Jardins de Burle Marx resgatados em livro

Produção do famoso paisagista para a região pode ser conferida numa pequisa da UFPE
Cleide Alves
Publicado em 04/08/2013 às 20:19


O paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) assina cerca de 500 projetos de jardins públicos e privados no Brasil. Pelo menos 124 foram desenhados para cidades nordestinas – incluindo o Recife – e 95 tiveram as obras executadas. A produção do famoso paisagista para a região pode ser conferida no livro "Jardins de Burle Marx no Nordeste do Brasil", com lançamento programado para as 18h30 de terça-feira, no Museu da Cidade do Recife (Forte das Cinco Pontas), no bairro de São José, Centro.

Três pesquisadores do Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) organizaram o livro, que conta com a participação de outros 16 estudiosos do tema dos Estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Piauí e Rio Grande do Norte. No Nordeste, Burle Marx só não fez projetos para Sergipe, informa a arquiteta Ana Rita Sá Carneiro, uma das coordenadoras da publicação. Ela divide o trabalho com a também arquiteta Aline Figueirôa e o biólogo Joelmir Silva.

O livro está dividido em oito capítulos e cada um deles resgata, no máximo, dois trabalhos do paisagista. A pesquisa revela a forte atuação de Burle Marx em projetos de jardins para palácios de governo, com exemplos em Pernambuco, Paraíba, Piauí, Maranhão e Alagoas. Mas não é o Campo das Princesas o destaque das páginas dedicadas a Pernambuco, na nova publicação. Os pesquisadores contam a história do jardim projetado para o entorno da Capela de Nossa Senhora da Conceição, no Parque da Jaqueira, Zona Norte do Recife.

“Não sabemos até que ponto o projeto foi implantado na Jaqueira. Hoje, encontramos o banco em formato sinuoso e vestígios da vegetação, palmeiras e arbóreas”, diz o biólogo Joelmir Silva. “As arbóreas, como mangueira, sapotizeiro, coqueiro e macaibeira, já existiam por trás da capela e ele sugeria que fossem mantidas e consideradas no projeto”, conta o pesquisador.

O projeto foi doado ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 1951, diz Ana Rita. “Burle Marx sempre respeitou os monumentos existentes no terreno, quando fazia os projetos. O jardim da capela da Jaqueira foi feito para o prédio, isso fica evidente nas proporções, cores, escala, harmonia e altura. Ele cria o ambiente no entorno para o monumento ser visto”, afirma a arquiteta.

Além do jardim, o paisagista projetou uma área recreativa, com uma quadra de vôlei e basquete, tubos coloridos de concreto para brincadeiras infantis, caixa de areia e gramado para jogos coletivos. O banco sinuoso dividia o parque do jardim contemplativo.
Maranhenses mostram os jardins do Palácio do Leões, sede do governo do Estado, em São Luís. Baianos falam sobre a Praça 15 de Novembro, mais conhecida como Terreiro de Jesus, na área histórica de Salvador. Piauienses mostram a Praça Monumento da Costa e Silva, em Teresina, uma parceria de Burle Marx com o arquiteto Acácio Gil Borsoi (1924-2009).

“Muitos dos projetos que ele fez para o Nordeste, na década de 70, foram desenvolvidos a convite de Borsoi”, comenta Ana Rita. O paisagista criou 58 projetos de jardins públicos e privados para Pernambuco, dos quais seis nunca foram executados. A produção de Burle Marx também chegou a países como Venezuela, Argentina, Chile, Peru, Equador, França e Tóquio, entre outros países.

O lançamento do livro faz parte da programação da Semana Burle Marx, instituída pela Lei Municipal nº 17.571/2009. É uma iniciativa da Prefeitura do Recife para celebrar o aniversário de nascimento do paisagista, nascido em São Paulo em 4 de agosto de 1909. Ele trabalhou na cidade nos anos 30. A programação começou ontem e se estende até sábado, com seminário, palestra e visita a praças.

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