Carla Beatriz Menezes da Silva, 9 anos, adora ir para a escola. Em casa, quer ajudar a avó a lavar a farda para usá-la. Fica feliz quando tem aula. Mas a garota só está frequentando a Escola Municipal Professor Manoel Torres, localizada no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife, duas vezes por semana e por apenas duas horas por turno. Segundo Maria Elizabete Silva, 47, avó da garota e responsável por sua guarda, a direção do colégio informou que não teria condições de ficar com Carla todos os dias e determinou que só a levasse dois dias semanalmente. A menina é autista.
Uma lei estadual que amplia os direitos das pessoas que têm autismo foi promulgada segunda-feira passada. Uma das questões previstas na lei é a inclusão dos estudantes com a síndrome em classes regulares de ensino público e privado. “Acho que tiveram preconceito com Carla. É triste porque ela está gostando muito de ir para a escola. Gostaria que ela fosse todos os dias”, lamenta Elizabete, que veio morar no Recife em fevereiro deste ano. Antes, vivia com a neta no município de São Vicente Férrer, no Agreste pernambucano, onde a garota nunca estudou por falta de unidades que a recebessem.
Na Escola Manoel Torres, Carla foi inserida numa turma regular do 2º ano do ensino fundamental. Mas a professora não conta com profissional para apoiá-la na sala de aula. Quase um ano atrás, em maio do ano passado, a Secretaria de Educação do Recife prometeu que, em vez de chamar estagiários para auxiliarem os docentes, realizaria concurso com mil vagas para Agentes de Apoio ao Desenvolvimento Escolar Especial. O prazo era fazer a seleção até o final de 2014.
Apenas na semana passada o contrato com a Fundação Getúlio Vargas, responsável pela seleção, foi assinado, mas sem definição da quantidade de vagas. Existem, nas escolas municipais da capital pernambucana, 250 alunos com necessidades especiais esperando por um estagiário. A justificativa da Secretaria de Educação para o problema é a dificuldade em encontrar estudantes do curso de pedagogia para atuar na rede.
Segundo a chefe da Divisão de Educação Especial da Secretaria de Educação, Lauricéia Tomaz, o que ficou combinado com a avó de Carla é que ela iria todos os dias, em um tempo menor, com a perspectiva de aumentar o período gradativamente, até a menina se adaptar. “Para o autista, a mudança de rotina é um processo difícil. Carla nunca estudou, é uma realidade diferente para ela. Como teve dificuldade na adaptação, sugerimos que fosse duas vezes por semana até ampliar e ficar todos os dias, o turno todo”, explica Lauricéia.
Lorena Frota, 30, madrinha de Carla, formalizou uma denúncia, pela internet, no Ministério Público Estadual. “Primeiro disseram que não havia vaga para Carla na escola. Depois arrumaram uma vaga. É lamentável que a escola não esteja preparada para receber um aluno especial. Ela tem direito, como todo cidadão, a frequentar a escola”, destaca Lorena.