Atualizada às 22h
O Corpo de Bombeiros encontrou, na tarde deste domingo (9), as duas últimas vítimas do desabamento de rocha em Capitólio, Minas Gerais. Ao todo, são dez mortes confirmadas, e pelo menos 32 pessoas ficaram feridas.
Os mortos, com idades entre 14 e 68 anos, faziam parte de um grupo de familiares e amigos que estava na embarcação mais atingida pela rocha, segundo os bombeiros.
Ao meio-dia do sábado (8), um grande fragmento de rocha se desprendeu de um paredão e caiu em cima de quatro lanchas de turismo no Lago de Furnas, região turística do estado. Vídeos publicados nas redes sociais mostram o momento em que o maciço se desprende e cai sobre as embarcações, ante o pânico de passageiros que presenciavam a cena de outras lanchas.
Outro registro mostra um minuto antes do desabamento, em que várias pessoas avisaram que "muitas pedras estão caindo" e gritaram para os ocupantes dos demais barcos se afastarem do paredão.
A Defesa Civil recomendou que autoridades locais suspendam os passeios turísticos no local, "para evitar a exposição de pessoas a novos riscos", e pediu que os turistas evitem esse tipo de atividade em regiões afetadas por tempestades.
Ramilton Rodrigues, amigo de um jovem que morreu no acidente, aguardava ao lado de familiares a chegada dos corpos ao IML da cidade de Passos, que fica a 44 km do local do desmoronamento. "Ele veio a Capitólio para comemorar o aniversário. Faria 25 anos hoje, mas aconteceu essa fatalidade", contou à AFP.
Buscas em Capitólio continuam
As buscas continuarão pelos próximos dias. Segundo a Defesa Civil e a Polícia Civil de Minas Gerais, os trabalhos prosseguirão porque, embora todos os dez mortos tenham sido resgatados, algumas vítimas tiveram somente pedaços de corpos encontrados.
Além disso, a polícia aguarda eventuais comunicações de novos desaparecimentos, no caso de eventuais turistas que estavam sozinhos. “Pode ser que uma pessoa ou um casal estivesse caminhando e tenha caído uma pedra. Até o momento, nenhum dos órgãos recebeu informação de outros desaparecidos. Nós estamos iniciando e não temos pressa de terminar os trabalhos”, disse o delegado Marcos Pimenta, da Polícia Civil mineira.
Segundo Pimenta, até agora foram identificados apenas dois corpos, um formalmente, com base nas impressões digitais, e outro com base em reconhecimento precário de parentes, que ainda requer comparação com material genético. O impacto da rocha, informou o delegado, está dificultando os trabalhos de reconhecimento.
O primeiro identificado formalmente foi Julio Borges Antunes, de 68 anos, nascido em Alpinópolis (MG). O corpo já foi liberado para sepultamento.
Responsabilidades
O sargento da Defesa Civil de Minas Gerais Wander Silva informou que a apuração sobre a falta de fiscalização e de medidas de segurança, que poderiam ter prevenido a tragédia, será discutida na investigação do inquérito aberto pela Marinha.
“Este não é o momento [de discutir isso]. Estamos concentrados nas buscas, e essas responsabilidades, no decorrer do inquérito, serão apuradas. Isso será verificado posteriormente”, argumentou. Cerca de duas horas antes da tragédia, a Defesa Civil mineira emitiu um alerta de cabeça d´água (forte enxurrada em rios provocada por chuvas) para a região de Capitólio, mas os passeios turísticos continuaram normalmente.
Reunião
Os prefeitos de São José da Barra, Paulo Sergio de Oliveira, e de Capitólio, Cristiano Silva, anunciaram que medidas para reforçar a segurança do turismo no Lago de Furnas serão discutidas amanhã (10). O encontro reunirá prefeitos da região e representantes da Defesa Civil de Minas Gerais, da Polícia Militar e da Marinha.
Segundo o prefeito de Capitólio, uma lei municipal de 2019 disciplina o turismo no cânion, proibindo banhos na área de circulação das lanchas e limitando a 40 o número de embarcações que podem permanecer por até 30 minutos na área do cânion. Além disso, normas da Marinha estabelecem o ordenamento da orla do lago.
Ele admitiu, no entanto, que, até agora, não existia uma norma sobre a distância mínima entre as lanchas e os paredões rochosos. Segundo ele, um perímetro mínimo de segurança só poderá ser definido após estudo técnico. O prefeito ressaltou que o desprendimento de um bloco tão grande é inédito na região.
“Meu pai vive aqui há 76 anos e nunca viu um desligamento de rocha desses. Acredito que, daqui para a frente, a gente precisa fazer uma análise [geológica]. Aquelas falésias estão ali há milhares de anos. Essa formação rochosa de quartzito tem essas fendas e fissuras. Já foram feitos vários estudos geológicos. Se tinha algum risco, tinha de ser emitido por um órgão superior”, explicou.
O prefeito disse ainda que uma foto de 2012, divulgada ontem nas redes sociais, com paredão com fissura larga, não se refere à rocha que desabou, mas a um que continua intacto no trecho central do cânion. De acordo com ele, a fissura no bloco que desmoronou era menor que a da pedra mostrada na foto.
Erosão natural e chuva, possíveis causas
As causas do acidente ainda estão sendo investigadas, mas as fortes chuvas que caíram nos últimos dias no sudeste do Brasil favoreceram o desprendimento, segundo os bombeiros e especialistas.
A região do Capitólio, a 300 km da capital Belo Horizonte, atrai muitos turistas brasileiros com seus paredões rochosos e cachoeiras que circundam as águas verdes do Lago de Furnas, formado pela hidrelétrica de mesmo nome.
“A natureza peculiar desse lugar, todo o atrativo turístico que a paisagem proporciona, com essa barragem que forma o enorme lago, com muitas cachoeiras e quedas d'água no entorno, é justamente criada pela erosão do relevo continental. E esse é um processo natural e constante", explicou à AFP o geógrafo Eduardo Bulhões, da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Soma-se a essa erosão natural as chuvas intensas, que provocam deslizamentos como o ocorrido no sábado, chamados de "movimentos de massa".
"Dezembro e janeiro são os meses com mais chuva em Capitólio e, consequentemente, os meses com maior potencial de movimentos de massa", afirmou Bulhões.
Para evitar mais acidentes, seria aconselhável "limitar a área recreativa, afastando os passeios dos paredões e quedas d’água" na temporada de maior risco, concluiu o especialista.