Desde que começaram a ser contabilizados os ataques, em 1992, surgiram propostas para manter os tubarões afastados da costa. Uma delas, que prevê a colocação de uma tela em forma de trave de futebol ao longo de 200 metros da orla, no início foi alvo de polêmica, mas agora está prestes a sair do papel. Conheça detalhes desse projeto e também saiba mais sobre o shark shield, equipamento usado pelos bombeiros para repelir tubarões, no quarto dia da série Ataque de tubarão: 20 anos.
Fotos: Hélia Scheppa
Texto: Carlos Eduardo Santos e Verônica Falcão
Do R$ 1,5 milhão que o governo do Estado orçou este ano às ações de pesquisa e educação ambiental para conter ataques de tubarão, R$ 385 mil bancarão o mais antigo e polêmico projeto: uma tela de proteção do litoral contra os animais.
Com 400 metros, a rede é uma reivindicação do Projeto Praia Segura, que inicialmente prestava assistência jurídica e psicológica às vítimas. A ideia é, no começo, montar o equipamento durante campeonatos de surfe. “Depois poderemos usar em feriadões, por exemplo”, diz o diretor da ONG, Sergio Murilo Santa Cruz.
A instalação da tela móvel, criticada por oferecer riscos a outros animais, como tartarugas-marinhas, na lista de espécies ameaçadas de extinção, está prevista para o próximo semestre. “O projeto já foi aprovado. Estamos na fase de liberação dos recursos”, diz o gerente de Articulação e Integração Institucional e Comunitária da Secretaria de Defesa Social (SDS), Manoel Caetano Cysneiros.
Depois de submeter a tela a três testes, com apoio da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), o Projeto Praia Segura decidiu diminuir a malha (distância entre os nós) para evitar o aprisionamento não só de tartarugas, mas também de pequenos peixes. “A primeira malha, que testamos em Tamandaré, em 2007, era de 50 milímetros. Agora usaremos 25 milímetros”, detalha Sergio Murilo.
A tela, feita de malha de poliamida – tipo de plástico – tem sete metros de altura. Como as marés mais altas não ultrapassam cinco metros no litoral Pernambucano, há uma margem de dois metros de segurança, evitando que o tubarão passe por baixo. “Ficará a 100 metros de distância da praia, presa ao fundo por correntes. Em cima tem boias que indicam a presença do equipamento”, descreve.
Os recursos do governo do Estado, que em 2010 e 2011 somaram R$ 1 milhão ao ano, são repassados, segundo Manoel Caetano, ao Instituto Oceanário, uma ONG com sede na UFRPE. A entidade, criada em 2004, é responsável pelas ações de educação ambiental nas praias. “Já realizamos mais de 1.500 palestras gratuitas em escolas públicas e privadas, além de empresas”, detalha o presidente da entidade, Alexandre Carvalho.
Duas vezes por mês, nos fins de semana de Lua cheia e nova, quando há maior incidência de ataque por conta da maré cheia, monitores do Instituto Oceanário vão a Boa Viagem e Piedade alertar os banhistas para os riscos. “São de 24 a 30 educadores ambientais, que passam por um treinamento para não só orientar as pessoas, como também desmistificar o tubarão, que muitas vezes é visto como um assassino dos mares, quando, na verdade, esse é o hábitat dele.”