Durante entrevista na manhã desta quinta-feira (30) ao programa Passando a Limpo, da Rádio Jornal, o doutor em biologia e pesquisador da Fiocruz Rafael Dhália comentou sobre as vacinas contra o novo coronavírus que estão em desenvolvimento no mundo, incluindo a do Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa Sinovac. Os estudos estão na terceira etapa e contam com 5 mil voluntários de São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. O cientista afirmou que, "em todos os estudos de fase 3" colocaria "o braço sem pensar duas vezes".
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Durante a entrevista, Rafael Dhália ainda alertou para a previsão de vacinas contra o novo coronavírus já estarem disponíveis nos próximos meses. Ele citou o exemplo da Rússia, que informou que a primeira vacina contra a covid-19 irá receber aprovação regulatória local ainda no mês de agosto.
"A maioria desses grandes estudos foram todos publicados, no entanto, a Rússia não tem nenhum. Eu acho muito precoce a da Rússia, e não vejo com bons olhos essas vacinas que estão falando que serão disponibilizadas em janeiro. Nós ainda estamos na fase 3, na fase de avaliação da população, e precisa ter as respostas primeiro. A gente não pode dizer para a população que vai liberar isso em janeiro", comentou. "Já tem gente que está perguntando se pode brincar carnaval", completou.
Ainda segundo o especialista, mesmo que existam vacinas em estágio avançado de testes, isso não significa que essas vacinas são as melhores. "Essas vacinas que estão em andamento hoje não são necessariamente as melhores, elas são as mais rápidas porque têm estudos prévios delas. Tem pelo menos uma década que essas vacinas são usadas para outras doenças e tiveram bons resultados. Mas é preciso observação, imunizar a população e observar ao longo do tempo se essas vacinas protegem ou não. Pode ser que uma delas seja a melhor vacina ou seja necessário uma combinação delas", disse. Atualmente, há cinco vacinas consideradas promissoras, uma delas é a do Instituto Butantan, em São Paulo.
Segundo o governador João Doria (PSDB), a vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan com a Sinovac deve estar disponível em janeiro de 2021 de forma gratuita. "A quantidade necessária para iniciar a imunização da população brasileira, pode ser aplicada já no início de janeiro com o SUS, com aplicação gratuita em toda população", comentou durante entrevista.
Para Rafael, apesar da corrida contra o tempo para encontrar a vacina que seja eficaz contra a doença, essa rapidez é necessária. "Tudo isso é temerário, mas é necessário porque nada pior do que conviver com o vírus sem nenhuma resposta. A vacina de Oxford aparentemente é a mais segura por já ter resultados prévios para outras vacinas, mas não significa dizer que não tem risco", ressaltou o especialista.
Durante a entrevista, o doutor em biologia ainda citou o estudo publicado sobre países que aplicam a vacina BCG apresentarem 10 vezes menos casos da covid-19 do que os que não aplicam, como por exemplo a Itália, Estados Unidos e Espanha. A pesquisa foi publicada em abril de 2020 no medRxiv e foi liderada por pesquisadores americanos e ingleses.
Para realizar o estudo, os pesquisadores analisaram a mortalidade causada pelo vírus entre os dias 9 e 24 de março em 178 países. Eles identificaram que a incidência da covid-19 foi de 38,4 casos por 1 milhão de pessoas em comparação com 358,4 casos por milhão em países que não tinham políticas vacinação contra a tuberculose.
O estudo apontou que, o Japão, que possui a política universal da vacina BCG, só tinha registrado 63 mortes causadas pela covid-19, enquanto a Itália, que nunca teve campanha de vacinação contra a tuberculose, tinha registrado mais de 13 mil mortes.
Apesar do estudo, o especialista da Fiocruz alertou que a vacina BCG não é específica para o coronavírus. "A vacina BCG é eficaz no sentido que ela dá uma melhorada no sistema imune da pessoa como um todo. Então, de fato, você pode ter uma melhora na sua resposta e isso pode ter um impacto na covid-19 como em qualquer outra virose, mas ela não é específica para o vírus", alertou.
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