O diretor executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), Michael Ryan, afirmou que a entidade está ciente da demissão de Luiz Henrique Mandetta do Ministério da Saúde brasileiro. "Agradecemos ao ministro por seu trabalho", disse nesta sexta-feira, 17, em entrevista coletiva em Genebra, na Suíça.
Ryan destacou que cada país tem liberdade para agir da maneira como achar adequada, mas pediu aos governos para tomarem decisões baseadas em evidências e com apoio de toda a máquina estatal. Ele ressaltou ainda que a organização está trabalhando para fornecer apoio técnico ao Brasil, por meio do escritório regional na América Latina.
Em meio à pandemia do novo coronavírus, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) demitiu, nesta quinta-feira (16), o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta.
A notícia foi divulgada por Mandetta em uma publicação no Twitter. O oncologista Nelson Teich assumiu a pasta.
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"Acabo de ouvir do presidente Jair Bolsonaro o aviso da minha demissão do Ministério da Saúde. Quero agradecer a oportunidade que me foi dada, de ser gerente do nosso SUS, de pôr de pé o projeto de melhoria da saúde dos brasileiros e de planejar o enfrentamento da pandemia do coronavírus, o grande desafio que o nosso sistema de saúde está por enfrentar. Agradeço a toda a equipe que esteve comigo no MS e desejo êxito ao meu sucessor no cargo de ministro da Saúde. Rogo a Deus e a Nossa Senhora Aparecida que abençoem muito o nosso País", disse.
Desde o início da crise sanitária no Brasil, há aproximadamente um mês, Bolsonaro e Mandetta protagonizavam um embate acerca das medidas de enfrentamento à doença. O desentendimento chegou ao ápice após a entrevista do ministro ao Fantástico, da TV Globo, no domingo (12). O núcleo militar do Palácio do Planalto, que apoiava a permanência dele no governo e tinha convencido o presidente a não exonerá-lo antes, avaliou o episódio como uma provocação.
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Depois de escapar na semana passada de uma demissão que muitos davam como certa e ser alertado por militares sobre a necessidade de não expor diferenças com Bolsonaro em público, Mandetta dobrou a aposta e seguiu contrariando o presidente em temas como isolamento social e uso da cloroquina em pacientes infectados pelo coronavírus. A entrevista pegou o mandatário de surpresa e as declarações de Mandetta foram encaradas como um ato premeditado de quem queria forçar a saída.
Ao se despedir do cargo de ministro da Saúde, na tarde desta quinta-feira (16), Luiz Henrique Mandetta, fez um apelo aos servidores da pasta para que continuem focando na ciência e defendendo o Sistema Único de Saúde (SUS).
"Nada tem significado que não seja uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nesses três pilares, que vocês conquistarão tudo. Esses pilares alimentam a verdade. A ciência é a luz, é o iluminismo. É através dela que vamos sair dessa. Não tenham uma visão única, não pensem dentro da caixinha", pediu durante coletiva de imprensa no Ministério da Saúde.
Anteriormente, Mandetta sinalizou que, se deixasse o cargo, a sua equipe iria embora junto. Na coletiva, no entanto, ele orientou a todos que continuem na pasta se forem solicitados. "Façam o possível para ajudar, é minha última ordem", orientou.
Mandetta ainda agradecia ao trabalho da imprensa na cobertura da pandemia do coronavírus, quando o presidente Jair Bolsonaro deu início ao seu discurso no Palácio do Planalto, para anunciar a chegada do novo ministro, o oncologista Nelson Teich.
"Não posso medir o tamanho do meu agradecimento pelo que aprendi com vocês. Saio daqui com uma experiência simplesmente fantástica", disse Mandetta, que citou Raul Seixas para mencionar sempre esteve aberto a mudar de opinião, quando esta mudança estava cercada de embasamento técnico e científico. "Quantas vezes mudei de posição porque tinha que mudar de opinião. Eu prefiro ser essa metamorfose ambulante, do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo."
Mandetta disse, ainda, que deixa o ministério "com gratidão ao presidente" e que sabe deixar para trás a melhor equipe. Ele afirmou que teve uma conversa "amistosa" com Bolsonaro na tarde de hoje, mas que o presidente precisava formar uma equipe com "outro olhar". O ex-ministro também disse que deseja boa sorte ao novo ministro. "Trabalhem para o próximo ministro como vocês trabalhavam para mim", disse ex-ministro, ao minimizar o impacto de sua saída.
"Não vai ser esse problema (sua demissão), que é insignificante. Isso não tem mais significado que uma defesa intransigente da vida, do SUS e da ciência. Fiquem nesses três pilares. A ciência é a luz, o iluminismo. É através dela que nós vamos sair. Que essa transição seja suave, profícua e que tenhamos um bom resultado ao término disso tudo."