Em Iati, casos de diarreia saíram de 40 para 571 em um mês

A pouca água que o município recebe é tratada de forma precária pelas mãos do próprio povo
Fabiana Moraes
Publicado em 29/07/2013 às 10:15


Faltou maca, cadeira, cama e espaço no hospital Nossa Senhora da Conceição, em Iati (Sertão), semanas atrás. Os funcionários tiveram que atender um número inédito de doentes, quase todos com forte diarreia. Acostumados a cuidar de cerca de 40 pacientes com DDA por mês, eles receberam 571. Segundo Kelyton Costa, do Departamento de Vigilância em Saúde, a água que abastece Iati vem de dois reservatórios, um em Saloá e outro em Paranatama. De lá, ela passa por uma estação de tratamento que está, segundo ele, desativada. A estação pertence ao município, cujo prefeito é Jorge de Melo Elias (PTB). O único tratamento é o cloro colocado pela Secretaria de Saúde da cidade no reservatório de 210 mil litros, além do hipoclorito que a população recebe (são necessárias duas gotas do produto para cada litro de água).

Nem todos, porém, recebem o produto ou são orientados pelos agentes de saúde. É o caso da comunidade do Retiro, área rural de Iati. Ali, no dia 24 de maio, morreu Ágata Maria de Jesus Silva, 2 meses. A mãe, Maria Jaqueline, 19 anos, se assusta quando é procurada pela reportagem. “Falaram que fui eu que matei minha filha.” Mas o que matou Ágata foi o racismo ambiental. A água usada na casa de Jaqueline, uma construção simples, de taipa, é fornecida pelo Exército e guardada em uma cisterna a poucos metros da casa da agricultora. “Ela estava mamando, mas parou. Comecei a fazer o leite usando a água que sempre bebemos e nunca tivemos problema.” A menina ficou doente no domingo. Na terça, passou a noite com diarreia. Foi levada para o hospital na quarta de manhã. Não havia médico. Foi então, com a mãe, de ambulância até Garanhuns, onde seria hospitalizada. Morreu no caminho.

Jaqueline, assim como os vizinhos, recebem com irregularidade a visita de agentes de saúde. Lucilene de Jesus Silva, 34, diz que a comunidade foi visitada há alguns dias, o que não acontecia desde outubro de 2012. “Só depois que muita gente aqui ficou doente é que eles vieram umas duas vezes.” Meire Cristina Barbosa, 37, mora na frente da casa de Jaqueline, também diz não receber visitas ou hipoclorito dos agentes. Seus cinco filhos ficaram doentes há poucas semanas, dois deles durante mais de 8 dias. Tiveram sorte: eram maiores (5 e 9 anos) que várias das crianças que terminam morrendo. A mãe não deu remédios – não tinha dinheiro para isso – e investiu em chás. “Aqui nós melhoramos com o tempo mesmo, sabe?”

DUAS GOTAS - Também moradora da área rural de Iati, Marluce da Silva, 40, recebe o hipoclorito regularmente. Confessa que passou tempos usando para outros fins, como limpar a casa (quando ficava sem água sanitária). “Começamos a ficar doentes da barriga, eu, meu marido e meus três filhos. E não foi só uma vez, foram várias.” Marluce começou a usar o hipoclorito e os resultados foram rápidos: há um mês ninguém da sua família apresentou os sintomas da DDA. “Agora eu falo para o pessoal usar também. Lá no sítio, tem muita gente ficando doente.”

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