TRAGÉDIA

Aumenta para 10 o número de mortos em desabamento em Capitólio

As buscas continuam, já que algumas vítimas tiveram somente pedaços dos corpos encontrados. Pelo menos 32 pessoas ficaram feridas

Cadastrado por

AFP

Publicado em 09/01/2022 às 10:19 | Atualizado em 09/01/2022 às 22:19
DESABAMENTO Quatro bancos foram atingidos direta ou indiretamente - DIVULGAÇÃO/CBMMG

Atualizada às 22h

O Corpo de Bombeiros encontrou, na tarde deste domingo (9), as duas últimas vítimas do desabamento de rocha em Capitólio, Minas Gerais. Ao todo, são dez mortes confirmadas, e pelo menos 32 pessoas ficaram feridas.

Os mortos, com idades entre 14 e 68 anos, faziam parte de um grupo de familiares e amigos que estava na embarcação mais atingida pela rocha, segundo os bombeiros.

Ao meio-dia do sábado (8), um grande fragmento de rocha se desprendeu de um paredão e caiu em cima de quatro lanchas de turismo no Lago de Furnas, região turística do estado. Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que o maciço se desprende e cai sobre as embarcações, ante o pânico de passageiros que presenciavam a cena de outras lanchas.

Outro registro mostra um minuto antes do desabamento, em que várias pessoas avisaram que "muitas pedras estão caindo" e gritaram para os ocupantes dos demais barcos se afastarem do paredão.


A Defesa Civil recomendou que autoridades locais suspendam os passeios turísticos no local, "para evitar a exposição de pessoas a novos riscos", e pediu que os turistas evitem esse tipo de atividade em regiões afetadas por tempestades.

Ramilton Rodrigues, amigo de um jovem que morreu no acidente, aguardava ao lado de familiares a chegada dos corpos ao IML da cidade de Passos, que fica a 44 km do local do desmoronamento. "Ele veio a Capitólio para comemorar o aniversário. Faria 25 anos hoje, mas aconteceu essa fatalidade", contou à AFP.

Buscas em Capitólio continuam

As buscas continuarão pelos próximos dias. Segundo a Defesa Civil e a Polícia Civil de Minas Gerais, os trabalhos prosseguirão porque, embora todos os dez mortos tenham sido resgatados, algumas vítimas tiveram somente pedaços de corpos encontrados.

TRAGÉDIA Buscas por fragmentos de corpos continuarão em Capitólio (MG) - CBMMG/DIVULGAÇÃO
Buscas pelas vítimas de desmoronamento em Capitólio - CORPO DE BOMBEIROS DE MG
Buscas pelas vítimas de desmoronamento em Capitólio - CORPO DE BOMBEIROS DE MG
Buscas pelas vítimas de desmoronamento em Capitólio - CORPO DE BOMBEIROS DE MG
Acidente aconteceu neste sábado (8) - CORPO DE BOMBEIROS DE MG

Além disso, a polícia aguarda eventuais comunicações de novos desaparecimentos, no caso de eventuais turistas que estavam sozinhos. “Pode ser que uma pessoa ou um casal estivesse caminhando e tenha caído uma pedra. Até o momento, nenhum dos órgãos recebeu informação de outros desaparecidos. Nós estamos iniciando e não temos pressa de terminar os trabalhos”, disse o delegado Marcos Pimenta, da Polícia Civil mineira.

Segundo Pimenta, até agora foram identificados apenas dois corpos, um formalmente, com base nas impressões digitais, e outro com base em reconhecimento precário de parentes, que ainda requer comparação com material genético. O impacto da rocha, informou o delegado, está dificultando os trabalhos de reconhecimento.

O primeiro identificado formalmente foi Julio Borges Antunes, de 68 anos, nascido em Alpinópolis (MG). O corpo já foi liberado para sepultamento.

Responsabilidades

O sargento da Defesa Civil de Minas Gerais Wander Silva informou que a apuração sobre a falta de fiscalização e de medidas de segurança, que poderiam ter prevenido a tragédia, será discutida na investigação do inquérito aberto pela Marinha.

“Este não é o momento [de discutir isso]. Estamos concentrados nas buscas, e essas responsabilidades, no decorrer do inquérito, serão apuradas. Isso será verificado posteriormente”, argumentou. Cerca de duas horas antes da tragédia, a Defesa Civil mineira emitiu um alerta de cabeça d´água (forte enxurrada em rios provocada por chuvas) para a região de Capitólio, mas os passeios turísticos continuaram normalmente.

Reunião

Os prefeitos de São José da Barra, Paulo Sergio de Oliveira, e de Capitólio, Cristiano Silva, anunciaram que medidas para reforçar a segurança do turismo no Lago de Furnas serão discutidas amanhã (10). O encontro reunirá prefeitos da região e representantes da Defesa Civil de Minas Gerais, da Polícia Militar e da Marinha.

Segundo o prefeito de Capitólio, uma lei municipal de 2019 disciplina o turismo no cânion, proibindo banhos na área de circulação das lanchas e limitando a 40 o número de embarcações que podem permanecer por até 30 minutos na área do cânion. Além disso, normas da Marinha estabelecem o ordenamento da orla do lago.

Ele admitiu, no entanto, que, até agora, não existia uma norma sobre a distância mínima entre as lanchas e os paredões rochosos. Segundo ele, um perímetro mínimo de segurança só poderá ser definido após estudo técnico. O prefeito ressaltou que o desprendimento de um bloco tão grande é inédito na região.

“Meu pai vive aqui há 76 anos e nunca viu um desligamento de rocha desses. Acredito que, daqui para a frente, a gente precisa fazer uma análise [geológica]. Aquelas falésias estão ali há milhares de anos. Essa formação rochosa de quartzito tem essas fendas e fissuras. Já foram feitos vários estudos geológicos. Se tinha algum risco, tinha de ser emitido por um órgão superior”, explicou.

O prefeito disse ainda que uma foto de 2012, divulgada ontem nas redes sociais, com paredão com fissura larga, não se refere à rocha que desabou, mas a um que continua intacto no trecho central do cânion. De acordo com ele, a fissura no bloco que desmoronou era menor que a da pedra mostrada na foto.

Erosão natural e chuva, possíveis causas

As causas do acidente ainda estão sendo investigadas, mas as fortes chuvas que caíram nos últimos dias no sudeste do Brasil favoreceram o desprendimento, segundo os bombeiros e especialistas.

A região do Capitólio, a 300 km da capital Belo Horizonte, atrai muitos turistas brasileiros com seus paredões rochosos e cachoeiras que circundam as águas verdes do Lago de Furnas, formado pela hidrelétrica de mesmo nome.

“A natureza peculiar desse lugar, todo o atrativo turístico que a paisagem proporciona, com essa barragem que forma o enorme lago, com muitas cachoeiras e quedas d'água no entorno, é justamente criada pela erosão do relevo continental. E esse é um processo natural e constante", explicou à AFP o geógrafo Eduardo Bulhões, da Universidade Federal Fluminense (UFF).

Soma-se a essa erosão natural as chuvas intensas, que provocam deslizamentos como o ocorrido no sábado, chamados de "movimentos de massa".

"Dezembro e janeiro são os meses com mais chuva em Capitólio e, consequentemente, os meses com maior potencial de movimentos de massa", afirmou Bulhões.

Para evitar mais acidentes, seria aconselhável "limitar a área recreativa, afastando os passeios dos paredões e quedas d’água" na temporada de maior risco, concluiu o especialista.


Tags

Autor

Veja também

Webstories

últimas

VER MAIS