Não haverá aula nesta quarta-feira nas unidades acadêmicas da Universidade de Pernambuco (UPE). Os ambulatórios dos três hospitais ligados à instituição – Oswaldo Cruz e Procape, em Santo Amaro, e Cisam, na Encruzilhada, todos na capital – estarão fechados. Suspender as atividades por 24 horas foi a maneira que alunos, professores e servidores encontraram para denunciar problemas como déficit de pessoal, infraestrutura precária e contigenciamento de recursos por parte do governo estadual.
Uma passeata sai do Oswaldo Cruz, por volta das 10h, em direção ao Palácio do Campo das Princesas, sede do Poder Executivo, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife. Lá, representantes do Sindicato dos Servidores, Associação dos Docentes e Diretório Acadêmico dos Estudantes entregarão ao governo uma pauta de reivindicações. “Com o orçamento que a UPE tinha até o ano passado (R$ 24 milhões) já estava difícil se manter, imagine agora com os cortes prometidos pelo Estado. Não podemos permitir que a universidade fique ainda mais sucateada”, diz a presidente do DCE, Thaynnara Queiroz.
“Servidores estão impedidos de entrar de férias ou gozar licença-prêmio porque faltam trabalhadores nos quadros”, denuncia o presidente do Sindicato dos Servidores, José Rosa. A crise nos hospitais aumentou com a contenção de despesas determinada pelo Estado, que estaria restringindo em no mínimo 30% o orçamento da UPE. “Enquanto isso, a demanda nos hospitais aumenta e há serviços paralisados. No Huoc, há cinco anos o setor de radioterapia espera pela inauguração”, afirma.
A Escola Politécnica de Pernambuco (Poli), na Madalena, tem cerca de 3.700 alunos de engenharia. Uma das queixas é o número insuficiente de cadeiras na biblioteca. O acervo também está defasado. “Em dias de prova faltam cadeiras porque a biblioteca fica lotada”, afirma Maria Alice Calazans, do 1º período de engenharia elétrica. Professor de matemática, Cláudio Maciel reclama das classes lotadas. “Como não há contratação de professor, as turmas ficaram maiores. A média era 60 a 65 alunos. Agora tenho turma com 90 estudantes”, lamenta.
O diretor da Poli, José Roberto Cavalcanti, reconhece os problemas e mostra preocupação. “Diante da exigência do Estado para que haja diminuição das despesas, tive que tomar algumas medidas. O ar condicionado, por exemplo, só fica ligados das 10h às 20h. Não funciona duas horas antes do turno noturno acabar. Contratos com as empresas de limpeza e de manutenção terão que ser reduzidos”, informa. Ele diz que não há dinheiro no momento para comprar mais cadeiras e livros.
Na Escola do Recife, unidade da rede estadual de ensino que funciona no prédio da Faculdade de Ciências da Administração de Pernambuco (FCAP), os alunos estão largando 10 minutos mais cedo também por causa da redução no consumo de energia elétrica. Segundo Viviane Macena, mãe de um aluno do 7º ano do ensino fundamental, a medida foi informada aos pais numa reunião na última segunda-feira. “Pode parecer pouco, 10 minutos, mas se juntar em uma semana é menos uma aula que os alunos deixam de ter”, reclama.
O diretor do câmpus Petrolina, Moisés Almeida, ressalta que com a falta de recursos estarão prejudicados e não acontecerão programas de pesquisa, extensão e de ensino. “O novo reitor, desde janeiro, quando assumiu, não faz outra coisa senão administrar a crise que está inviabilizando todas as suas propostas de ação. Por sua vez, os gestores das unidades da UPE veem suas administrações indo à bancarrota, pois nem sequer as despesas fixas poderão pagar”, destaca Moisés.
ORÇAMENTO - Segundo o reitor Pedro Falcão, o valor que o orçamento deste ano ainda está sendo negociado com o governo estadual. O teto estipulado pelo Executivo foi R$ 24 milhões (mesmo valor do ano passado), mas ele afirma que necessitará de pelo menos R$ 6 milhões a mais, ou seja, R$ 30 milhões. A UPE tem cerca de 19 mil alunos, além de 899 professores e 4.500 servidores.
“Estamos negociando com o governo, mostrando as necessidades da UPE. Não vejo, até agora, nenhuma possibilidade de paralisar as atividades acadêmicas no segundo semestre”, afirma Pedro Falcão. Rumores em várias unidades acadêmicas é de que se não houver repasse de dinheiro por parte do Estado, as aulas em agosto não terão condições de começar.
A UPE é vinculada à Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Inovação (Sectec). A titular da pasta, Lúcia Melo, informou, por meio da assessoria de imprensa, que não está estabelecido corte no orçamento da UPE. Diz que o montante de recurso a ser repassado pelo Estado para a universidade tem sido pauta de reuniões nas últimas semanas.