As cicatrizes no corpo e as sequelas morais causadas pela dependência do crack não deixam o jovem Douglas Moura, 24 anos, esquecer da luta que vem travando há dois meses. Refém do vício por quase dois anos, perdeu amigos, emprego e, sobretudo, o respeito por si mesmo. Hoje, ele e mais 43 jovens, entre 18 e 24 anos, buscam recuperar a dignidade e recomeçar a vida. Mas essa batalha corre risco de ser interrompida. A organização não governamental Comunidade dos Pequenos Profetas (CPP), que representa na vida deles o caminho de volta à realidade, pode fechar as portas. O convênio entre a instituição e a Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos corre o risco de não ser renovado.
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A incerteza, segundo o coordenador e fundador da ONG, Demetrius Demetrio, é resultado da falta de garantia do governo do Estado em repassar a verba para a entidade. Para o dinheiro ser liberado, a instituição precisa apresentar novo projeto e torcer por sua aprovação.
“O orçamento que tínhamos para manter o sítio, destinado à recuperação dos dependentes químicos, era até o fim de janeiro. Os jovens precisam do apoio da CPP e 29 funcionários dependem dos salários.”
De maio de 2010 a janeiro deste ano, 312 jovens passaram pelo Sítio Clarion, em Igarassu, Grande Recife. No espaço, não existem cercas nem muros. A única amarra é a força de vontade dos participantes. “Aqui, é 50% de iniciativa da gente e 50% dos educadores. Eles são nossa família”, afirmou Douglas, que tenta reconquistar a admiração da mãe e da filha.
Segundo os educadores, a situação dos jovens quando chegam à CPP é deplorável. “Estão distantes dos pais e perto da morte, rebeldes, traficando, roubando para manter o vício, dormindo nas ruas”, relata Demetrius.
HISTÓRIA - Há quase três décadas trabalhando com crianças e adolescentes expostos à criminalidade, a ONG nasceu com incentivo do arcebispo dom Helder Camara e é uma das mais antigas em atividade no Recife. No casarão, localizado na Avenida Sul, bairro de São José, área central, são atendidos por mês, em média, 350 moradores de rua. Além das refeições, são oferecidas aulas de alfabetização, oficinas de pintura, percussão, rodas de leitura e atendimento médico. “O espaço visa garantir e resgatar um pouco da cidadania dessas pessoas, através de um banho, prato de comida, conversa ou serviço de saúde.
Sobre o fim do convênio, a gerente do Sistema Único de Assistência Social do Estado, Rizete Costa, explicou que a secretaria estuda uma maneira de não prejudicar a ONG. “Temos grande interesse em manter o programa. Eles fazem um trabalho de referência internacional e nossa atenção maior é com as pessoas que estão em tratamento”, explicou. “O processo do edital está acelerado, para evitar a demora no repasse das verbas”, garantiu.
Quem quiser contribuir com a Comunidade dos Pequenos Profetas pode entrar em contato, através do 3424.7481 e conhecer um pouco mais do trabalho no site http://www.pequenosprofetas.org.br/