Os recifenses estão sem espaço público adequado para leitura. As duas bibliotecas municipais da capital, uma em Casa Amarela, Zona Norte, e a outra em Afogados, Zona Oeste, recebem, diariamente, centenas de leitores, mas atravessam uma fase complicada. Estrutura física comprometida, falta de segurança e de gestão são os principais problemas. Parte do acervo de uma das unidades fica amontoado em mesas, cadeiras e até pelo chão, vulnerável a mofo e traças.
Segundo frequentadores da Biblioteca Popular de Casa Amarela Jornalista Alcides Lopes, desde o início do ano o espaço está sem gestor (a diretora e uma bibliotecária foram afastadas). Anteontem, o local, que recebe, em média, 50 usuários por dia, passou apenas duas horas aberto ao público. Às 10h, os funcionários fecharam as portas porque há infiltrações e, com as chuvas, um pedaço do teto caiu e o chão ficou alagado. De acordo com os funcionários, pelo menos dois mil livros se estragaram.
A água que invadiu a biblioteca agravou problemas que começaram a aparecer há anos e não foram solucionados. Frequentador do espaço há uma década, o gráfico Marcos Antônio de Melo, 47, lamenta a falta de cuidado da Fundação de Cultura, órgão da Prefeitura do Recife responsável pelas bibliotecas. “Muita gente foi, aos poucos, deixando de vir ao local porque os eventos não mais acontecem, assaltos ocorrem com frequência e o ambiente não tem conforto algum. É muito calor”, resumiu. No auditório, interditado devido às infiltrações, livros estão espalhados em cima de cadeiras e pelo chão. Guardas municipais que faziam a segurança do patrimônio foram dispensados há cerca de dois anos, o que facilitou a ação de vândalos. Somente em abril foram dois arrombamentos. Os ladrões levaram botijões de gás, aparelho de som e computador.
A Biblioteca Popular de Afogados recebe, diariamente, um público maior: em média 100 pessoas. O cartão-postal do ambiente é uma marquise onde mora um casal viciado em crack. “Já fizemos de tudo para retirá-los daí. Chamamos guarda municipal, polícia, mas de nada adianta. Quando os policiais saem, eles voltam. A ex-diretora da biblioteca foi ameaçada de morte porque falou em denunciar os dois à prefeitura”, disse um funcionário, que não quis se identificar. “Enquanto a biblioteca está aberta, só esse casal fica por aqui. Mas, quando fechamos, moradores de rua tomam conta da praça aqui em frente e, de manhã, quando chegamos para trabalhar, encontramos muita sujeira”, relatou. Assim como na Zona Norte, a diretora da unidade de Afogados foi afastada em janeiro, o que só colaborou para agravar os problemas.
Há três anos foi implantado um laboratório de informática que não é aberto ao público por falta de ajustes na fiação e na pintura da sala. O cupim comeu parte do tapume que cerca o ambiente e infiltrações amedrontam funcionários e usuários em dias de chuva. Quando há sol, a preocupação é com o calor, já que as janelas são pequenas e vários ventiladores estão quebrados. “Não há água nos banheiros. Os funcionários utilizam baldes para limpar toda vez que algum frequentador utiliza o vaso sanitário” afirma o estudante Assis Ferreira, 24. Funcionários explicaram que a bomba d’água foi roubada numa das quatro vezes que a biblioteca foi arrobada em menos de um ano.
A Fundação de Cultura afirmou que a contratação de gerentes para as duas bibliotecas está em andamento. Quanto à presença da Guarda Municipal, em Casa Amarela um guarda faz a segurança noturna. Em Afogados a vigilância é feita pela patrulha da Guarda Municipal. A Fundação informou, ainda, que já foi realizado um diagnóstico preliminar e estão sendo estudados quais os caminhos para sanar os problemas estruturais dos equipamentos.
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