O primeiro inventário de árvores do Recife acaba de ser concluído. Ele identifica as espécies nativas e exóticas e condições fitossanitárias dos vegetais plantados na área onde a capital pernambucana surgiu: o Bairro do Recife. O censo feito pelo Instituto Terra Brasil, com recursos do Fundo Municipal do Meio Ambiente, mostra que a arborização é mal distribuída e pouco diversificada. A grande ambição dos envolvidos no projeto é reconstruir a imagem de cidade verde que o Recife desfrutou nas décadas de 70 e 80.
“Há uma visão equivocada de apenas plantar sem saber o quê nem onde, mas antes disso a cidade precisa saber o que possui”, diz o engenheiro florestal do ITB Jeferson Vanzella. O censo constatou que o bairro tem 564 árvores de 27 espécies, incluindo arbustos e palmeiras. Em cada uma delas, os técnicos verificaram altura, diâmetro, crescimento das raízes, proximidade das casas e da rede elétrica e identificaram nome científico e popular. “A boa notícia é que a condição de saúde da maioria é satisfatória”, informa Jeferson Vanzella. Apenas quatro árvores estavam mortas, ainda que de pé.
Os aspectos negativos são mais abundantes. “Além de haver pouca diversidade, não existe uma distribuição equitativa das espécies”, explica o botânico Luiz Vital Cunha, consultor do projeto, acrescentando que predominam as castanholas (205 exemplares) e as palmeiras imperiais (121). O verde também está mal distribuído. Enquanto a Avenida Rio Branco possui 33 exemplares e o entorno da Ponte Giratória tem uma boa cobertura vegetal, na outra extremidade da ilha, onde fica o Forte do Brum e a Ponte do Limoeiro, o pedestre dificilmente encontra uma sombra para se abrigar.
Na avaliação de Jeferson Vanzella, é frequente a escolha inadequada de espécies. A maioria, aliás, é exótica. “Numa via que poderia ter árvores mais frondosas para proporcionar conforto térmico, como a Avenida Martin Luther King (Cais do Apolo), foram plantadas palmeiras imperiais e flamboaiãs”, exemplifica. “Já na Avenida Rio Branco, onde há muitas edificações habitadas e rede elétrica próxima, imensas castanholas estão se debruçando sobre a rua por falta de espaço.”
As árvores inclinadas representam um risco para o trânsito por dificultar a passagem de ônibus e caminhões. O censo ainda apontou problemas de acessibilidade, causado pelas raízes, que quebram as calçadas, prejudicando a circulação de pedestres. “Também há muitas árvores encobrindo a iluminação pública e deixando as ruas escuras”, informa o botânico Luiz Vital Cunha. “Outras se ramificam em baixa estatura, impedindo a passagem dos pedestres.”
No Bairro do Recife há 144 árvores atrapalhando a passagem de pedestres e veículos e 68 que se projetam sobre as casas, causando problema ao telhado ou entupindo as calhas com material orgânico. Entre os vegetais em estado de atenção, 24 apresentam problemas que podem levar à morte, enquanto 80 foram vítimas de podas malfeitas e apresentam “feridas” por onde podem sofrer ataques de micro-organismos. “Como todo ser vivo, a árvore tem um ciclo de vida. Mas, para viver muito, precisa de cuidados permanentes”, ressalta Luiz Vital.
O relatório concluiu que 65,6% das árvores não precisam de poda nenhuma e 24,25% estão com inclinação acentuada. Metade dos alegretes (canteiros) são pequenos demais para as espécies plantadas, dificultando a infiltração das águas e favorecendo a destruição da calçada pelas raízes. “Precisamos diversificar mais o plantio no Recife. Temos uma flora riquíssima e devemos tirar proveito disso, cultivando mais mudas nativas”, conclui o botânico Luiz Vital.
A secretária de Meio Ambiente e Sustentabilidade do Recife, Cida Pedrosa, considera o inventário tão relevante que já está em busca de recursos para ampliar o estudo ao centro expandido da capital. “Será uma importante ferramenta de gestão. Às vezes, árvores são erradicadas porque falta estudo técnico capaz de apontar outra solução”, reconhece. Cida Pedrosa afirma que manter e plantar árvores é uma das questões mais complicadas da gestão urbana. “Enquanto uns querem preservar, outros só pensar em cortar, alegando que causam insegurança e destroem calçadas”, revela.