“Temos um conceito que a floresta é intocável, mas ela não é. A degradação da Amazônia não está vinculada à atividade florestal, está vinculada à pecuária e agricultura, principalmente. Ou seja, quanto mais madeira a gente usar na construção civil mais a gente vai ter floresta”, disse o arquiteto Roberto Lecomte, parceiro da organização ambientalista WWF-Brasil.
Ele explicou que, para os madeireiros responsáveis conseguirem desenvolver uma atividade econômica rentável, eles precisam ter mercado. “A gente acha que usar madeira acaba com a floresta e, na verdade, usar a madeira preserva floresta, porque ele [madeireiro] sabe que a madeira traz um retorno financeiro”, disse, observando que a Finlândia, por exemplo, possui 8% do mercado mundial de madeira e tem 80% de florestas originais.
A WWF-Brasil inaugurou esta semana um espaço no shopping CasaPark, em Brasília, para promover o uso sustentável e responsável da madeira na construção civil. A meta é recolocar a madeira no mercado, mostrando que existem tecnologias e soluções estéticas que permitem o uso desse material.
O especialista de conservação do WWF-Brasil, Ricardo Russo, explicou que a Amazônia tem um potencial muito grande de produção de madeira e que há técnicas de manejo da floresta sem danos permanentes. Ele ressalta, entretanto, que é preciso estar atento à origem da madeira, que deve ser rastreada ou certificada. “Tiramos do nosso discurso o termo madeira legal, porque uma madeira que vem de um desmatamento autorizado é legal, mas não é sustentável”, disse.
“Queremos também tirar da cabeça das pessoas duas imagens: da casa de madeira de tábua e mata-junta e da casa pré-fabricada que empena e entorta”, afirmou, contando que hoje existem tecnologias específicas para madeira, como a madeira laminada colada e o wood frame (painéis de madeira).
Segundo Russo, é errado pensar que substituir madeira por alumínio, por exemplo, é mais sustentável. Ele explica que os processos construtivos tradicionais são responsáveis por 47% das emissões de carbono e 60% dos resíduos sólidos das cidades.
A energia incorporada para produzir em madeira também é muito mais baixa, segundo o especialista, de 1.750 quilowatts/hora por metro cúbico de cimento para 350 quilowatts/hora por metro cúbico de madeira cerrada e laminada.
Ele conta que uma empresa paranaense já está trabalhando em conjuntos habitacionais em wood frame. “Eles já fizeram um prédio de quatro andares em 180 horas, inteiramente de madeira e que aceita outros revestimentos. Então, se a pessoa não gosta da aparência da casa de madeira, ela pode ter uma que não parece madeira”, disse, ressaltando a resistência, segurança e durabilidade da madeira, que ainda é mais leve e de fácil manuseio.
Diferente do que muitos pensam, construir em madeira não é mais caro que em alvenaria, segundo Russo, já que o tempo de construção e a geração de resíduos são menores, o que falta é conhecimento. Ele conta que a perda de material em um prédio de alvenaria é estimada em 30% e o tempo é 40% maior que de uma casa de wood frame. “Além da conta da sustentabilidade”, ressaltou.
O Espaço WWF tem 20 metros quadrados, mas possui um teto que avança sobre as áreas comuns do shopping e soma uma área total de 115 metros quadrados. A intervenção no telhado do centro de compras tem a primeira viga estrutural em madeira com dupla curvatura do Brasil.
Para montar o estande, foram usados 10 metros cúbicos de madeira, divididos em mais de 500 peças, tanto estruturais quanto decorativas.
Aproximadamente 6 toneladas de carbono estão estocadas no estande, disse Russo. O uso da madeira na construção também é uma ferramenta no combate aos prejuízos causados pelas mudanças climáticas, já que a madeira estoca carbono que seria lançado na atmosfera e agravaria os problemas climáticos existentes hoje.
Em sua montagem, o estande junta duas tecnologias: a madeira laminada colada, que permite desenhos em curvas nas peças de madeira e foi usada no teto; e o aproveitamento de madeira tropical, que constitui o piso e os elementos decorativos. A madeira laminada colada é de eucalipto (pinus) e a madeira tropical é o cambará, também conhecido como mandioqueira.
O arquiteto Roberto Lecomte é um dos responsáveis pela obra. A WWF-Brasil coordena o programa Madeira é Legal, um protocolo de intenções - assinado por 26 instituições - que busca incentivar o uso da madeira certificada na construção civil brasileira. É possível saber mais sobre o projeto e as vantagens de se construir com madeira na página www.wwf.org.br/madeiraelegal.