Igarassu exibe urna funerária pré-histórica

Peças encontradas na Ilha de Itamaracá, em 1993, são apresentadas ao público pela primeira vez. Material pertence ao Museu Histórico de Igarassu
Da editoria de Cidades
Publicado em 23/09/2014 às 8:16
Foto: Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem


Uma urna funerária indígena, do período anterior à chegada de Pedro Álvares Cabral ao Brasil, encontra-se exposta ao público na Casa do Patrimônio de Igarassu (Sobrado do Imperador), no Sítio Histórico da cidade, até o próximo dia 30. O artefato, feito de argila, tem formato de pera e está sendo associado aos tapuias, grupo de índios que não falavam a língua tupi. Fragmentos de ossos humanos, dentes e a conta de um colar, encontrados dentro do vaso, também fazem parte da mostra.

“Pelas características, possivelmente é uma urna de tradição aratu, com idade estimada de 1.500 a 2 mil anos do tempo presente”, informa o historiador e estudante de arqueologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Marcos Antônio da Silva, que pesquisa o assunto. A borda mais fina é outro indício da origem tapuia. A urna funerária dos índios tupis-guaranis tinha a borda mais espessa, compara Marcos Antônio.

De acordo com ele, a urna pré-histórica foi localizada em 1993, na Ilha de Itamaracá, município próximo de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife, por um homem que tirava areia na Praia de Enseada dos Golfinhos. Estava fechada por uma tampa e enterrada a uma profundidade de mais de dois metros.

É uma surpresa achar a urna em Itamaracá,os tapuias foram expulsos do litoral pelos tupis e guaranis

declara o historiador Marcos Antônio


Sem saber o que tinha em mãos, o areeiro quebrou a tampa e se deparou com 64 pedaços de ossos, dez dentes e 12 contas de amazonita, uma pedra de cor esverdeada. “Populares subtraíram 11 contas, acreditando se tratar de pérolas, antes de entregar a urna ao Museu Histórico de Igarassu. Por isso, só resta uma pedra”, diz Marcos Antônio. O adorno de amazonita servia para identificar o grau de importância da pessoa na aldeia.

O mineral, segundo ele, era de uso comum na pré-história e no período histórico brasileiros. “É um cascalho normal e atribuíram valores que a pedra não tinha. Arqueólogos encontraram sepultamento com amazonita na Furna do Estrago (área pré-histórica no Brejo da Madre de Deus, no Agreste pernambucano)”, comenta. Marcos Antônio é estagiário de arqueologia do Museu Histórico, viu a urna guardada numa caixa e pediu para analisar o achado. Levou o material para a UFPE e com ajuda de professores começou a fazer as identificações.

Pelo tamanho dos ossos, descobriu que a pessoa teria de 1,50 a 1,55 metro de altura. O colar de pedra indica o gênero masculino, porque a mulher não teria destaque na comunidade, continua o pesquisador. Um pedaço da urna permanece na UFPE para dois tipos de análise: a datação por termoluminescência (fornece o tempo transcorrido desde que a peça foi aquecida pela última vez, ou seja, na fabricação) e a origem da argila.


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