Caminhos que não levam à escola

Ônibus escolares do interior são usados para trazer pacientes ao Recife
Marcela Balbino
Publicado em 20/10/2013 às 9:58
Ônibus escolares do interior são usados para trazer pacientes ao Recife Foto: Foto: Diego Nigro/JC Imagem


Os ônibus que deveriam conduzir à escola levam ao hospital. Nas poltronas, no lugar das crianças, pessoas doentes. Municípios do interior do Estado estão descumprindo o acordo firmado com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e, ao invés de facilitar o percurso dos alunos às áreas de difícil acesso, os coletivos do Programa Caminho da Escola trazem ao Recife pacientes para consultas médicas. Em dois dias, foram flagrados 12 veículos, de dez cidades diferentes, nas portas dos principais hospitais públicos da capital.

Logo cedo, por volta das 5h, tem início a saga pelos hospitais. Os ônibus amarelos, com faixa preta e letras garrafais com a palavra "Escolar", são vistos por vários pontos da cidade. Percorrem Santo Amaro para deixar pessoas no Hospital do Câncer e na Santa Casa de Misericórdia. Cruzam a Avenida Caxangá até o Getúlio Vargas. A Praça Miguel de Cervantes, na Ilha do Leite, Centro do Recife, transforma-se em estacionamento dos coletivos, enquanto os pacientes aguardam o atendimento no Instituto de Medicina Integral (Imip).

Semana passada foram vistos veículos de Jataúba, Tamandaré, Água Preta, São Joaquim do Monte, Nazaré da Mata e Iati deixando pacientes no Imip. Embaixo do viaduto próximo ao Shopping Tacaruna havia um coletivo de Joaquim Nabuco. O motorista dormia no veículo e explicou que o ônibus escolar foi usado porque os carros do Tratamento Fora do Domicílio (TFD) estavam em manutenção. "São oito ônibus (do Caminho da Escola) e apenas um deles está sendo destinado aos pacientes", justifica. O prefeito da cidade, João Nascimento de Carvalho, foi procurado pela reportagem, mas informou não saber do caso. Ele disse que buscaria informações, mas não retornou nem atendeu as ligações. Postura semelhante foi adotada pelo prefeito de Jataúba, Antônio Cordeiro. "Não tenho nenhum conhecimento sobre isso", declarou Cordeiro.

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