covid-19. O experimento vai se juntar a outras iniciativas de pesquisa semelhantes realizadas na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em Campinas, na Faculdade de Medicina da USP, em São Paulo, e nos hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês.

>> Coronavírus: número de casos em Pernambuco aumentou 12 vezes em 15 dias

“É interessante unirmos forças nesse momento. Estamos conversando com outros centros de pesquisa, temos experiência em rodar ensaios clínicos e podemos auxiliar com esse conhecimento. Também é interessante aumentar o número de pacientes testados para termos uma resposta mais robusta sobre a segurança e eficácia dessa estratégia para casos de covid-19”, diz.

 

Maria Fernanda Ziegler | Agência FAPESP

TAGS
covid-19 coronavírus Brasil
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory