A lista oficial de pessoas atacadas por tubarão no Estado tem início com um caso ocorrido em 1992. Mas relatos de testemunhas e familiares de vítimas revelam que incidentes com esse tipo de animal em Pernambuco já aconteciam desde o início do século passado. No segundo dia da série de reportagens Ataque de tubarão: 20 anos, o JC mostra que a história do padre que morreu após um ataque em frente à Igrejinha de Piedade não é uma lenda.
Textos: Verônica Falcão e Carlos Eduardo Santos
Fotos: Hélia Scheppa/JC Imagem
Quando o assunto é ataque de tubarão, há sempre alguém que menciona a morte de um padre na frente da Igrejinha de Piedade, mesmo antes dos acidentes começarem a ser contabilizados, em 1992. Se é verdade? Os carmelitas, responsáveis pelo templo, atestam que sim.
“Era Serafim de Oliveira. Ele estava prestes a se consagrar frade quando, num dia de lazer dos postulantes, foi tomar banho de mar na frente da igrejinha. Assim que entrou na água, deu um grito e o tubarão o arrastou para o fundo”, relata frei Telésforo, nome religioso de Edvar Machado Cavalcanti, 89 anos, contemporâneo de Serafim.
O restos mortais do frade, que tinha acabado de completar 25 anos, hoje ocupam uma das 33 gavetas de um ossuário exclusivo de religiosos, por trás da sacristia da Basílica do Carmo, no Centro do Recife. Na lápide de mármore se lê: “Frei Serafim de Oliveira, 01-10-1922 a 10-10-1947.”
Frei Telésforo conta que estava em São Paulo, estudando teologia, quando o postulante foi atacado. “Outro frade que também mora aqui no Convento Carmo (ao lado da basílica), frei Teréseo Trindade, era da mesma turma e presenciou o ataque”, revela. O religioso, no entanto, está doente e os superiores do convento evitam expor frei Teréseo a emoções.
Um frade alemão chamado Afonso é quem teria conduzido o grupo até a igrejinha, que funciona como uma casa de férias dos carmelitas. Era uma sexta-feira. “A Segunda Guerra Mundial tinha acabado, mas o que se comentava na época é que a movimentação das embarcações americanas na costa do Nordeste atraía os tubarões”, lembra o carmelita.
Teréseo, segundo o frade, costuma contar que Serafim foi um dos primeiros a entrar na água. “Quando frei Afonso autorizou o banho, ele vestiu rapidamente o calção e saiu correndo para o mar. Assim que entrou soltou o grito e foi tragado pelo tubarão”, detalha.
Depois do ataque, o lugar passou a ser considerado um convento maldito, diz o antropólogo e professor da UFPE frei Tito Figueiroa, 72 anos. “Frades, postulantes, leigos, coroinhas, todo mundo que aproveitava o lugar para o descanso e lazer ficou com medo de ir pra lá”, lembra o religioso, que diz ter conhecido frei Serafim quando estudava catecismo.
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