Alertas de desmatamento na Bacia do São Francisco aumentam 546% em 4 anos

Os dados foram obtidos pelo MapBiomas no mês em que o Rio São Francisco completa 522 anos do seu mais notório registro histórico
JC
Publicado em 08/10/2023 às 7:00
A maior parte da água do Rio São Francisco não está mais no seu leito Foto: Plano Nordeste Potência/Divulgação


A área desmatada na Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco nos últimos quatro anos foi de 638.338 hectares, segundo levantamento concluído recentemente pela iniciativa MapBiomas. Os números revelam que a região do Velho Chico perdeu, de 2019 a 2022, cobertura vegetal equivalente ao tamanho do município de Juazeiro, na Bahia.

No total, foram 18.693 alertas de desmatamento. Em 2019, foram registrados 1.087 alertas, enquanto em 2022 foram 7.028 - um aumento de 546%.

Os dados obtidos pelo MapBiomas no mês em que o Rio São Francisco completa 522 anos do seu mais notório registro histórico - feito pelo navegador italiano a serviço de Portugal Américo Vespúcio (1451-1512) em 4 de outubro de 1501 - são um alerta para a necessidade de revitalização da maior bacia hidrográfica do Nordeste.

ÁREAS EM PERNAMBUCO

A região do Submédio São Francisco, com 59% de sua área em Pernambuco, 40% na Bahia e 1% em Alagoas, registrou o maior crescimento do número de alertas de desmatamento, passando de apenas 8 em 2019 para 2.359 em 2022.

Os números relativos à perda de vegetação são proporcionais ao incremento dos sistemas de irrigação na Bacia do São Francisco, evidenciando a conversão da vegetação nativa em área agrícola como uma das principais causas do desmatamento

No mesmo período (2019 a 2022), a área de sistemas de irrigação implantados subiu de 615.815 para 728.949 ha, um incremento de 18%.

O avanço do desmatamento e dos sistemas de irrigação ocorre especialmente no Matopiba - acrônimo formado pelas sílabas iniciais dos Estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia -, fronteira de expansão agropecuária sobre o Cerrado.

ACESSO À ÁGUA

A maior parte da água do Rio São Francisco não está mais no seu leito, e sim em hidrelétricas, reservatórios e até mineradoras. Descontando essas intervenções humanas, o rio perdeu metade da superfície natural de água desde 1985, como mostrou estudo do MapBiomas divulgado no ano passado, em parceria com o Nordeste Potência.

“O Velho Chico tem sofrido com intensa exploração de seus recursos naturais. Os usos múltiplos da água e do solo da bacia são muito maiores do que a capacidade de recuperação natural, então precisamos urgentemente investir em sua revitalização”, afirma a analista política do Plano Nordeste Potência, Fabiana Couto.

O MAPBIOMAS

O MapBiomas é uma rede colaborativa, formada por ONGs, universidades e empresas de tecnologia, que revela as transformações do território brasileiro, por meio da ciência, tornando acessível o conhecimento sobre o uso da terra, a fim de buscar a conservação e combater as mudanças climáticas.

Produz mapeamento anual da cobertura e uso da terra desde 1985, valida e elabora relatórios para cada evento de desmatamento detectado no Brasil desde janeiro de 2019 e monitora a superfície de água e cicatrizes de fogo mensalmente desde 1985. Todos os dados, mapas, métodos e códigos do MapBiomas são disponibilizados de forma pública e gratuita no site da iniciativa.

TAGS
rio são francisco desmatamento
Veja também
últimas
Mais Lidas
Webstory