Pesquisadores do Jardim Botânico do Recife (JBR) iniciaram uma pesquisa, em fevereiro, para aumentar o quantitativo de três espécies de árvores nativas da mata atlântica, uma delas ameaçada de extinção. Além de preservar as espécies, a intenção é plantá-las em parques, praças e calçadas da capital e reflorestar áreas degradadas em unidades de conservação do município.
Para aumentar a reprodução, a equipe do JBR está desenvolvendo técnicas que diminuem o tempo de germinação das três espécies estudadas: visgueiro Parkia pendula, embira vermelha Xylopia frutescens e pau-de-jangada Apeiba tibourbou, ameaçada de extinção. “Mesmo em condições ideais de temperatura e irrigação, muitas sementes caem no solo, mas não germinam em função do mecanismo de dormência que as plantas acionam para garantir a perpetuação da espécie”, explica o engenheiro agrônomo Bruno Viana, responsável pelo projeto. “Elas fazem isso porque, se germinarem todas de uma vez e forem atacadas por pragas, há o risco de não sobrar nenhum indivíduo.”
O processo de dormência das plantas pode ser fisiológico (a água entra na semente, mas ela não germina) ou físico (quando a semente não consegue receber água). “Dependendo da espécie, as sementes podem levar dias, meses ou anos para germinar. Nosso desafio é reduzir esse tempo de dormência para produzir em escala no viveiro do Jardim Botânico”, revela o engenheiro, lembrando que há uma grande escassez de mudas no Recife para reposição das árvores que caem ou precisam ser erradicadas.
Como o nome sugere, o pau-de-jangada – árvore de madeira leve que pode chegar a 25 metros de altura – está ameaçado de extinção porque foi muito explorado para a construção de pequenas embarcações. Outro problema é a vulnerabilidade da semente, que fica no fruto conhecido como pente-de-macaco. “Antes de cair no solo, ela já é atacada por pragas ou fungos”, explica Bruno. “O percentual de regeneração da espécie também é muito baixo.”
Já o visgueiro não germina bem. Ano passado, pesquisadores colheram e plantaram mil sementes da espécie no viveiro do Jardim Botânico, mas apenas 200 germinaram, ou seja, 20% de aproveitamento. “Nossa expectativa é alcançar, pelo menos, 50% de germinação com as três espécies”, informa Bruno Viana, acrescentando que as sementes coletadas, antes de ser plantadas, estão passando por um tratamento para garantir uma reprodução uniforme e mais rápida.
Das três selecionadas para o projeto, a menos conhecida é a embira vermelha. “Há pouca pesquisa científica sobre ela. Inclusive, pretendemos aprofundar o estudo. Mas é uma árvore de copa densa, ideal para arborização urbana”, assegura o agrônomo. Bruno critica a escolha que muitas pessoas fazem por plantas exóticas. “Essas espécies geralmente causam muitos transtornos, principalmente ao patrimônio, com a destruição de calçadas e tubulações”, comenta. Outro contratempo é a falta de inimigos naturais para combater as pragas que atacam essas árvores. O agrônomo cita como exemplo o brasileirinho (Erythrina variegata) que, apesar do nome, foi introduzido no País. “Todos os indivíduos estão adoecendo, murchando e morrendo”, diz.
Os argumentos em favor das plantas nativas são fortes. As pragas encontram inimigos naturais para combatê-las e as árvores não demandam muita poda nem pedidos de erradicação porque não causam muitos danos aos imóveis e calçadas. “Como elas crescem mais devagar que as exóticas, não causam tantos danos”, explica Bruno. As primeiras sementes tratadas – 300 de cada espécie – para reduzir a dormência foram plantadas no viveiro do JBR há duas semanas. A expectativa é de que, até o dia 10 de abril, elas comecem a germinar.