Sobreviventes de um ataque de tubarão carregam sequelas para toda a vida. No corpo, as marcas da mordida dilacerante do peixe. E ainda o trauma psicológico, que causa distúrbios do sono por anos. Sem suporte do governo, quem conseguiu escapar da investida do animal luta para recomeçar a vida. Esse é o assunto desta terça-feira (26) na série de reportagens Ataque de Tubarão: 20 anos. Na quarta-feira (27), o JC mostra o que tem sido feito para evitar novos ataques e o impacto no turismo.
Fotos: Hélia Scheppa/JC Imagem
Texto: Carlos Eduardo Santos e Verônica Falcão
Há quem diga que um banho de mar lava até a alma e os que pegam onda garantem: não existe mal no mundo que um bom dia de surfe não cure. Mas foi de uma tragédia durante um mergulho inocente que a vida de 35 pessoas se cruzaram em Pernambuco. E deixaram marcas para sempre no corpo e na mente. Mutilados e sem nenhum apoio do poder público, os sobreviventes de ataques de tubarão nas praias do Estado ainda lutam para voltar a ter uma vida normal. Com distúrbios do sono – sintoma recorrente após ataque de tubarão –, eles esbarram no velho preconceito contra os portadores de deficiência física.
Desempregado e com um filho menor de um ano para criar, Wellington Luan dos Santos, 18 anos, lembra com detalhes do dia em que foi dar uma volta na Praia de Piedade com um amigo, há quatro anos. “Tinha comprado uma bicicleta e decidi ir à praia. Entrei sozinho e meu amigo ficou na areia. Fui muito para o fundo e só senti a pressão.”
Em uma só botada, o tubarão arrancou as nádegas e a mão direita do jovem, na época, com 14 anos. O ataque ocorreu próximo à Igrejinha de Piedade, em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. “Tinha pesadelos já no hospital. Acordava assustado. O ruim é que não posso ainda fazer coisas simples, como descascar uma maçã, cortar uma verdura”, lamenta o jovem, que mora de aluguel e sonha em voltar a estudar. Destro, Wellington precisou aprender a escrever com a esquerda e a andar de bicicleta com apenas uma mão. E não culpa o peixe, tanto que fez uma tatuagem de um tubarão no braço esquerdo.
Também desempregado e cursando direito na faculdade, Charles Heitor Barbosa Pires, 34, enfrentou uma dificuldade ainda maior, pois perdeu as duas mãos em ataque quando surfava, no mês de maio de 1999, em frente ao Edifício Acaiaca, em Boa Viagem, no Recife. Com a ajuda de um professor, o universitário entrou na Justiça para garantir o direito de receber próteses do Estado.
Charles ganhou a ação, já está com as próteses – que custaram R$ 654 mil e vieram da Escócia – e agora tenta recomeçar a vida. As mãos eletrônicas respondem a estímulos captados por eletrodos.
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