Uma pernambucana de 25 anos morreu nesse domingo (21) no Hospital das Clínicas, em São Paulo (SP) . Mulher trans, Lorena Muniz foi até a capital paulista para realizar o procedimento de implante de seios na última quarta-feira (17) em uma clínica de cirurgia plástica. A causa do falecimento teria sido morte cerebral.
O esposo da vítima, Washington Barbosa, afirma que testemunhas presenciaram o fogo na clínica onde Lorena realizava a cirurgia. Ele denuncia que a paciente foi deixada para trás durante a evacuação do local, ficando exposta a grandes quantidades de fumaça. A jovem só teria sido socorrida para com a chegada do Corpo de Bombeiros, que a levou até o Hospital das Clínicas.
"Hoje de manhã, saí de Recife para São Paulo para encontrar com alguém que foi realizar seu sonho, mas que acabara interrompido. A situação de Lorena fala de algo muito profundo. Não é só o absurdo de uma travesti abandonada numa mesa de cirurgia sedada, é um processo de exclusão que leva as pessoas trans e travestis a se arriscarem em muitos níveis", lamenta o esposo, conhecido como Tom.
Ao G1, o Corpo de Bombeiros afirmou que três viaturas foram acionadas na quarta-feira (17) para conter um incêndio em um prédio comercial na Rua da Glória, no Centro de São Paulo. Em nota, a corporação diz que "o incêndio se alastrou e a vítima, que estava dentro do local realizando um procedimento estético, foi socorrida ao hospital".
"Na última quarta-feira, ela foi fazer a cirurgia, teve um curto-circuito na clínica, o ar-condicionado pegou fogo, todos saíram correndo enquanto ela ficou lá, sedada, inalando fumaça, chegando a ficar sete minutos inconsciente. Isso gerou um prejuízo para o oxigênio no cérebro dela", relatou Tom nas redes sociais.
Já a Secretaria de Segurança Pública alegou ter sido solicitada perícia no estabelecimento e também um exame de corpo de delito. O caso foi registrado como incêndio e lesão corporal culposa no 1º Distrito Policial (Sé), e é investigado.
À imprensa, a defesa da clínica afirmou que a paciente não ficou desassistida durante o incêndio. "Haviam dois auxiliares de enfermagem que tentaram retirar a paciente, mas na esquina vinha vindo uma viatura e ela já interviu para que eles não entrassem lá e aguardassem o Corpo de Bombeiros", disse ao G1 o advogado Daniel Santana Bassani.
"Nós tentamos de tudo para retirar a paciente, mas os policiais militares, de forma coerente, não permitiram que fosse retirada por pessoas que não tinham capacidade para isso. Os bombeiros entraram e retiraram", acrescentou.
Repercussão
O apelo de Tom chegou até a vereadora Erika Hilton (PSOL) e à deputada estadual Erica Malunguinho (PSOL), ambas políticas trans de SP, que forneceram assistência jurídica a Washington e à família de Lorena.
Erica Malunguinho alerta para o fato de o caso de Lorena não ser isolado e de muitas mulheres trans e travestis serem vítimas de clínicas que realizam processos cirúrgicos que não garantem a segurança e qualidade dos procedimentos. “Não tenho muitas palavras diante da atrocidade que é o caso ao qual Lorena foi submetida. É uma realidade que, inclusive, também pode prejudicar pessoas que não são trans. É fundamental que os órgãos competentes fiscalizem esses locais”, diz.
Para a vereadora Erika Hilton, "não devemos medir esforços para traçar uma estratégia jurídica e política para que a clínica, localizada em Taboão da Serra (SP), e seus braços em outras cidades, sejam investigados e responsabilizados, bem como os profissionais responsáveis pelos procedimentos. É indignante, mas não podemos permitir a espetacularização da morte por negligência médica e permitir que o ocorrido com mais uma travesti passe impune". "Se não pressionarmos, é o que ocorrerá", acrescenta.