Família faz culto em casa na Bahia, e 11 pessoas acabam infectadas pelo coronavírus

Segundo o secretário de Saúde de Senhor do Bonfim, uma única pessoa foi responsável pela contaminação das demais
Do Correio para a Rede Nordeste
Publicado em 24/06/2020 às 15:06
País ultrapassou marca de 53 mil mortos Foto: FREEPIK/BANCO DE IMAGENS


A intenção era, mais uma vez, louvar ao Senhor. Para isso, integrantes de uma mesma família se reuniram numa casa para a leitura da Bíblia, uma prática constante durante a pandemia de coronavírus na cidade de Senhor do Bonfim, no Centro-Norte da Bahia, já que um decreto municipal proíbe os cultos em templos religiosos.

O que os fiéis não esperavam é que, depois desse encontro, todas as 11 pessoas presentes na reunião de fé estariam contaminadas com o novo coronavírus - todas testaram positivo para covid-19. “As pessoas ainda não compreenderam que o isolamento social não é para reunir pessoas dentro de casa. Não é para reunir amigos e parentes. E isso vem sendo uma prática recorrente”, disse o secretário de Saúde da cidade, Neto Guimarães, na manhã desta terça-feira, ao CORREIO.

Segundo ele, uma única pessoa foi responsável pela contaminação das demais – um homem assintomático, ou seja, portador da doença, mas que não apresentava sintomas. O rapaz, que não teve a identidade revelada, é de Senhor do Bonfim mas estava em São Paulo e retornou para a cidade natal quando foi declarado o fechamento das atividades econômicas por lá.

Na segunda-feira, após último boletim divulgado, o município de Senhor do Bonfim contabilizava 93 casos da covid-19, com 64 pessoas recuperadas e um óbito. Desde o início da pandemia, em março, foram testadas 2.192 pessoas. A maioria dos casos positivos foi registrada em pessoas do sexo feminino, cerca de 53% do total.

Alto da Maravilha

No caso da contaminação das 11 pessoas da mesma família, a prefeitura estima que tenha ocorrido há duas semanas, quando um grupo de evangélicos se reuniu no bairro de Alto da Maravilha. Os encontros aconteciam esporadicamente no período em que um decreto municipal proibia cultos em templos religiosos, uma medida importante para combater o avanço do coronavírus na população local. O decreto, que havia sido revogado pela flexibilização das medidas restritivas, voltou a valer nesta segunda-feira.

No dia 19, um homem que participou do encontro, foi a um posto de saúde do bairro e fez o teste por conta própria e teve o resultado foi positivo. Então, após uma entrevista com profissionais da Secretaria de Saúde de Senhor do Bonfim, foi possível identificar as pessoas com quem ele manteve contato. Mesmo que não apresentassem sintomas, todos foram testados e também tiveram resultado positivo para covid-19. Os participantes do grupo estão em isolamento em casa.

Morador de Senhor do Bonfim, o autônomo Adriano Batista conta que esse episódio de descumprimento da quarentena foi o mais comentado na cidade. “É uma pena que nem todos estão colaborando. O comércio está fechado, mas mesmo assim as pessoas saem. Falta de aviso não foi e se tem algum culpado, infelizmente, é a própria família”, comentou.

Crescimento

O crescimento dos casos de covid-19 vem preocupando a Secretaria de Saúde de Senhor do Bonfim. Entre o dia 1º e o dia 7 deste mês, o número de casos da doença provocada pelo novo coronavírus chegou a 58. No dia 14, o município registrava 70 pessoas contaminadas. E, no último domingo, o número de casos confirmados na cidade já era de 93.

“A gente vem tendo muita denúncia de aglomeração, especialmente, por estes dias. Apesar de não termos os festejos juninos este ano, a cidade é muito procurada nesse São João. As pessoas não deixaram de vir para Bonfim. O número não está como no ano passado, quando não havia pandemia, mas percebemos uma movimentação maior esta semana, que não havia nos dias anteriores”, declarou o secretário de saúde do município Neto Guimarães.

A cidade é uma das mais procuradas no interior da Bahia durante os festejos juninos mas, agora, no lugar de abrir as portas as visitantes, procura mantê-las fechadas. Para conter o avanço da doença, a prefeitura montou barreiras sanitárias nos nove pontos de acesso ao município.

“Tivemos na cidade vários exemplos de pessoas que vieram que eram assintomáticas e que foram recebidas aqui e acabaram contaminaram todo mundo. Por isso, que a gente frisa que isolamento social não é encontro de famílias e amigos”, reforçou o secretário.

O município, que costuma receber milhares de visitantes durante o São João, não vai fazer festa esse ano - o anúncio do cancelamento foi feito ainda no início do mês de abril, com menos de um mês de quarentena por conta da pandemia, num acordo com outras 11 prefeituras. O Ministério Público do Estado (MP-BA) recomendou, ainda, que a prefeitura se abstenha de contratar artistas ou empresas para a realização de lives juninas, sob o risco de incorrer em ato de improbidade administrativa.

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